Cometer uma infração de trânsito se tornou uma ideia especialmente ruim em 2016: as multas ficaram, em média, 68,3% mais caras no país.
Este foi o item que teve a pior variação de preço no ano passado, desconsiderando-se alimentação em domicílio, segundo levantamento feito pela Consumidor Moderno com base nos dados do IPCA, o índice de inflação oficial do IBGE, divulgados nesta quarta (11). Veja o gráfico ao fim.
A conta de água (20,1%) e os medicamentos para problemas estomacais, os chamados gastropotetores (17,6%), vêm na sequência como os itens que mais encareceram no ano.
Na primeira, a culpa está em São Paulo, onde, além de um reajuste de 8,5%, os consumidores também deixaram de receber os bônus de até 20% que vinha sendo concedido nas contas de quem economizasse desde o estouro da crise hídrico por que passou o Estado em 2014. Como resultado, os paulistanos saíram de 2016 pagando uma fatura em média 52,3% maior do que em 2015.
Já os gastropotetores foram só a ponta do grupo que mais avançou no ano. A categoria de saúde e cuidados pessoais, que reúne medicamentos, planos de saúde e serviços médicos, subiu 11,04%, para uma inflação total que foi de 6,29%.
Isso, aliás, pouco surpreende os especialistas: em anos de crise, é normal que o setor de saúde continue rodando como se nada tivesse acontecido, já que é um bem extremamente essencial. Uma pessoa que tenha diabetes, por exemplo, pode até parar de comer. Mas ela não deixará de tomar seu remédio.
Multas em alta velocidade
No caso das multas, a alta foi resultado de reajustes de 52% a 66% promovidos em novembro pelo governo no valor das cobranças, de acordo com o nível de infração. Algumas modalidades não sofriam aumento havia 14 anos.
A infração leve, por exemplo, foi de R$ 53,20 para R$ 88,38, alta de 66%, enquanto as gravíssimas passaram de R$ 191,54 para R$ 293,47 (53% mais). Algumas infrações, inclusive, foram revistas – caso do ato de usar o celular durante o voltante, que foi alçado de infração média (R$ 85,13) a gravíssima (R$ 293,47). Neste caso, o valor mais que triplicou.
O preço do cigarro (15,04%), do cafezinho (15,78%) e das televisões (16,12%) são exemplos de alguns outros pequenos prazeres que em 2016 ficaram mais caros.
As pechinchas
Na outra ponta, há coisas que saíram mais baratas de 2016. E uma das conclusões é que passear pode estar mais em conta. O preço das passagens de avião, por exemplo, estão hoje 4,88% menores, e os de hoteis baixaram em média 6,25%, mesmo com as Olimpíadas no meio da história.
Ingressos para jogos também estão ente os dez itens com as maiores quedas de preço, com redução de 4,62%. Móveis infantis, colchão e o automóvel usado são outros exemplos. Todos ligados a lazer ou bens de consumo, refletem claramente a queda do consumo em um ano de recessão.
Com um regime de chuvas que ajudou as hidrelétricas, a conta de energia elétrica residencial foi o item que teve maior redução em 2016, com redução de 10,7%.
O levantamento desconsiderou o grupo de alimentação em domicílio, que considera todos os alimentos comprados em supermercado, como carnes, hortaliças ou cereais, e sofre forte influência de elementos externos como clima e chuvas.
De volta para a meta
A inflação geral de 2016 fechou o ano em 6,29%, o que, em condições normais de tempo e pressão, é muito. Mas como significou uma redução drástica em relação ao que vinha acontecendo pode ser vista com bons olhos.
Em 2015, a inflação havia sido de 10,67%, muito acima da meta estipulada pelo Banco Central como saudável, uma banda que vai de 2,5% a 6,5%, com o alvo ideal em 4,5%.
Voltar para dentro desta margem significa que, depois de um descontrole de preços que tornou a vida de todo o mundo perceptivelmente mais cara nos últimos anos, a recessão por que passa o Brasil finalmente está mostrando os efeitos de seu balde de água fria.
Na prática, isso significa que os juros já podem ser mais baixos do que estão hoje e, com sorte, chegarem a patamares que voltem a estimular investimentos e crescimento econômico,
Veja as maiores e menores variações do ano: