Metaverso é “a” buzzword de 2022. Foram 30 anos para que o termo, cunhado no romance cyberpunk Snow Crash, de Neal Stephenson, alcançasse o mainstream. Hoje, é praticamente impossível abrir uma publicação sobre tecnologia, marketing ou negócios sem ver ao menos uma menção do termo que descreve este espaço virtual – ainda bastante abstrato e distante para a maioria.
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Assim como aconteceu com as criptomoedas, já tem gente apostando alto no segmento – ainda mais depois que o Facebook rebatizou-se como Meta, indicando definitivamente que irá focar seus esforços no desenvolvimento de soluções e ferramentas para o metaverso (a empresa já havia adquirido, em 2014, a startup Oculus VR, especializada em tecnologias de realidade virtual).
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Essa verdadeira corrida do ouro deve significar um desenvolvimento acentuado das tecnologias imersivas, trazendo consigo as oportunidades inerentes a um segmento de mercado que não foi completamente mapeado, tem possibilidade de crescimento exponencial e está ainda muito distante da sua maturidade. Por outro lado, os riscos de se desbravar nesse novo território também são expressivos. Existem infinitamente mais dúvidas do que certezas a respeito do que o metaverso de fato é – e o que ele pode vir a ser.
Hoje, a maior parte do “espaço imobiliário” negociado no metaverso está concentrada em 4 grandes plataformas: Sandbox, Decentraland, Cryptovoxels e Somnium. Para além destas, mais de uma dezena de outras plataformas também têm suas próprias ofertas. Em 2021, o volume negociado passou de US$ 500 milhões e está projetado para dobrar neste ano. Mas o que leva alguém – ou alguma marca – a gastar dezenas, às vezes centenas de milhares de dólares em um terreno virtual, num contexto em que a escassez é, na melhor das hipóteses, questionável? Onde é possível se teletransportar de um lugar a outro instantaneamente? Como avaliar, de maneira fundamentada, valor e preço em condições como essas? Eu não tenho essas respostas e nem sequer existe consenso ou maioria formada entre os especialistas.
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A questão ética também é uma grande preocupação. Algumas das mesmas empresas que criaram os algoritmos que nos colocaram em uma dieta de fake news, padrões de beleza impossíveis e estilos de vida irreais – em scroll infinito – são aquelas que estão se voltando para o desenvolvimento de experiências e a análise de comportamento e consumo em ambientes completamente imersivos. Os escândalos de violação de privacidade do passado não são necessariamente uma profecia de que algo semelhante ocorrerá no futuro – mas são um alerta para que todos sejamos menos ingênuos e estejamos mais atentos do que antes, tanto marcas, organizações e usuários como as próprias plataformas.
Para a maioria de nós, não há motivo para pressa. Os dispositivos de acesso ao metaverso, ainda que tenham barateado significativamente, ainda são desajeitados e inacessíveis para muitos – especialmente em países como o Brasil.
As marcas em grande parte ainda sequer dominaram completamente coisas mais básicas como UX, marketing de influência ou mesmo social media. Sem fazer essa lição de casa, sem conseguir atender os seus clientes de forma completamente adequada onde eles já estão, querer estar em todos os lugares e fincar bandeira no metaverso sem uma razão forte pode ser uma péssima (e cara) estratégia de negócios – e não faz de ninguém disruptivo nem inovador.
Em tempo: isso não é uma crítica ao metaverso nem às empresas e profissionais que trabalham no segmento. O que trago aqui são minhas dúvidas e reflexões a respeito de algo novo, que pode transformar nossas vidas de uma série de maneiras, inclusive para pior. Caminhando com um pouco mais de calma, pode ser melhor para todo mundo.
*Por Mauricio Soares, sócio-fundador da ARCA.
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