Cada vez mais as gerações mais velhas se relacionam com a tecnologia e mostram presença digital em todos os âmbitos. Com forte influência na economia, a participação dos idosos tem um grande peso no Brasil e no varejo. A grande questão é: será que a geração prateada se sente bem atendida e satisfeita na forma como é tratada pelas marcas?
De acordo com a pesquisa da FleishmanHillard, a resposta é não. O estudo mostra que 65% das pessoas a partir dos 60 anos não acreditam na adequação de marcas e empresas para atender às necessidades das pessoas mais velhas e 52% afirmam ter dificuldades de encontrar produtos que atendam às suas necessidades.
“As empresas precisam conhecer a fundo o seu público. Entender quais são os seus anseios, o que esperam e o que procuram quando consomem uma marca ou quando procuram um produto de uma determinada empresa. A partir do momento que as marcas se colocam no lugar destas pessoas e deste mercado e público em potencial e genuinamente querem entregar para elas algo de valor, as chances de trazer resultados serão maiores”, explica Suzana Wester, diretora de Insights e Inovação da FleishmanHillard.
Um varejo despreparado para a longevidade
É comum que as gerações mais velhas sejam deixadas de lado em alguns dos negócios, por vezes porque as empresas tendem a pensar que eles estão fora dos nichos digitais. No entanto, é preciso pensar que a conquista desse grupo pode ser fundamental para o aumento de vendas. E, para isso, a geração prateada precisa se sentir bem atendida.
“Até 2025 o mundo terá mais de 2 bilhões de pessoas acima de 60 anos, o que equivale a 25% da população total. A economia prateada é a terceira maior do mundo. No Brasil, os 60+ são a faixa etária com o maior poder aquisitivo, enquanto os 50+ respondem por mais de 70% da riqueza do país”, comenta Mauro Wainstock, sócio-fundador do HUB +40 e LinkedIn Top Voice.
De acordo com o estudo da FleishmanHillard, em 2060 teremos 73 milhões de idosos no Brasil. Ao todo, além de ser a terceira maior atividade econômica do mundo, a geração prateada também movimenta 7,1 trilhões de dólares ao ano — 1,6 trilhões no Brasil e respondem por quase 20% do consumo no País.
E ainda que sejam tão importantes, ao pensar até mesmo em nichos que são mais voltados para o público 60+, há uma notável falta de preocupação com a jornada de compra e a experiência dessas gerações. “Um caso óbvio, mas ainda inexplicável, é o da indústria farmacêutica, que ainda insiste em manter o tamanho das letras das bulas minúsculas quando os seus principais consumidores são os que possuem maior dificuldade de leitura”, destaca Wainstock. “Outros exemplos são empresas de telefonia e de call-centers. Será que os atendentes mais jovens realmente utilizam uma linguagem adequada e estão adaptados para o ritmo mais vagaroso dos 60+? Não seria mais conveniente que estas empresas contratassem profissionais desta faixa etária para atenderam especificamente esta demanda?”, completa.
O estudo evidencia que essa falta de preocupação é notada pelo próprio público. 72% dos idosos reconhecem o despreparo das lojas, das dinâmicas de varejo e do treinamento dos vendedores no atendimento de pessoas com 60 anos ou mais.
“É notório o despreparo de muitos players que ainda não se preocupam suficientemente em disponibilizar um atendimento realmente inclusivo que, se por um lado, tenha a capacidade de promover afinidade e acolhimento destes exigentes consumidores, por outro consiga levar mais conforto e facilidade através de ferramentas de utilização mais amigáveis”, conclui Wainstock.
O digital e a geração prateada
Muito diferente do que a maior parte das pessoas pensa, o público 60+ não está apenas no Facebook e WhatsApp — ainda que a pesquisa mostre que ambas as redes sociais estão entre as mais utilizadas pela geração. “Eles possuem curiosidade e sede de aprender e se conectar, e estão também consumindo informações em canais multiplataforma, como Instagram e Youtube. A TV ainda continua sendo a principal fonte de consumo de informação, mas hoje o celular exerce um papel fundamental no dia a dia destas pessoas e que não pode ser ignorado”, salienta Wester.
De acordo com o estudo, 77% dos entrevistados fazem o uso intensivo do Youtube e 84% deles têm o smartphone como principal meio de acesso à internet. Distante da ideia de que essa geração não está online, a pesquisa mostra que 97% do público 60+ tem acesso à internet em 2021.
Outro destaque feito durante a pesquisa está bastante relacionado à representatividade desse grupo em marcas e no varejo como um todo. Segundo estudo da FleishmanHillard, apenas 19% dos grandes influenciadores brasileiros tem entre 60 e 64 anos, sendo 84% deles do gênero feminino.
“O que as pessoas hoje esperam das marcas é um relacionamento a longo prazo, é sentir que as marcas se preocupam não só em vender mas em seu papel social. Ser coerente e autêntico com esta verdade hoje é cada vez mais fundamental”, completa Wester.
Para atingir bem e se destacar, portanto, é necessário conhecer o público 60+ e interagir com ele de uma maneira mais assertiva. E cada vez mais a geração prateada tem feito essa demanda.
+ Notícias
Dilemas da longevidade: autora de estudo aponta gap no consumo