Aproveitando que amanhã é 1º de Abril, o Dia da Mentira, resolvi falar um pouco das mentiras que as pessoas contam a si mesmas para o consumo sem culpa e de maneira não planejada.
Já repararam que, às vezes, falamos “eu mereço”, “trabalhei o mês todo”, “estou triste, preciso comprar”?
Não quero dizer com isso que de fato não merecemos ou que, de vez em quando, não é legal comprar algo, até mesmo supérfluo, que nos deixe mais animados, isso tudo faz parte. Mas precisamos ficar muito atentos para que essa não vire uma prática comum e acabe ameaçando a saúde financeira.
Esse comportamento advém de um problema cultural e ainda muito comum da população: a falta de educação financeira. A boa notícia é que crianças e jovens de mais de 1500 escolas públicas e privadas já estão aprendendo sobre o assunto na escola. Isso quer dizer que, desde pequenas, são ensinadas a agir corretamente diante do dinheiro.
Aos adultos que não tiveram essa oportunidade, nunca é tarde para ir atrás de conhecimento. Há diversos livros, palestras e cursos que abordam o tema de maneira descomplicada e eficaz.
Sobre as mentiras que nos contamos para consumir inconscientemente, separei cinco abaixo mais comuns:
Eu mereço
Embora essa frase possa ser verdadeira, ela tende a minar a realização de algo que, entre tudo aquilo que é do merecimento da pessoa, ela realmente deseja – como um sonho.
É preciso ter em mente que atingir uma grande meta é viver algo mais desejado e merecido do que qualquer outra experiência do dia a dia, e que quanto mais dinheiro se aplica em compras esporádicas, menos é destinado à merecida realização dos sonhos.
As pessoas costumam ser as primeiras a sabotarem sua verdadeira felicidade. Com tantas promoções e ofertas, é difícil resistir à tentação de comprar algo, ainda que não precisemos. Por isso é tão importante que tenhamos objetivos de vida bem definidos, afinal de contas, estamos nos privando de um prazer pontual em prol de algo muito maior lá na frente.
Eu preciso
Uma das principais mentiras que as pessoas contam a si mesmas é que precisam de determinado produto ou serviço. É necessário ponderar se há mesmo uma necessidade e se há condições de usufruir daquilo no momento da aquisição.
É importante que o consumo venha após o planejamento financeiro e a pesquisa de preços em, no mínimo, três locais diferentes. Não vale a pena querer sustentar um status. Muita gente compra aquilo que não precisa, com o dinheiro que não tem, para impressionar pessoas.
Precisamos nos educar financeiramente para viver de maneira mais saudável e sustentável, realizando sonhos que possuem valor para nós mesmos.
Estou infeliz
A felicidade advinda do consumo esporádico e sem planejamento tende a ser pequena e momentânea. Realizar sonhos, por sua vez, gera a felicidade genuína e duradoura que todos almejam.
Quem reconhece que está infeliz precisa, ao invés de buscar a satisfação em compras, equilibrar o momento presente com a projeção de um futuro de realizações. Para que o ato de sonhar também não seja algo pontual, sempre recomendo que as pessoas tenham, no mínimo, três objetivos: um de curto (até um ano), um de médio (de um a dez anos) e outro de longo prazo (acima de dez anos).
Não consigo resistir
Mais do que contestada, esta mentira aparentemente inofensiva deve levar a reflexão sobre o porquê de, ao invés de planejar e consumir com consciência, a pessoa prefere se deixar levar pelo momento. É possível que esteja faltando organização.
Ter ciência da situação financeira é primordial para que se possa ter mais pulso firme e disciplina na hora de resistir aos impulsos consumistas. Parece impossível, mas muita gente não sabe quanto dinheiro tem na conta antes de gastar. Precisamos acabar com esse comportamento o quanto antes.
Eu tenho condição
Assim como a falta, a sobra de dinheiro é um sinal de que a administração não está sendo eficaz, pois a melhor forma de utilizar os recursos financeiros é seguindo um bom planejamento.
A quem tem dinheiro sobrando no final do mês, convém rever se há sonhos que podem ser realizados mais rapidamente com o acréscimo deste valor ou se há novos objetivos de vida a serem priorizados.
Afinal, o dinheiro deve trabalhar em favor das pessoas, não o contrário.
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Reinaldo Domingos é mestre em Educação Financeira e terapeuta financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira, Abefin e Editora DSOP, autor do best-seller Terapia Financeira, dos lançamentos Papo Empreendedor e Sabedoria Financeira, entre outras obras.