“Nós não vamos colocar uma meta. Nós vamos deixar uma meta aberta. Quando a gente atingir a meta, nós dobramos a meta.” A frase dita pela ex-presidente Dilma Roussef durante um discurso virou piada – e, consequentemente, um meme usado até hoje nas redes sociais. Apesar disso, poderia ter sido dita por 70% dos executivos globais de empresas de varejo e bens de consumo quando o assunto são metas de sustentabilidade.
Isso porque, apesar de 90% das empresas se declararem comprometidas a implementar soluções ESG – de governança ambiental, social e corporativa – menos de um terço têm, de fato, metas definidas que permitam mensurar e progredir neste caminho.
É o que aponta o relatório A Última Chamada Para a Sustentabilidade, publicado pelo IBV (Institute for Business Value), da IBM, que entrevistou mais de 1.900 executivos globais de empresas de bens de consumo (CPG) e varejistas, incluindo líderes da América Latina.
O documento debate ainda as principais expectativas dos consumidores relacionadas a este assunto, os benefícios da sustentabilidade para os negócios, as dificuldades que as empresas precisam superar para seguir adiante neste campo e as contribuições que a tecnologia pode ofertar.
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Metas de sustentabilidade: o que os consumidores esperam das empresas
Se engana quem pensa que os consumidores esperam que as empresas definam metas de sustentabilidade apenas relacionadas à redução de impacto ambiental, como as de controle de emissão de carbono, por exemplo.
De fato, dois em cada três consumidores cobram que as organizações atuem neste sentido. Porém, as expectativas vão além: três em cada quatro consumidores esperam que as empresas atuem com responsabilidade social, promovendo ações que facilitem o acesso à educação, à saúde e ao bem-estar. Além disso, 72% cobram que as organizações tenham iniciativas capazes de colaborar com o fim da pobreza e da fome.
O motivo, segundo o relatório da IBM, é que sustentabilidade e responsabilidade social são, para os consumidores, dois lados de uma mesma moeda: “uma empresa verdadeiramente sustentável não pode fazer um sem progredir também no outro”, destaca o estudo.
O número de consumidores atentos a estes compromissos, aliás, é cada vez maior. Em comparação com dois anos atrás, 22% mais consumidores dizem que responsabilidade ambiental é extremamente importante sobre suas decisões a respeito de uma marca. Além disso, 84% consideram a sustentabilidade ambiental como moderadamente importante, um claro indicativo de ganho de relevância nos próximos anos.
Outro dado aspecto interessante diagnosticado pelo estudo da IBM é que, para além de critérios de seleção de consumo de uma marca, as pessoas também consideram as ações de sustentabilidade ao fazer investimentos, escolher um emprego ou selecionar um modo de transporte – e, inclusive, estão dispostas a pagar mais por isso.
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Muita teoria e pouca prática
As empresas, por sua vez, reconhecem a demanda crescente por parte do mercado para implementarem ações ESG. Tanto que quase metade das organizações que participaram da pesquisa disseram ter começado iniciativas de sustentabilidade antes da pandemia e estão mantendo-as em curso; 22% disseram ter lançado iniciativas durante a pandemia e um número igual planeja colocá-las em prática até o fim deste ano.
Apesar disso, menos de um terço dos varejistas e empresas de bens de consumo pesquisadas afirmam ter metas capazes de medir e acompanhar o progresso das ações implementadas, número que revela a distância entre teoria e prática.
Na verdade, em média, apenas 10% das empresas do setor de consumo de bens definiram metas para monitorar o progresso de sustentabilidade e 20% alinharam as métricas de desempenho organizacional para medir o progresso. A maioria das organizações está em processo de definir metas ou pretende fazer isso em breve.
Isso porque, segundo o relatório da IBM, sem métricas claramente definidas é quase impossível para uma empresa saber se de fato está tornando a sustentabilidade tangível e, assim, vinculá-la aos melhores resultados nos negócios.
“Também é mais difícil para a empresa contar aos seus clientes uma história atraente – e verdadeira – sobre seus esforços de sustentabilidade, algo cada vez mais essencial para melhorar a reputação da marca e a viabilidade dos projetos”, reforça o relatório.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelas empresas que querem definir metas de sustentabilidade é o fato de parte de suas ações estarem fora de seu controle direto, nas mãos de parceiros, no chamado escopo 3. Isso porque, muitas empresas que participaram da pesquisa da IBM relatam que 80% das emissões relacionadas à produção dos bens por elas comercializados estão concentradas em atividades de parceiros.
A dificuldade é real, porém, apesar de o escopo 3 parecer muito abrangente e complexo, é também, na verdade, o espaço com maior oportunidade de redução de emissão de gases de efeito estufa.
Colaboração da tecnologia
Investir em tecnologia é fundamental para que as empresas consigam mensurar – e cumprir – com os compromissos de sustentabilidade estabelecidos. Nesse sentido, recursos envolvendo Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), computação em nuvem e Analytics, entre outros, trazem contribuições importantes para a coleta, precisão e análise de dados. Além disso, a tecnologia facilita a interoperabilidade de dados entre organizações e sistemas.
