Uma maior consciência acerca da sustentabilidade ambiental e social vem despontando no mercado nos últimos anos, tanto que os chamados valores ESG (Environment, Social and Governance, ou, em português, Ambiental, Social e Governança), vem despertando mudanças por parte das empresas. Uma das razões para isso seria a chegada da geração Z (nascidos entre 1996 e 2015) ao mercado consumidor.
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É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Bank of America em 2020. Segundo os dados coletados, cerca de 80% desse público prefere comprar ou investir em empresas que estejam alinhadas com os valores ESG. Com essas preocupações, o conceito de moda consciente, economia circular e second hand (segunda mão ou reuso) também ganhou espaço nos últimos anos. O tema foi discutido por profissionais do setor no painel “Moda Consciente: Minha Identidade Além Da Marca”, que foi realizado no Conarec 2021.
A discussão foi mediada por Marcelo Villin Prado, Diretor do Inteligência de Mercado (IEMI), e composta por Mariana Penazzo, cofundadora da Dress & Go, Dan Reicher, CBDO Enjoei, e Tadeu Almeida, fundador e CEO da Repassa. De acordo com o mediador, o tema vale a pena ser discutido pois “nós vivemos um boom de fast fashion dos anos 90 para os anos 2000, depois surgiu o slow fashion e agora estamos discutindo o reuso. Vemos que a pandemia foi um catalisador para essa questão da sustentabilidade, com impactos para todo o mundo”, comentou. Veja os tópicos debatidos pelos especialistas!
Fast fashion, slow fashion e second hand
Apesar de trazerem propostas diferentes, os especialistas afirmam que cada formato apresenta propostas diferentes, que podem ou não causar uma competitividade entre elas. Enquanto o fast fashion (como as lojas de departamento) pensam em produzir em larga escala, o slow fashion busca criar produtos mais sustentáveis ambiental e economicamente e com maior durabilidade, porém em menor escala. O setor de reuso, por outro lado, utiliza os dois tipos de produto para proporcionar uma vida útil mais longa às peças, passando-as de uma pessoa para outra.
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Na visão de Mariana Penazzo, da Dress & Go, não existe uma competição de um setor para o outro. “Acredito que cada uma delas atende momentos diferentes. Não acredito que sejam áreas que competem, mas uma somam-se às outras. Às vezes você vai em uma loja e vê uma roupa que adora, você precisa ter a liberdade de comprar aquilo. Em outro momento, você vai querer algo usado. Tudo depende do momento da decisão de acordo com o que o indivíduo está precisando ou buscando. Mas, claro, o reuso acaba sendo mais sustentável e consciente”, afirma.
Para Dan Reicher, do Enjoei, se for possível apontar uma competição, seria a de valor, tanto monetário quanto de propósito. Segundo ele, o second hand consegue oferecer peças por valores muito mais acessíveis do que quando foi vendida inicialmente. “Essa economia é um dos motivos para o second hand crescer mais que o fast fashion hoje em dia, elas buscam economizar e não querem gastar mais do que já gastavam, por exemplo”, comenta.
O profissional acredita que a força que a moda consciente e o second hand vêm ganhando nos últimos anos estão fazendo com que as marcas, principalmente de fast fashion, se mexam e busquem soluções para reduzir seus impactos. Durante o painel, os três profissionais deram exemplos de ações nesse sentido, como o reuso incentivado pela própria marca, a logística reversa para reaproveitamento no descarte e descontos oferecidos para quem retorna o item à loja.
Moda consciente como identidade
Para Dan Reicher, a moda consciente e a economia circular vão de encontro com a busca pela sustentabilidade, mas também se tornaram um marco para a identidade de quem busca esses valores nas empresas das quais consome. “Hoje temos um novo posicionamento sobre o mercado de second hand, agora é visto como algo cool você utilizar os produtos usados e pensar em questões sustentáveis”, afirma.
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Tadeu Almeida, fundador e CEO da Repassa, também concorda com isso. Na visão dele, a internet e a alta conectividade fizeram com que o second hand passasse a ser visto de outra maneira. “As novas gerações estão cada vez mais engajadas. A internet e conectividade nas redes sociais e plataformas, modernizou e transformou ter roupas usadas em algo descolado. A mídia, por sua vez, também vem apoiando no sentido de informar sobre esse mercado e seus benefícios. Tudo isso faz com que as pessoas cobrem das empresas uma responsabilidade corporativa e uma economia circular”, aponta.
