Quem acompanha o mínimo da indústria tecnológica certamente já ouviu falar da Boston Dynamics e seu “robocão”, ou “cachorro-robô” — como preferir — chamado Spot. A verdade, no entanto, é a de que a subsidiária da Hyundai não é a única jogadora neste mercado: a China vem ampliando sua marca no setor e, graças a diversas relações da nação asiática com o Brasil, o CONAREC 2024 viu um exemplar dessa presença em um de seus palcos, apresentado por um especialista brasileiro.
No dia 11 de setembro, Mario Aguilar, CEO da M2Tics, subiu ao palco para apresentar Lucky, o seu próprio “pet” robótico, em um painel onde falou das aplicações da IA no campo da robótica. Claro, o diminuto “animal artificial” roubou as atenções mais que o próprio apresentador, com suas piruetas e saltos, “dando a patinha” e rolando com a barriga para cima. Mas justamente essas estripulias todas é que exemplificaram bem o que o CEO e produtor de conteúdo falava.
Isso porque tudo o que Lucky fazia era projeto de Machine Learning – um dos muitos aspectos que moldam a indústria da IA. Essencialmente, é por esse conceito de tentativa e erro que uma aplicação do tipo “aprende” a fazer algo. Neste caso, Lucky (ou “Go2Edu Model”, fabricado pela chinesa Unitree) provavelmente deve ter caído bastante para executar os saltos que fez no palco com tamanha eficiência.
Mario aproveitou para contar que a fabricante tem ainda vários outros modelos – um voltado para transporte de cargas pesadas, outro para navegação submarina, e até um robô humanóide que ele próprio prometeu trazer para a edição do CONAREC de 2025.
Tecnologia que impressiona
Lucky é equipado com sensores e tecnologia de ponta, como o LiDAR, que mapeia o ambiente ao redor em 360º, além de comandos de voz. Essa parte do LiDAR deve ser familiar para alguns: é a mesma função de radar aprimorado que alguns carros da Tesla – do bilionário Elon Musk – usa para trafegar em seu modo de pilotagem automática.
No presente exemplo, a aplicação é similar: o sensor LiDAR acoplado no que parece ser a “boca” do cachorro-robô consegue mapear o terreno não apenas em modo plano, mas também em formação de relevo. Todo esse “tecniquês” serve para explicar algo simples, mas que nem todo mundo do ramo faz: identificar mudanças de altura para que Lucky, por exemplo, saiba que o chão do palco acabou e, se ele continuar caminhando para frente, vai levar um tombo feio. Isso foi especialmente evidente quando os espectadores do painel viram ele subir e descer a escada de acesso sozinho, ou se afastar um pouco de Mario antes de saltar, a fim de evitar “trombadas” com o apresentador. Sensores coloridos em LED fecham o pacote de tecnologias: “no verde e no azul, tá tudo bem, mas no vermelho, corre!”, exclamou Mario.
Outra funcionalidade interessante é que ele permite a adição de novos comandos em tempo real, conectado a sistemas como Linux e Windows. Isso abre possibilidades imensas para a personalização e adaptação de suas funções conforme a necessidade do usuário.
Robótica e IA: relação de dominância ou sinergia?
Durante a apresentação, Mario trouxe uma metáfora interessante – e bastante conhecida sobre a Inteligência Artificial: “hoje, o homem é o ser mais inteligente do planeta, e pensando nisso, ninguém cogita simplesmente erradicar os nossos pets, certo? Há quem pense que, se e quando a IA ficar mais inteligente que o homem, nós é que seremos os ‘pets’ dela”.
A ideia pode soar tenebrosa para alguns ouvintes, mas traz um certo mérito: se a IA aprende com bases de conhecimento humanas, então é natural que alguns viéses nossos — como “não querer fazer mal a pets” — sejam transferidos à ela.
Mario é apoiador dessa ideia: foi enfático ao dizer que não vê a IA como uma “tomadora de empregos”, como muitos temem, mas sim como uma ferramenta que será cada vez mais integrada ao nosso cotidiano. Segundo ele, no futuro, a IA será um conhecimento técnico que profissionais precisarão dominar, da mesma forma que aprendemos outras habilidades ao longo do tempo, não muito diferente do “conhecimentos em pacote Office” que você coloca em seu currículo.