A ideia é que a tecnologia consiga auxiliar as empresas a otimizarem a sustentabilidade em seu todo o seu processo de produção, reduzindo desperdícios, diminuindo o custo de atendimentos e as emissões relacionadas à logística, fornecendo dados para análise de métricas e fornecendo insights capazes de antecipar tendências e planejar melhor ofertas e demandas.
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9 passos para implementar uma agenda de sustentabilidade
em empresas de bens de consumo e varejo
Não há dúvidas: empresas que querem se manter competitivas no mercado precisam implementar ações de sustentabilidade. E mais que isso, precisam entranhá-las no core de seus negócios, tornando-as fundamentais para a estratégia organizacional – e não apenas atribuindo-lhes funções auxiliares.
Isso porque, conforme defende o relatório da IBM, a sustentabilidade é muito mais do que um discurso para apaziguar os ânimos de determinados setores da sociedade: é uma estratégia capaz de diferenciar marcas e produtos, contribuindo para a criação de um mundo melhor.
Nesse sentido, é papel de lideranças dos mais altos níveis implementar uma agenda sustentável, com objetivos claros e mensuráveis, capazes de conduzir a empresa em seu percurso para torná-los realidade.
Confira, a seguir, nove ações concretas que ajudam a clarear, mensurar e fortalecer o desenvolvimento da sustentabilidade nas organizações.
Primeiros passos:
crie uma visão e um plano
1 – Se comprometa com metas
Entender a sustentabilidade como parte importante do negócio, criar e se comprometer com metas de longo prazo é o primeiro passo para as organizações que desejam avançar neste campo. Além disso, é preciso identificar quais são os pontos de contato dentro da empresa que mais podem contribuir para o alcance dessas metas.
2 – Entenda a sustentabilidade como uma estratégia
Os compromissos da organização com a sustentabilidade não devem ser pensados apenas como uma forma de ‘propaganda’ perante às crescentes exigências da sociedade, mas sim, como oportunidade de melhoria nos processos, nas cadeias de operações de suprimentos e também como novas oportunidades de crescimento.
3 – Envolva a liderança
Os compromissos com a sustentabilidade passam, necessariamente, por lideranças com cargos de alto nível nas organizações. Por isso, é fundamental formular equipes com foco em projetos ESG, que possam atuar com base em um conjunto de KPIs (Indicadores-Chave de Performance) capazes de medir as métricas necessárias para alcançar o sucesso.
Nível intermediário:
reduza os riscos e otimize operações com iniciativas de sustentabilidade
4 – Considere soluções para melhorar as plataformas existentes
Busque soluções capazes de mitigar os problemas existentes em plataformas atualmente usadas pela empresa. A ideia é que esses recursos adicionais sejam capazes de ajudar a identificar e solucionar discrepâncias regulatórias com pouco investimento, acesso facilitado e maior precisão.
5 – Use a tecnologia em favor das metas
Tecnologias como nuvem, robótica e Inteligência Artificial são capazes de contribuir com a auditoria e monitoramento de tendências, fundamentais para ações ESG. A Inteligência Artificial, em particular, é capaz de reunir e interpretar uma grande quantidade de dados e fornecer insights importantes para diagnosticar caminhos possíveis e tendências.
Além disso, o relatório da IBM sugere que esses insights sejam aplicados ainda para melhorar a eficiência das ações ao reduzir a emissão de carbono e o desperdício.
6 – Invista em fluxos de trabalho inteligentes
Outro ponto que pode contar com a colaboração tecnológica para melhorar as ações ESG é a integração de fluxos de trabalho, permitindo aprimorar decisões em diferentes etapas da operação, como abastecimento, compras, logística etc., com base em dados coletados em tempo real. Além disso, facilita correlacionar escolhas e consumar recomendações.
Nível avançado:
hora de acelerar a agenda de sustentabilidade
7 – Desenvolva ecossistemas para crescer
Para atingir metas de sustentabilidade mais ousadas, aposte em tecnologias capazes de fomentar novas parcerias e fortalecer a relação entre ecossistemas.
Blockchain, Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), por exemplo, podem apoiar a expansão de parcerias entre empresas, governos, associações e mercados, proporcionando um maior grau de confiança e transparência para os consumidores finais.
8 – Invista em transparência
Para ganhar a confiança do consumidor, desenvolva estratégias capazes de melhorar a transparência organizacional. Uma ideia citada pelo relatório da IBM é aplicar atributos de sustentabilidade a nível de produto, criando uma etiqueta verde 5 estrelas, por exemplo.
9 – Acelere as inovações
Buscar soluções inovadoras é uma das etapas mais avançadas para contribuir com as metas de sustentabilidade organizacional. O relatório da IBM sugere, por exemplo, criação de novos designs de produtos desenvolvidos com energia renovável, materiais reciclados e outras opções mais sustentáveis.
Nesta etapa, a ideia é aplicar os conceitos de sustentabilidade em todo o ciclo de vida do produto, tendo, é claro, sempre o comportamento do cliente como parâmetro para as ações.
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