Assim que uma nova tecnologia chega ao mercado, ela também é rapidamente adotada por pessoas interessadas em cometer crimes. E sim, isso está acontecendo agora com a adoção das IAs generativas, tais como o ChatGPT. É provável que novos crimes financeiros estejam sendo criados nesse exato momento. É o que defende Joe Rubinstein, CEO da Hummingbird, empresa que combate crimes financeiros, com ênfase nos delitos digitais. Sua especialidade é detectar fraudes e lavagem de dinheiro em bancos, neobancos e fintechs.
Atualmente, 78% dos americanos fazem transações bancárias online. Oito em cada 10 usam uma ferramenta financeira digital. Não é de admirar que as tentativas de fraudes digitais tenham aumentado 80% nos últimos cinco anos. Garantir que os dados e o dinheiro estão seguros e protegidos é fundamental e, para combater a fraude, deve ser implementada uma combinação de políticas inteligentes e soluções tecnológicas, desde a identificação digital até métodos de autenticação mais robustos. Quais os tipos de políticas ajudam e o que pode nos impedir na luta contra a fraude?
No Brasil, em 2022, 54% dos brasileiros entre 18 e 35 anos já utilizavam algum banco digital como sua principal instituição financeira. Já em dezembro de 2022, apenas 42,7% dos pagamentos considerando pessoas físicas e jurídicas tinham como destino os cinco maiores bancos – uma queda de 57% em cinco anos. Os números foram levantados no estudo “Marketshare de bancos 2023” que analisou um montante de 29.680.808 transferências bancárias realizadas pela Transfeera entre abril de 2017 e dezembro de 2022.
Atualmente, apenas 3% das transações realizadas no país são feitas com dinheiro vivo. Pix, cartões e transferências bancárias respondem pelos outros 97%. O destaque fica por conta do Pix, instrumento de transferência lançado pelo Banco Central em novembro de 2021, que teve um efeito espetacular na inclusão financeira. Já são 650,7 milhões de chaves Pix em uso e 153 milhões de usuários cadastrados, sendo 92% pessoas físicas. Mais de 150 milhões de transações são realizadas diariamente na modalidade.
Mergulhando no mundo da fraude
Com tamanha adoção digital, muito evidente em países emergentes como Brasil, Indonésia, Índia, os riscos inerentes à essa mudança de comportamento crescem de maneira significativa. Exatamente por isso que o futuro da prevenção a fraudes e crimes digitais reside no online, desde identidades digitais até novos métodos de autenticação.
Os painéis do Money20/20 trouxeram muitas ideias nesse sentido. De que forma é possível orientar as pessoas a enfrentarem suas vulnerabilidades e não se deixarem enganar pelas suas emoções? As instituições financeiras têm de produzir e oferecer conteúdo de forma exaustiva para orientar os clientes a perceberem e anteciparem fraudes e golpes.
A utilização de tecnologias é essencial para colaborar com autoridades políticas e de estado para identificar polos de crime organizado, aplicando inteligência para se infiltrar mesmo nessas redes. Acessar a dark web, por exemplo permite mapear como os fraudadores e criminosos abordam as pessoas comuns e como as empresas estão de fato vulneráveis por dados vazados. O uso de IA generativa e Machine Learning permitem coletar informações que ajudam sensivelmente empresas a enfrentar de modo mais robusto as tentativas de fraude.
Tecnicamente, sistemas de IA permitem infiltração silenciosa e com risco muito baixo de dano colateral na esfera das quadrilhas digitais. As aplicações de autenticação de identidade vão receber investimentos massivos. Nada será tão decisivo quanto criar sistemas que validem autenticação e reconhecimento de identidades.
Esses sistemas vão muito além da identificação biométrica atualmente conhecida, até porque há limites para compartilhamento de informações pessoais. Criar mecanismos de token que preservem identidades e, ao mesmo, permitam validar com assertividade os dados de uma determinada pessoa, são um campo promissor de pesquisa. No fim do dia, quem poderá se aborrecer e sofrer com produtos que não respondam à sua busca, é justamente o consumidor.
