Em meio a uma grave e crise e diante de muita especulação, a Netshoes anunciou no fim desta segunda-feira (29) a venda de sua operação no Brasil, a última depois que as subsidiárias mexicana e argentina foram negociadas, esta último, inclusive, teve sua venda comunicada ao SEC no mesmo dia. O comprador foi o grupo BT9. A Magazine Luiza fechou um acordo para comprar a empresa. A companhia de Luiza Helena Trajano vai pagar US$ 62 milhões, ou R$ 244 milhões, pelo controle da varejista de artigos esportivos no Brasil. A operação ainda depende do aval de acionistas da Netshoes e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Em fato relevante divulgado ao mercado, o Magazine Luiza disse que pagou US$ 2 por ação da Netshoes. “Com a implementação da operação, a Netshoes se tornará uma subsidiária da companhia e os seus atuais acionistas receberão o valor de suas ações exclusivamente em dinheiro”, disse Roberto Bellissimo Rodrigues, diretor de relações com investidores do Magazine Luiza.
A compra será feita por uma subsidiária do Magazine Luiza nas Ilhas Cayman, então não é necessária a aprovação de seus acionistas. Os acionistas da Netshoes, no entanto, precisam aprovar a operação. Para isso, o Magazine precisa do voto favorável de dois terços do capital social do e-commerce de artigos esportivos. A empresa disse que fechou um acordo com 47,9% dos acionistas da Netshoes para votar pela aprovação da proposta em assembleia.
Concorrência
Para comprar a Netshoes, o Magazine Luiza venceu a disputa com a B2W, que controla a Lojas Americanas e Submarino. Há três semanas, a B2W confirmou o interesse ao jornal Valor Econômico e disse que estava sendo assessorada pela BTG Pactual. O Mercado Livre também estaria interessado na compra da loja virtual, mas não se manifestou sobre o assunto.
Crise
O Magazine Luiza adquire uma empresa que deve R$ 228,9 milhões. No último trimestre do ano passado, a Netshoes teve prejuízo líquido de R$ 90 milhões, quase o dobro do mesmo período em 2017. No acumulado de 2014 a 2018, o prejuízo da empresa fundada por Marcio Kumruian foi de R$ 300 milhões.
Em sua estreia na bolsa de Nova York, a ação da varejista de artigos esportivos valia US$ 14,50 e já chegou a um pico de US$ 24,50. Nesta segunda-feira (29), os papéis da Netshoes eram negociados a US$ 2,65 – alta de 3,92%.
A negociação com o Magazine Luiza acontece depois da venda da operação no México, para o fundo de investimento Grupo Sierra Capital, no ano passado, e na Argentina, para o grupo BT8, anunciada ontem. Os valores da operação na Argentina ainda não foram divulgados. A Netshoes manterá o direito de uso da marca e da plataforma por 18 meses, segundo comunicado da empresa.
Sobre a negociação com o Magazine Luiza, Marcio Kumruian, CEO da Netshoes, disse, em mensagem a acionistas: “A Netshoes entrou em um acordo de fusão após um extenso processo no qual avaliamos as nossas perspectivas como uma empresa independente e avaliamos, oportunidades para proteger valor aos acionistas em um processo de venda”.
Investimento no e-commerce
O movimento do Magazine Luiza é mais um investimento em transformação digital. A estratégia de integrar o e-commerce às suas 1.243 lojas espalhadas pelo território brasileiro rendeu à varejista a 249ª posição no ranking das maiores do mundo, segundo a Deloitte.
Os últimos investimentos apontam o caminho da empresa. De 2017 para cá, o Magazine Luiza adquiriu três startups. Há dois anos, o Magalu comprou a Integra, especializada na integração de e-commerces a marketplaces. No ano passado, integrou a Logbee, de logística e a mineira Softbox, que desenvolve tecnologia para varejistas.
Com a compra da Netshoes, o Magazine Luiza entra em um segmento que ainda não explorou: o varejo de moda. Este é um movimento importante para o mercado dado o alcance da loja virtual do Magalu. Enquanto o mercado online como um todo cresceu 13,4% no último trimestre de 2018, as vendas no e-commerce do Magazine Luiza cresceram 57,4%. A loja virtual é responsável por 38% das vendas da empresa.