A Mastercard anunciou o lançamento da nova versão do SpendingPulse no Brasil. A plataforma de inteligência de mercado mede os gastos no varejo com base em dados agregados e anônimos. A atualização representa um avanço significativo em termos de abrangência, profundidade e aplicabilidade para empresas que buscam tomar decisões mais estratégicas a partir do comportamento real de consumo.
De acordo com Gustavo Arruda, economista-chefe para a América Latina e Caribe do Mastercard Economics Institute (MEI), o aprimoramento foi motivado pela necessidade de utilizar todo o potencial dos dados da Mastercard para entregar análises mais consistentes.
“O primeiro ponto foi entender que usar toda a base de dados da Mastercard fazia sentido para analisar as informações de maneira mais consistente. O modelo anterior trabalhava com uma amostra dos cartões que temos na base. Então, decidimos: ‘Vamos usar tudo para termos dados mais seguros e análises mais consistentes’”, comenta.
SpendingPulse: análise aprofundada
Além da amplitude de dados, a nova plataforma investe fortemente em granularidade. Isso significa que, em vez de oferecer análises restritas ao nível estadual, como ocorre em muitas pesquisas oficiais, o SpendingPulse agora possibilita uma leitura detalhada por mesorregiões, com foco especial nos estados do Sul e Sudeste.
“Quando olhávamos os dados oficiais, eles iam até o nível dos estados. Mas ao analisar a metodologia dessas pesquisas, percebemos que o dado oficial não permitia uma análise mais aprofundada dentro do estado, por conta do tipo de pergunta feita às empresas e comércios”, explica Gustavo.
A limitação, segundo ele, era clara. Em perguntas como “Quanto foi seu faturamento neste mês por estado?”, as pesquisas não viabilizavam comparações regionais mais refinadas, por exemplo, entre diferentes zonas dentro de uma mesma capital ou região metropolitana. “Quando pensamos em um país continental como o Brasil, entender essas dinâmicas e particularidades pode gerar não só muito interesse, mas também diversas oportunidades de negócio.”
Nova leitura de dados afina estratégia do varejo
Essa nova abordagem abre caminhos para que marcas e varejistas façam escolhas mais certeiras. Um dos usos estratégicos destacados por Gustavo é o benchmarking de performance. A plataforma permite esse tipo de comparação. Em vez de olhar apenas para o estado, o lojista pode ver como está sua atuação na Grande São Paulo, por exemplo, e entender se a dinâmica acompanha ou diverge do que seus concorrentes têm vivenciado. A ferramenta também apoia decisões sobre priorização de campanhas regionais e avaliação de performance em tempo quase real.
Entre os insights já identificados com o uso do SpendingPulse, está o crescimento no consumo em cafés no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo. Essa, em particular, mostra uma mudança no hábito do consumidor paulistano no pós-pandemia. Gustavo aponta que há uma tendência mais ampla de comportamento cauteloso por parte dos consumidores.
“Sabemos que o salário das pessoas não muda de um dia para o outro, então, é preciso fazer caber no orçamento. Observamos que os consumidores estão optando por concentrar os gastos no essencial”, acrescenta.
Esse movimento se reflete, por exemplo, no adiamento de viagens, na queda de gastos com vestuário e no aumento das despesas com supermercados. “Isso se deve tanto à inflação dos últimos anos quanto a uma escolha do consumidor, que precisa priorizar”, frisa o economista.
1º da América Latina a receber SpendingPulse
A nova versão do SpendingPulse está disponível em 19 países, mas, na América Latina, o Brasil é o primeiro mercado a receber o upgrade, com planos de expansão em discussão. Os setores mais beneficiados, segundo Gustavo, devem ser os de supermercados, lojas de departamento e vestuário, por serem os maiores.
“Acreditamos que ela cobre um gap relevante em diversos setores, tanto do varejo quanto do setor financeiro. Muitas decisões eram tomadas às cegas, e foi exatamente essa percepção que tivemos durante o desenvolvimento do produto”, destaca.
Em relação à integração com outros serviços da Mastercard, Gustavo esclarece que a plataforma tem desenho próprio. Mas, pode ser combinada com soluções personalizadas, conforme a necessidade de cada cliente. Assim, se o cliente disser: “Cheguei até aqui com o SpendingPulse, mas preciso ir além”, é nesse momento que entra o time de serviços e dados da Mastercard, para cocriar soluções.
O economista também aponta tendências para os próximos anos. “Dado o atual cenário brasileiro, com juros mais altos e sinais de desaceleração, vemos uma ênfase no consumo de bens essenciais. Olhando para frente, entendemos que esse cenário é passageiro e cíclico. À medida que a economia retoma o crescimento e os juros caem, setores mais cíclicos devem voltar a ganhar espaço na carteira do consumidor”, projeta. Ele acrescenta que a tecnologia também moldará os novos hábitos de consumo, com carteiras digitais, pagamentos por aproximação e experiências cada vez mais personalizadas.
Além disso, Gustavo reforça que a proteção de dados é a primeira preocupação antes de qualquer discussão. É importante garantir que nenhum cliente tenha seus dados expostos, nem que represente uma parcela grande da amostra. Ele explica que há regras rígidas de compliance, como a exigência de que nenhuma amostra tenha menos de cinco lojas, e que nenhuma loja represente mais do que um percentual definido da base.
Vendas no varejo em abril de 2025
Em abril de 2025, a plataforma registrou um crescimento de 10,9% nas vendas totais no varejo em relação ao mesmo mês do ano anterior. Os destaques ficaram por conta dos setores de hospedagem (21,4%), supermercados (17,2%) e eletrodomésticos (16,7%), segundo dados da própria Mastercard. A performance foi especialmente positiva em estados como Santa Catarina (21,1%) e Rio Grande do Sul (17,9%), reforçando a importância da análise regional para entender o consumo no Brasil.
No caso dos alimentos, os resultados apresentam diferenças regionais. Enquanto os estados de Santa Catarina (26,6%), Espírito Santo (23,0%) e Rio Grande do Sul (19,7%) lideraram o resultado, Brasília (13,3%), Pernambuco (13,0%) e Maranhão (13,0%) contrabalançaram o desempenho. Gustavo também menciona que os resultados refletem diferentes dinâmicas nos preços. De acordo com o IBGE, a inflação geral no varejo está em torno de 6,2%, com os preços dos supermercados em 6,5% em termos anuais.