O mercado de streaming vive hoje um momento de ultra transição e incertezas. Foi o que afirmou Ana Julia Ghirello, vice-presidente de parcerias Latam da HBO Max, no painel “Transformação: um sincerão sobre a realidade da mudança das empresas de mídia e entretenimento”, no CONAREC 2022.
Confira a cobertura completa do CONAREC 2022
Ana Júlia explicou que o negócio de streaming é projetado para dar lucro a longo prazo, mas não existe receita de bolo. Segundo ela, o tempo para as empresas chegarem ao breakeven, ou seja, reduzirem investimentos, equilibrando custos e receita, pode ser de 5, 10 ou até 15 anos. Isso porque, se as empresas decidirem ter lucro hoje, elas automaticamente escolhem crescer menos.
“O mercado de streaming vive hoje o enigma de ver o ‘dindin’ hoje ou semear para o futuro. A gente ainda tem as empresas olhando muito mais para o crescimento e para a penetração do que para o lucro. Mas já existe uma discussão no mercado sobre aumentar a margem e chegar mais cedo ao breakeven, até porque os investimentos em plataformas de streaming são muito altos”, analisou a vice-presidente de parcerias Latam da HBO Max.
Para exemplificar esse dilema que as empresas de streaming vivem atualmente, Ana Júlia citou a transmissão de jogos da Champions League. A HBO MAX tem os direitos de transmissão dessas partidas e escolhe passar alguns jogos no canal da TNT, onde há um bom faturamento com as propagandas, e outros com exclusividade no streaming, o que atrai mais assinantes para a plataforma.
“Não é um negócio linear. O dinheiro da TNT a gente não vai ver, mas vamos aumentar aquisição na HBO Max. São experimentos em que você vai ter perda de receita, mas que precisam acontecer. Esse tipo de escolha precisa ser feita com frequência no mercado de streaming, pensando em futuro”, afirmou Ana Júlia.
Quatro pilares sustentam uma plataforma de streaming
Além da HBO Max, Ana Júlia também foi diretora geral de streaming no Telecine. Ela participou do processo de implementação das duas plataformas. A partir dessa experiência, ela analisa que uma plataforma de streaming precisa de quatro pilares para se sustentar. São eles: tecnologia, conteúdo, “go to market” e cultura.
Tecnologia porque se você não tem uma plataforma boa, por mais que você tenha um conteúdo excelente, as pessoas não conseguem assistir. Antigamente, segundo Ana, você tinha algumas exceções, em que as pessoas consumiam conteúdos em plataformas que travavam. Hoje em dia, a Netflix “subiu a barra da tecnologia” e fica impossível entregar conteúdo em uma plataforma que não tenha boa qualidade.
O segundo pilar é o próprio conteúdo, que chega a ser mais importante do que a própria tecnologia. Para Ana Júlia, é o conteúdo que vai ser o principal diferencial das plataformas, é o que vai atrair e reter os clientes. Por isso, as empresas investem muito em conteúdos de boa qualidade e de interesse do público.
O “go to market” é exatamente a ação de ir ao mercado, fazer com que o produto chegue até o público através do investimento em marketing de performance, relações públicas, branding e parcerias com distribuidores para fazer o negócio crescer. Um exemplo disso é a parceria da HBO MAX com o Rappi.
Já o quarto pilar, mas não menos importante, é a cultura. Ana destacou que é essencial que se crie nas empresas uma cultura baseada na autonomia dos times, que dê a agilidade necessária para ajustar rotas, por exemplo. Por se tratar de um mercado em constante transição, com poucas certezas e muitas mudanças, saber reagir e se adaptar de forma eficiente é determinante para “você não perder o bonde”.
Ana Julia explicou que se um desses pilares se rompe ou é deixado de lado, o negócio não funciona. “É preciso muito investimento e muita experimentação. Isso vai ter um custo alto, mas é necessário. Além disso, saber se ajustar ao longo da rota e entender que todo mundo ainda está aprendendo sobre esse mercado, é o que vai fazer a diferença no resultado final”, resumiu a executiva.
Engatinhando nos algoritmos
Ao contrário do que possa parecer, segundo Ana Julia o mercado de streaming ainda está engatinhando no uso de inteligência artificial para recomendar e reproduzir conteúdos. Ela explicou que apesar de se falar muito hoje em “medir tudo”, em produzir e entregar a partir de dados, o funcionamento disso na prática ainda não é tão automatizado.
De acordo com a executiva, tirando a Netflix que está muito à frente dos outros quando o assunto é algoritmo, os demais devem concentrar as energias em garantir um time de excelência para fazer a curadoria dos dados.
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