O termo nomadismo digital surgiu em 1997 e, desde então, tornou-se uma tendência entre as pessoas que desejam flexibilidade para conhecer o mundo sem ter que deixar de trabalhar. Com a necessidade do isolamento social por conta da pandemia de coronavírus, era esperado que esse estilo de vida tivesse diminuído seu crescimento.
Os números realmente mostraram uma queda, mas foi possível observar também outro dado interessante: segundo o Airbnb, empresa de aluguel de espaços e quartos, a procura por espaços com maior contato com a natureza, em tempo estendido, mas sem abrir mão da conexão com a internet, aumentou. E isso também é uma tendência.
De acordo com relatório de tendência da Euromonitor International, no momento pós-pandemia, as pessoas buscarão cada vez mais lugares ao ar livre, seja para lazer ou para trabalho.
Levando em consideração todos esses pontos, é esperado que o nomadismo digital volte como uma tendência no pós-pandemia. “As pessoas estão esperando muito pelo momento de saírem de casa, respirar ar fresco, dado todo o momento que passamos. E muitos perceberam que é possível trabalhar fora do escritório, algo que era muito difícil de acontecer antes”, explica Iza Dezon, expert em tendências e fundadora da Dezon, empresa de consultoria estratégica, criativa e colaborativa.
O trabalho pós-pandemia
Depois de um ano e meio trabalhando de casa, muitas empresas já ensaiam o retorno para o trabalho presencial. Gigantes da tecnologia já anunciaram o retorno em formato híbrido e flexível, mas ainda necessitam que seus funcionários estejam presentes pelo menos alguns dias da semana. A Amazon, por exemplo, não abriu mão da presença de seus engenheiros de hardware no escritório.
Se até os gigantes retornarão ao escritório, empresas menores também acreditam nessa necessidade, mas podem sofrer uma resistência de seus funcionários. Segundo pesquisa realizada pela Revelo, empresa de recrutamento, em parceria com o Estadão, 69% dos candidatos valorizam mais horário flexível e possibilidade de home office do que ter um aumento de salário. Muitos viram no home office uma oportunidade de ter mais tempo para si e para sua família, e empresas e recrutadores podem ter dificuldade em reter esses talentos, que não querem abrir mão desse conforto para enfrentar algumas horas de trânsito todos os dias, por exemplo.
“As pessoas que trabalharam home office nesse período perceberam que conseguem, sim, fazer seu trabalho e as tarefas em equipe à distância. Isso faz com que eles criem essa preferência e passem a buscar, também, empregos que se alinhem a isso”, diz Iza Dezon.
“Com isso, o nomadismo digital pode ganhar mais adeptos no fim da pandemia, pois combina duas tendências importantes: a da busca por mais liberdade e espaços ao ar livre, algo difícil de conseguir estando em uma grande cidade, e do próprio trabalho feito remotamente”, explica.
Anywhere office
Como home office foi a saída encontrada por muitas empresas para continuarem trabalhando a distância, muitas pessoas viram que sua produtividade não dependia da presença do escritório – e nem da sua casa.
O Airbnb, empresa que facilita o aluguel de espaços em todo o mundo, viu o número de buscas por espaços próximos à natureza crescer, mesmo em tempos de pandemia. Depois de um tempo dentro de casa, muitos começaram a procurar opções para manter o isolamento e respirar ar puro.
“Vale dizer também que, com muitas fronteiras fechadas para os brasileiros, muita gente começou a procurar por lugares no próprio Brasil, o que muitos nômades digitais não faziam antes. Isso também contribui com o próprio turismo por aqui, além de tornar possível esse nomadismo mais próximo, para quem não tem toda a segurança ou o dinheiro de ir para outro país”, afirma Iza Dezon.
Com isso, o home office talvez tenha que dividir espaço com o anywhere office, ou seja, o escritório em qualquer lugar do mundo. “Acho importante dizer, também, que estamos falando de uma realidade de inúmeros privilégios, de pessoas que podem abrir mão do emprego que não dê a flexibilidade que desejam, que têm o dinheiro para alugar outro lugar e viajar, entre outros detalhes”, salienta.
Nomadismo digital como estilo de vida
Um desses detalhes é exatamente o tipo de profissão que se é possível ter para manter esse estilo de vida. “Não são todas as atividades que podem ser levadas dessa maneira, até porque muitas dependem da presença ou, pelo menos, de seguir certos horários de produção”, afirma trend expert.
“Quando se fala em nomadismo digital, nós estamos falando também de uma nova maneira de levar a vida, não apenas o trabalho”, afirma a fundadora da Dezon. Para ela, esse estilo de vida traz consigo, principalmente, a flexibilidade. Não é apenas sobre onde morar, mas também suas horas ocupado. Hoje nós seguimos muito o modelo de ‘horário de fábrica’, ou seja, entrar tal hora e sair só no fim da tarde. Isso nem sempre é interessante para quem deseja ser nômade”, diz Iza Dezon.
Mas é exatamente por conta dessa flexibilidade e liberdade que o nomadismo digital ganha cada vez mais adeptos e o mercado de trabalho, mostram as tendências, tende a se adaptar, na medida do possível.
Para Iza Dezon, é preciso, antes de tudo, que as empresas confiem em seus colaboradores. “O próprio home office já poderia ter acontecido muito antes se houvesse essa confiança. Com o nomadismo digital, isso se torna ainda mais necessário. Esse é um ponto primordial para empresas se adaptarem e conseguirem reter esses talentos que querem viver um estilo de vida diferente”.
O nomadismo digital pode até não ser uma novidade, mas o momento pós-pandemia pode tornar esse movimento ainda maior em todo o mundo. “Na verdade, o nomadismo deu uma pausa em alguns momentos da pandemia, não quer dizer que ele acabou, muito pelo contrário, as pessoas querem sair de casa e aproveitar o lado de fora”, conclui.
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