Um conceito novo tem surgido em consultórios de psicologia e psiquiatria ao redor de todo o mundo. Pacientes têm apresentado os sintomas tradicionais de ansiedade, depressão e síndrome do pânico, mas com raízes diferentes das habituais: são consequências do estresse causado pelas notícias aterradoras sobre as mudanças climáticas no planeta.
O transtorno foi chamado de eco-ansiedade e, por se tratar de um problema relativamente novo, não há estatísticas disponíveis sobre a sua predominância. No entanto, a Associação Psicanalítica Internacional reconhece a mudança climática como “a maior ameaça à saúde global do século 21.”
O terror climático como diagnóstico
A revista Psychology Today descreveu a eco-ansiedade como “um distúrbio psicológico bastante recente, que afeta um número crescente de indivíduos que se preocupam com a crise ambiental”.
Embora o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) ainda não inclua este distúrbio como um diagnóstico específico, cada vez mais pessoas relatam, em consultórios, altos níveis de estresse devido às mudanças climáticas, com sintomas que incluem ataques de pânico, pensamentos obsessivos, perda de apetite e insônia.
Como é ter eco-ansiedade?
De acordo com a ONU, o planeta tem menos de 11 anos para evitar mudanças ambientais catastróficas.
As queimadas da Amazônia, morte de rios, aumento do nível do mar, desaparecimento de corais e diversas espécies pelo mundo estão causando, de acordo com o glossário da American Psychological Association, profundos sentimentos de perda, desamparo e frustração às pessoas, devido à incapacidade de sentir que estão fazendo a diferença na interrupção das mudanças climáticas.
Para a ativista ambiental Kira Simpson, da The Green Hub, os sintomas da eco-ansiedade abrangem “uma dor imensa envolvida no reconhecimento das realidades do aquecimento global.”
Qual é o perfil dos pacientes?
A psicóloga londrina Roxana Rudzik-Shaw contou ao portal NetDoctor que Millennials são os pacientes mais comuns a apresentarem problemas de eco-ansiedade, por já carregarem sintomas de ansiedade anteriores, que podem piorar devido às notícias, imagens e vídeos compartilhados nas redes sociais e na mídia em geral.
Assim como a estudante sueca Greta Thunberg, de 16 anos – que fundou uma greve escolar pelo movimento climático em 2018 – muitas crianças e adolescentes têm manifestado sentimentos de pavor pelas alterações climáticas, aumentando o número de pacientes jovens que recebem esse tipo de tratamento, bem como seus pais, que se sentem estressados com o sofrimento dos filhos.
Caroline Hickman, executiva da Climate Psychology Alliance do Reino Unido, disse ao The Telegraph que o número de pais que deu entrada em tratamentos de terapia, pedindo ajuda com seus filhos eco-ansiosos, aumentou muito no último verão do hemisfério norte.
O que pode ser feito?
Além dos métodos já conhecidos de psicoterapia, que são eficientes no tratamento de ansiedade, existe um campo emergente da psicologia que pode ser uma resposta interessante aos sintomas de eco-ansiedade: a ecopsicologia, que busca estudar a conexão emocional entre os indivíduos e a natureza, buscando estilos de vida mais adequados.
Eco-psicólogos desenvolvem métodos de motivação positiva em seus pacientes, para que haja a adoção de práticas sustentáveis sem o despertar de sintomas obsessivos.
Além disso, os eco-psicólogos integram práticas de ecologia e psicologia para afastar as emoções negativas causadas pelo impacto climático, como culpa e ansiedade, oferecendo insights importantes sobre cognição, bem-estar psicológico e a experiência humana em geral.
A eco-psicóloga e psicoterapeuta junguiana Mary-Jayne Rust contou à revista New Scientist que sugere a seus pacientes que vivam mais alinhados de acordo com seus valores, para que as taxas de ansiedade diminuam.
Segundo ela, praticar técnicas de reciclagem ou até mesmo tomar frente em projetos ativistas fazem com que o sentimento de culpa tão presente entre eco-ansiosos diminua.
O projeto ativista The Green Hub sugere ainda que as pessoas que apresentam esses sintomas aumentem o seu contato com a natureza, para reviver sua conexão com a beleza da natureza que ainda temos presente.
De acordo com o projeto, imersões constantes na natureza ajudam indivíduos a se manterem inspirados e motivados, além de reduzir os sintomas negativos da eco-ansiedade.
Uma participante do projeto sugere, também, que as pessoas com o distúrbio foquem mais nas coisas positivas que podem fazer pela natureza do que só pensar naquilo que não podem fazer, pois assim poderão se sentir mais esperançosos.
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