Enquanto muitas empresas já vêm buscando se adaptar ao conceito ESG perante os desafios da sociedade, um setor ainda precisa, urgentemente, adequar seus processos em relação às questões ambientais, sociais e de governança: o da moda. Adotar ações sustentáveis torna-se indispensável, uma vez que a indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo.
Em um estudo realizado pelas consultorias Future Impacts e 4CF, apenas 25% dos especialistas da indústria da moda entrevistados acreditam nas práticas sustentáveis desse setor, porém a estimativa é que o impacto só seja percebido daqui a, aproximadamente, 20 anos. Só no Brasil, são descartadas 170 toneladas de resíduos têxteis por ano, segundo dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Se os números são abstratos demais para chocar, nos últimos meses as imagens do lixão de roupas e calçados no deserto do Atacama chamou a atenção e foi bastante compartilhada nas redes sociais. Muitas são peças de baixa qualidade que não conseguem ser vendidas, vindas de países como Estados Unidos e alguns da Europa e da Ásia. Os cerca de 300 hectares de vestimentas descartadas levantaram o debate sobre a necessidade de práticas mais sustentáveis especialmente pelas grandes indústrias.
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Moda atemporal: opção mais sustentável
No meio de gigantes do varejo, surgem empreendimentos sustentáveis e produções independentes para atender os consumidores que gostam de se vestir bem, confortavelmente e comunicando por meio da moda, mas ainda assim preocupados com o impacto que o consumo causa.
Um exemplo é a Respire, empresa carioca de roupas produzidas a partir da fibra de bambu. A criadora da marca, Lucia Maximo, explica que a matéria-prima foi escolhida pelas vantagens que a sua plantação oferece. A colheita do bambu é feita por meio de poda, não desgasta o solo e não necessita de fertilizantes para o crescimento rápido.
Contudo, a sustentabilidade da Respire está muito mais presente nas relações sociais. A intenção é passar uma mensagem de autocuidado por meio de roupas duráveis e atemporais. “Usamos o bambu também por todas as características simbólicas dessa planta, como resiliência, carinho e força. O nosso tecido dura no tempo e gera confiança, por isso, fideliza clientes. Nós nos preocupamos com o bem-estar de cada pessoa durante todo o processo de produção até chegar ao cliente, buscando exercer empatia, respeito e transparência”, diz Lucia.
As cores neutras predominam no e-commerce da Respire, bem como cortes retos e estampas delicadas. “Nosso objetivo é criar aquela peça que você sempre procura no guarda-roupa, que traz a sensação de conforto. Temos cores eternas, que não variam com a moda, e a nossa coleção é permanente. Você pode usar sempre, sem enjoar e sem ter que descartar rapidamente”, explica a criadora da marca.
Cuidados na cadeia produtiva devem ir além da matéria-prima
Mais recentemente, outra marca que surgiu para aplicar a sustentabilidade no mundo da moda foi a Narooma, dos sócios Thomás Benite e Raissa Prodocimo. A última novidade da Narooma foi o lançamento de peças produzidas a partir de fibras de banana, obtidas através das cascas da bananeira.
O objetivo da marca é ser o mais sustentável possível em cada etapa da cadeia de produção das vestimentas. Além de priorizar sempre os tecidos certificados e beneficiar a produção local, a Narooma ainda preza pelo zero descarte, ou seja, os retalhos são reaproveitados para novas peças ou enviados à reciclagem. No mundo, 12% dos resíduos têxteis são reciclados e apenas 1% é reaproveitado para novas peças, segundo um relatório da Fundação Ellen MacArthur, que tem a missão de acelerar a transição rumo a uma economia circular.
O tingimento das roupas da Narooma é de baixo impacto, feito com corantes 100% naturais, e o design das peças é atemporal – ou seja, dificilmente uma peça da Narooma vai “sair de moda”. Além da fibra de banana, outros tipos de matéria-prima são utilizados, como o algodão orgânico certificado, linho, poliamida biodegradável e até PET reciclado. Segundo informações do site: “Desde o nascimento da Narooma, nosso objetivo é esse: produzir roupas com menor impacto ambiental. Todos os processos são centrados nesse objetivo, desde a pesquisa de matéria prima, processos e fornecedores, até o momento em que o produto chega na sua casa”.
A Narooma ainda destina 1% do valor das vendas para projetos da ONG SOS Amazônia, que atua no Acre e Amazonas com a missão de promover a conservação da biodiversidade e o crescimento da consciência ambiental.
Rumo à sustentabilidade: o longo da caminho da moda
Apesar de a atenção à matéria-prima utilizada ser um fator importante para a sustentabilidade no setor da moda, fundamental mesmo é repensar o consumo. Algumas fibras naturais, como a de bambu, para servirem de material para roupas, são transformadas em viscose, uma fibra artificial cujo processo de produção é poluente. Segundo a Associação Catarinense de Bambu, a viscose possui sempre as mesmas características, independentemente da matéria-prima utilizada, por isso, para entender que tipo de roupa está sendo consumida, é preciso ir além de conhecer os produtos utilizados.
Dessa forma, outros fatores também precisam ser levados em conta quando o assunto é uma moda mais sustentável, como as relações de trabalho na cadeia de produção e a qualidade das peças, que vai interferir no tempo para descartá-las.
Ao mesmo tempo que as indústrias e empresas precisam adotar meios de produção mais sustentáveis, quem adquire as peças pode refletir sobre o consumo consciente, adquirindo apenas o que é necessário e considerando hábitos como a doação e a aquisição de peças de segunda mão, uma vez que aquilo que não serve mais no dia a dia de uma pessoa pode servir no de outra. “Sustentabilidade é ética. Não dá para praticar apenas nas roupas usadas, mas também precisa ser aplicada em todas as experiências práticas ao longo da vida, a fim de constituir um mundo melhor”, complementa a empresária Lucia Maximo.
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