Segundo o profissional, para que seja de fato possível criar uma rede de economia circular na moda, é preciso um conjunto de fatores: produção de peças mais duráveis (tanto de fast fashion quanto de slow fashion), potencializar o uso delas e descartar corretamente o que não puder mais ser utilizado, dando outra utilidade para esse resíduo. Para isso, tanto os consumidores quanto as marcas precisam estar empenhadas e pensando de maneira sustentável.
Pandemia e valores ESG
A sustentabilidade já vinha sendo tema discutido quando o assunto era o consumo, mas hoje, de acordo com Marcelo Villin Prado, o mediador da mesa de discussão, essa demanda vem crescendo ainda mais. “Algumas pesquisas mostram que cerca de ⅓ das pessoas já se preocupam se o produto que irão comprar na loja é sustentável ou não. É uma proporção alta e que tende a crescer”, explica. Outro ponto questionado pelo mediador aos profissionais é como a pandemia influenciou o mercado de moda consciente e second hand.
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Na percepção geral, a pandemia incentivou o pensamento crítico sobre sustentabilidade e valores ESG por parte das pessoas. A cofundadora da Dress & Go, por exemplo, explica que depois de dois anos, as pessoas mudaram e já não se identificam mais com as roupas que utilizavam antes da pandemia, muitas em bom estado.
“As pessoas puderam abrir o guarda roupa e encontrar pessoas que não tinham mais sentido para elas, mas encontraram algo para fazer com aquilo, sem precisar se desfazer daquilo. Além de trazer essa consciência sobre o consumo, a pandemia deu essa possibilidade de a pessoa enxergar a possibilidade no second hand e quando a pessoa se dispõe a vender algo, faz com que ela esteja aberta a comprar mais também”, afirma Mariana Penazzo.
Segundo Dan Reicher, a pandemia reacendeu discussões sobre valores ESG, principalmente impacto ambiental e social, e fez com que as pessoas repensassem seus próprios valores, escolhendo opções melhores para o meio ambiente e a sociedade em geral. O profissional enxerga isso como uma tendência, uma preocupação que só tende a crescer.
Moda consciente no digital
Outra questão impulsionada pela pandemia foi o consumo digital. Para o CBDO do Enjoei, a empresa começou e ganhou força com a internet e seus clientes consomem de maneira simples pela plataforma. No caso da Dress & Go, a cofundadora afirma que o conceito desde o início da marca foi o omnichannel no atendimento ao cliente por uma demanda do próprio público.
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“Em 2012 não existia essa cultura de usar algo que não era seu. Isso era um desafio em que coube trazer o ambiente físico também. O aluguel de vestidos é muito mais físico do que digital, pois a cliente quer provar, ver a qualidade, até porque, geralmente, é para um evento especial. Depois, sabendo como funciona, acaba se tornando um cliente digital, inclusive para a Reloved, que é nossa frente de e-commerce”, diz Mariana Penazzo.
A Repassa, segundo o CEO da empresa, entende os pontos físicos de maneira diferente. “Usamos quase como um ‘outdoor’, um ponto de divulgação, de contato, de fortalecimento em branding. É onde mostramos os tipos de peças que temos e a qualidade delas, quebrando barreiras de quem ainda não consome no second hand”, explica Tadeu.
De maneira geral, para todos os profissionais presentes, a moda consciente foi apontada como um setor em ascensão que vai de encontro tanto com as preocupações acerca da sustentabilidade e outros pontos do ESG quanto com a identidade, principalmente das novas gerações.
“As pessoas vão se tornar cada vez mais conscientes e isso repercute na forma de se viver e nos hábitos de consumo. As pessoas serão mais exigentes na hora de comprar e vão exigir mais das empresas e dos produtos. Temos que estar atentos às mudanças e em como gerar um impacto positivo para todos a partir do mercado da moda”, acredita Mariana Penazzo, da Dress & Go.
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