Qual é a geografia das fraudes digitais?
À medida que a tecnologia avança e conecta pessoas a uma velocidade incontrolável em todo o mundo, os fraudadores aproveitam a natureza da internet para perpetuar crimes que abrangem vários países e jurisdições. Todos sabemos que as abordagens tradicionais de prevenção e detecção de fraudes são insuficientes. As empresas e organizações devem adotar uma abordagem mais global e colaborativa à prevenção da fraude, aproveitando tecnologias avançadas e análise de dados para identificar tendências para além de suas fronteiras.
Para além da mera perspicácia tecnológica, é fundamental reconhecer os cenários culturais e jurídicos existentes nas diferentes regiões para combater eficazmente a fraude digital. Isto requer uma compreensão profunda das regulamentações locais, práticas comerciais e normas sociais, bem como a capacidade de adaptação rápida às condições em mudança.
Então, como reconhecemos os vários tipos de fraude que existem em diferentes partes do mundo, os fatores culturais que contribuem para a sua prevalência e a tecnologia que os permite? Esse é o trabalho de Ron Atzmon, CEO da AU10TIX, empresa líder global de tecnologia de verificação automática de identidade, alimentada por machine learning de ponta e IA.
O executivo mostrou dados que ilustram o alcance das fraudes financeiras mundo afora. Ron Atzmon explica que existem fraudes amadoras e fraudes profissionais. Estas são organizadas, consistem em ataques difíceis de de antecipar e detectar, são não recorrentes e destroem pistas e indícios rapidamente.
O mercado americano é o grande líder em ataques cibernéticos e fraudes financeiras digitais, seguido pela Europa e Ásia.
Interessante observar como fotos falsas, número de identidade e dados pessoais são tipos de fraudes comuns no mundo todo. Ou seja, a porta de entrada para a fraude sempre reside na falta de cuidados do usuário com suas informações pessoais. Em tese, parece ser absurdo culpar as vítimas pelo crime que sofreram, mas nesse caso é relevante considerar que o cuidado débil com as próprias informações é uma oportunidade para os fraudadores.
Segundo Ron Atzmon, cópia e falsificação de identidade são crimes comuns em todos os continentes. Quando olhamos para os mercados-alvo, claro que a América do Norte, EUA à frente, é o mais lucrativo porque gigantescas quantias de dinheiro giram ali todos os dias. E o modelo de identidade norte-americano é muito suscetível a fraudes, o que serve de estímulo para o crime organizado, que detecta esses pontos fracos, e tem aí o incentivo ideal para o crime. Ou seja, a nova fronteira de desenvolvimento de tecnologia é o de autenticação e validação digital.
E no Brasil?
Estudo realizado pela AllowMe com a OLX no Brasil analisou mais de 20 milhões de contas de plataformas digitais e aponta que os crimes digitais, os cybercrimes, provocaram prejuízos superiores a R$ 550 milhões, com alta concentração do golpe chamado de “compra confirmada”, de depósitos realizados de maneira fraudulenta para compra de produtos. O estado de São Paulo responde por 41% das fraudes registradas e os homens são as maiores vítimas (73%).
Takeaways do Money20/20
- A prevenção de fraudes na indústria financeira está na mira da regulação;
- A prevenção da fraude depende diretamente da adoção de IA e Machine Learning, porque a habilidade do cybercrime continuará em expansão;
- Investimento massivo em sistemas de reconhecimento, autenticação e validade de identidade, para além da biometria;
- O cybercrime está disseminado globalmente com liderança absoluta dos EUA;
- O cybercrime é essencialmente organizado, dificílimo de ser rastreado e opera como uma máfia, atuando em diversos mercados simultaneamente;
- Para resgatar a confiança do consumidor, é necessário investir em Informação cuidadosa e frequente, para orientar e prevenir ataques.