Os avanços da China no campo da Inteligência Artificial continuam atraindo os holofotes globais. O governo central anunciou um fundo de capital de risco, e espera-se que o fundo atraia de 1 trilhão de yuans (US$ 140 bilhões) para investimentos em tecnologia. Esse movimento acontece em meio a um boom de startups de IA no país, principalmente após o sucesso do DeepSeek, que dominou o cenário chinês e global em janeiro.
Agora, uma novidade promete mexer com o setor: a Manus AI, um agente de IA desenvolvido pela startup chinesa Butterfly Effect. Diferente das ferramentas tradicionais que apenas geram ideias e conteúdos a partir de comandos, como o ChatGPT e o Gemini, do Google, a Manus AI se destaca por preencher a lacuna entre concepção e execução, entregando resultados concretos.
Segundo Yichao ‘Peak’ Ji, cofundador e cientista-chefe do projeto, a tecnologia é capaz de realizar pesquisas, criar textos, planilhas e até escrever código de maneira autônoma. Ou seja, sem a necessidade do ser humano.
O novo DeepSeek?
O lançamento da Manus AI rapidamente viralizou nas redes sociais chinesas, com muitos comparando sua importância à do DeepSeek. O chatbot de IA surpreendeu o Vale do Silício ao oferecer um desempenho comparável aos melhores produtos da OpenAI por uma fração do custo. No entanto, a comunidade global rapidamente criticou a solução da DeepSeek devido à falta de transparência em relação ao tratamento de dados dos usuários e o suposto compartilhamento de informações sensíveis com o governo chinês.
Mas a promessa da Manus AI vai além: a ferramenta opera de forma independente, como um cérebro artificial, sendo capaz de iniciar tarefas sem depender de comandos diretos dos usuários, podendo iniciar tarefas por conta própria, sem depender de instruções diretas de humanos.
“Enquanto outras IAs param na geração de ideias, a Manus entrega resultados. Vemos isso como o próximo paradigma da colaboração entre humanos e máquinas e, potencialmente, um vislumbre da AGI”, afirmou Ji.
Parcerias estratégicas
A Manus AI foi construída sobre o Claude 3.5 Sonnet, modelo de IA generativa da Anthropic. Além disso, o desenvolvimento da solução contou com versões adaptadas do conjunto de ferramentas do Qwen, do Alibaba. Segundo a startup, o sistema será atualizado com um modelo mais avançado, o Claude 3,7, com o objetivo de ampliar suas capacidades.
No mês passado, a Alibaba declarou que seu principal objetivo é alcançar a Inteligência Artificial geral (AGI, na sigla em inglês), capaz de pensar como um ser humano. No dia 9 de março, a empresa lançou um novo modelo de raciocínio que, segundo ela, é tão bom quanto o da DeepSeek
Para fortalecer ainda mais essa corrida tecnológica, a Manus AI anunciou, na última terça-feira (11), uma parceria estratégica com a equipe responsável pelos modelos de IA Qwen, da Alibaba. A medida que pode impulsionar o lançamento pela startup de Inteligência Artificial do que ela chama de primeiro agente de IA geral do mundo.
Como funciona?
Para demonstrar a capacidade do agente, foram realizados três testes distintos, cada um explorando diferentes aplicações da tecnologia. No primeiro cenário, o Manus foi encarregado de filtrar currículos. Um arquivo ZIP contendo dez currículos foi enviado ao sistema. Como cada sessão do Manus opera de maneira independente, ele funcionou como um humano: primeiro descompactando o arquivo, depois lendo cada página atentamente e extraindo informações relevantes. O agente trabalhou de forma assíncrona, ou seja, sem a necessidade de supervisão constante, notificando o usuário ao final do processo.
No segundo teste, Manus foi desafiado a encontrar propriedades em Nova York que atendessem a critérios específicos. O agente iniciou a tarefa realizando uma pesquisa aprofundada sobre os bairros mais seguros da cidade. Em seguida, analisou as melhores escolas de ensino médio da região e escreveu um programa, em Python, para calcular o orçamento do usuário, garantindo que as opções sugeridas estivessem dentro da faixa financeira adequada.
No último exemplo, a solução Manus foi utilizada para realizar uma análise de correlação entre ações do mercado financeiro. O agente acessou fontes de dados confiáveis via APIs e, após validar as informações, gerou códigos para realizar a análise e visualização dos dados.
Agentes autônomos
A OpenAI também conta com algumas soluções de agentes de IA autônomos. É o caso do Operator, agente projetado para automatizar tarefas online, e da Pesquisa Profunda, ou Deep Search, ferramenta integrada ao ChatGPT, que realiza pesquisas autônomas na web para gerar relatórios detalhados sobre tópicos específicos. Atualmente, essas duas soluções da OpenAI estão disponíveis apenas para assinantes Pro nos Estados Unidos.
Já o Manus AI está em fase beta privado. Sendo assim, o público ainda não consegue ter acesso à ferramenta para testes.
O questionamento que fica é: será que a Manus AI irá decolar como outras ferramentas de IA generativa, como a solução da OpenAI? Ou novos questionamentos, como os que surgiram com o DeepSeek, irão limitar alcance desse novo agente?
*Foto: Runrun2 / Shutterstock.com