Celebridades fazem. Influenciadores também. Pessoas anônimas não ficam de fora. Virou moda e, de longe, parece fofo o ato de subir uma foto do seu bebê ou um stories divertido da filha brincando com alguma coisa. Mas de perto o ato de expor crianças nas redes sociais pode ser mais prejudicial do que se imagina para os pequenos.
Essa atitude tem um nome digital: Sharenting – junção dos termos em inglês share (que significa dividir, compartilhar) e Parenting (em português parentalidade). O termo deriva de Oversharing, que já é uma palavra bem conhecida para designar o excesso de postagens com informações pessoais em plataformas como Twitter, Facebook ou Instagram.
Não são raros os casos de fotos de crianças compartilhadas ainda dentro da barriga das mães, vindas dos ultrassom feitos nos hospital. As crianças nascidas na última década já chegam a um mundo de alta conectividade em que os parâmetros de privacidade se transformaram radicalmente.
O Sharenting vem ganhando tanta atenção nos últimos tempos que se tornou motivo de reportagens para veículos, como os norte-americanos The New York Times, CBS New York, The Atlantic e The New Yorker, além dos brasileiros Nexo, O Estados de S. Paulo, e da BBC inglesa.
Os dados dos danos causados por essa ação dos pais estão, portanto, por toda parte, como mostra uma pesquisa britânica publicada pela própria BBC.
Nela, fica registrado nas pesquisas em grupos que mais de 1 em 4 crianças se sentem envergonhadas, ansiosas ou preocupadas quando os pais publicam fotos delas. É uma pressão enorme a qual, muitas vezes, os pequenos não conseguem nem verbalizar que estão sentindo.
Segundo especialistas entrevistados pelo jornal inglês The Guardian, além do grande estresse a que essas crianças estão submetidas ao serem foco constante de aprovação pública em rede social, também corre-se o risco de que elas não aprendam direito a discernir o que é público do que é privado.
Já a pesquisa divulgada pela agência de notícias BusinessWire mostra que 90% das crianças de até dois anos de idade nos Estados Unidos possuíam alguma presença online. Isso em 2010, ou seja, no início da década mais conectada da história da humanidade. Para 2021, a previsão de pessoas conectadas online a algum tipo de rede sociais chega a 3,1 bilhão de acordo com uma empresa global de dados de mercado e consumo chamada Statisa.
No Brasil não existe lei específica que proíba ou mesmo iniba os pais a controlar esse tipo de publicação. Mas o artigo 17 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) garante o direito à privacidade, à imagem e à autonomia aos pequenos cidadãos.
Vale pensar sobre o assunto, portanto, e rever se o seu comportamento, como pai ou mãe, não está beirando ao Sharenting principalmente com o boom de influenciadoras cujos cargos de “mãe” ou “pai” garantem, muitas vezes, exposição suficiente para ter o investimento de marcas e bom cachês na conta bancária.
Incentivar menos quem faz esse tipo de exposição com os filhos é outra medida que se pode tomar. Sim, todos gostamos de crianças sorrindo ou sendo espontâneas. Mas transformar a vida desses pequenos humanos em um Big Brother exclusivo deles parece mesmo não ser um bom caminho.
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