Uma medida provisória aprovada na Câmara dos Deputados está causando bons debates na mídia: se aprovada, permitirá que o limite do crédito consignado passe de 30% para 40%, aumento justificado pelo pagamento de fatura de cartão de crédito. Mas será que essa novidade realmente trará apenas benefícios aos cidadãos?
Se pensarmos em juros, com toda certeza essa é uma boa opção. Segundo a Anefac ? Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e contabilidade, as taxas cobradas pelos bancos em relação ao cartão de crédito ultrapassam a marca de 290% a.a., enquanto que as do crédito consignado ficam na faixa de 26,5%, de acordo com informações do Banco Central. Para quem tem dívidas, sempre recomendo que procurem fazer essa portabilidade para pagar juros mais baixos.
Crédito consignado: como utilizar adequadamente
Mas, analisando por outro ângulo, se a pessoa já não conseguia viver com 100% do seu salário ou ganho mensal, como poderá viver com apenas 60% dele? O que acontece é que muitos acabam tendo que fazer outros empréstimos para cobrir, se enrolando no controle das finanças, podendo ter sérios problemas, não apenas financeiros, mas de saúde física e mental.
Então, será que essa não é apenas uma maneira paliativa de resolver um problema? Sim. A questão central disso tudo é o endividamento e a inadimplência da população brasileira, que continua em alta. Promover outras formas de pagar uma dívida não soluciona a causa do problema. É preciso investir em educação financeira, ou seja, ensinar as pessoas a administrarem bem os recursos financeiros, para que possam utilizá-los a seu favor.
Vou dar um exemplo das duas situações citadas acima: suponhamos que uma pessoa ganhe R$ 2 mil por mês, se utilizar os 40% de crédito consignado, passará a receber somente R$ 1,2 mil, ?perdendo? R$ 800. Agora, quando falamos de uma pessoa educada financeiramente, ela utilizaria esses mesmos R$ 800 para aplicar em um investimento para realizar um sonho. Então, após dez anos, ela terá o valor de R$ 217.079,70 (rendimento de 0,65 a.m. e correção anual de 10% de inflação real).
Três em cada dez brasileiros já fizeram empréstimo consignado
Esse é o grande segredo da educação financeira: poupar antes de gastar e não comprar impulsivamente e depois ficar tentando achar meios de honrar com esse compromisso. Nesse caso, os juros estão trabalhando a favor da pessoa (rendimento) e não contra (dívidas). Além disso, quem se planeja consegue realizar muito mais objetivos, pagando à vista, o que garante melhores preços e não compromete o orçamento financeiro de vários meses com parcelas.
Uma boa notícia é que milhares de instituições de ensino públicas e particulares espalhadas por todo o país compreenderam a importância de ensinar hábitos corretos em relação às finanças já na fase infantil e juvenil da vida e incluíram educação financeira em sua grade curricular. Dessa maneira, não só alunos, mas também pais, professores e toda a comunidade em torno da escola aprendem os conceitos na teoria e têm a oportunidade de aplicar na prática.
Empréstimo consignado: atenção ao aumento dos prazos
Para finalizar, reforço: não são as ferramentas de compra e crédito que são o mal da população, mas sim a falta de sabedoria para utilizá-los da melhor maneira possível. É com educação financeira que formaremos uma sociedade mais consciente e sustentável financeiramente, o que reflete em todos os outros âmbitos da vida.
***
Reinaldo Domingos, educador financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira e da Editora DSOP, autor do best seller Terapia Financeira e dos lançamentos Sabedoria Financeira e Papo Empreendedor.