Na última semana, o Grupo SBF, controlador da Centauro, anunciou a compra da Nike no Brasil (falamos disso por aqui, clique para ler). O acordo dá à empresa brasileira o controle da distribuição de produtos Nike no País, lojas físicas e e-commerce por 10 anos.
O negócio de R$ 900 milhões movimentou o mercado. Não à toa, as ações do Grupo SBF vêm crescendo desde o anúncio feito na quinta-feira (6).
Contudo, existe preocupação quanto a uma possível interferência na distribuição dos produtos Nike para varejistas concorrentes da Centauro.
Por um lado, a varejista de artigos esportivos ganharia em participação de mercado com a prioridade na distribuição de produtos como tênis e camisetas. Por outro, o movimento seria um tiro no pé para o grupo, que tem agora a Nike Brasil como uma unidade de negócio independente.
Em entrevista à NOVAREJO, Pedro Zemel, CEO do Grupo SBF, disse que Centauro e Nike continuarão a operar com independência:
“Para garantir a independência dos negócios, é importante enfatizar que o grupo passa a atuar como uma holding, com a Centauro e a Nike do Brasil como unidades de negócios completamente separadas em seu guarda-chuva.
Isso garantirá que as operações sejam estruturadas, gerenciadas e desenvolvidas de forma independente. Ou seja, Centauro e Nike seguirão operando junto aos seus demais parceiros com total comprometimento e sem interferência entre os negócios”.
A negociação ainda precisa da aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) mas, como explica Zemel, o Grupo SBF já estruturou a chegada da Nike do Brasil pensando na empresa como uma unidade de negócio independente.
Para Luiz Claudio Dias Melo, sócio-diretor da divisão de varejo da consultoria 360 Varejo, não faria sentido que o novo dono da Nike do Brasil criasse grandes dificuldades para os concorrentes, já que com isto a empresa perderia dinheiro no negócio de distribuição.
“O Grupo SBF tem, obviamente, metas a serem cumpridas. Porém, por outro lado, existe uma rede varejista, que faz parte do seu core business. A questão é: até que ponto haverá neutralidade?”, questiona.
Outro ponto importante: com a exclusividade na distribuição dos produtos Nike no Brasil, a Centauro passará a ter margens melhores nos artigos produzidos pela norte-americana. Sem intermediários, a rede varejista poderá se beneficiar de um custo menor que seus concorrentes.
Para entender melhor a estratégia por trás da compra da Nike do Brasil, a NOVAREJO conversou com o Pedro Zemel, CEO do Grupo SBF. Confira:
NOVAREJO – Quais resultados o Grupo SBF espera após a negociação?
Pedro Zemel – Com a Nike, uma marca tão poderosa, o Grupo SBF vê uma oportunidade de continuar comprometido em desenvolver o ecossistema do esporte brasileiro, servindo ainda mais a comunidade esportiva.
NOVAREJO – Como ficam as parcerias com outras lojas?
PZ – Não podemos abrir nenhum plano concreto com antecipação, até porque somos uma empresa de capital aberto e por diretrizes não podemos fazer projeções. O que podemos dizer é que estamos sempre olhando o mercado, atentos a oportunidades que tenham sinergia com a nossa missão de aprimorar o ecossistema do esporte no país.
NOVAREJO – Ainda que Centauro e Nike sejam unidades de negócio separadas, haverá integração entre os canais de venda das marcas?
PZ – Não. Para garantir a independência dos negócios, é importante enfatizar que o grupo passa a atuar como uma holding, com a Centauro e a Nike do Brasil como unidades de negócios completamente separadas em seu guarda-chuva. Isso garantirá que as operações sejam estruturadas, gerenciadas e desenvolvidas de forma independente. Ou seja, Centauro e Nike seguirão operando junto aos seus demais parceiros com total comprometimento e sem interferência entre os negócios.
NOVAREJO – Quando começaram as negociações?
PZ – A Nike é nossa parceira há mais de 20 anos. Sempre olhamos para possíveis oportunidades que estreitassem nossa parceria. O que podemos dizer é que as conversas se afunilaram nos últimos meses.
NOVAREJO – Como se dará a integração da Nike à operação do Grupo SBF? Em quanto tempo os colaboradores Nike estarão integrados ao grupo?
PZ – A transição se dará de forma muito suave. A Nike permanecerá em sua sede, na Lapa. Com a aprovação do CADE e o cumprimento de todas as condições previstas, espera-se que a transição comercial e operacional seja concluída em meados de 2020.
Ganha-ganha
A Centauro tem a capacidade de aumentar a distribuição dos produtos da Nike por conhecer bem o mercado, entender todas as dificuldades logísticas e tributárias que uma operação nacional traz, avalia Luiz Claudio Dias.
“Do ponto de vista do mercado brasileiro foi uma belíssima tacada no Grupo SBF. A Nike é marca líder, de maior prestígio. É a marca que dita as cartas do mercado. O movimento faz total sentido”, afirma Dias.
Já a Nike está livre para focar apenas na parte estratégica.
O marketing da empresa norte-americana é referência mundial e, não à toa, a marca é uma das responsáveis por ditar o que é tendência no concorrido mercado de artigos esportivos.
Entregando a parte operacional do negócio a um parceiro que entende do mercado brasileiro a Nike pode voltar seus esforços à manutenção e crescimento de sua marca.
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