O que há em comum por trás dos uniformes de colaboradores de empresas como LeroyMerlin, Itaú, FedEx, CCR Rodoanel, Panpharma e Makro? Todos eles, sem exceção, estão no radar de uma logística reversa. Cada vez mais, o consumo consciente e o espaço do ESG no mainstream têm chamado a atenção de empresas e consumidores quanto ao recolhimento dos produtos inutilizados. No caso da logística reversa, a exposição de engajamento de empresas em projetos ligados a meio ambiente e sociedade é cada vez mais visível com pontos de coleta de eletrônicos e roupas.
Mas mais do que a logística reversa, há empresas trabalhando com cooperativas e grandes marcas na criação de novos produtos, promovendo um verdadeiro cenário de economia circular e geração de valor compartilhado. Sendo assim, outras duas coisas em comum entre os uniformes das empresas citadas acima, além da logística, são o valor social gerado e o problema ambiental resolvido.
“Hoje a gente faz o trabalho que chamamos de integrar a vida têxtil. Ela vai muito além do resíduo têxtil. Passa pelo plantio do algodão, pela extração da matéria prima, pelo beneficiamento e transportes. A gente integra ao viabilizar a gestão responsável, inovadora e inclusiva de resíduos têxteis pós-consumo — que é onde está a maior complexidade e o maior desafio”, explica Jonas Lessa, CEO da Retalhar.
Considerada a segunda maior indústria que mais polui no mundo — muito por conta do consumo de água e agrotóxicos ao algodão e do microplástico do poliéster —, a indústria têxtil conta com uma política nacional de resíduos sólidos no Brasil, que coloca a logística reversa como um instrumento de desenvolvimento social e econômico. Contudo, o desenvolvimento social muitas vezes fica em segundo plano.
“Eu destaco esse social porque desde que começamos vimos brotar muitas iniciativas dizendo fazer logística reversa, mas não fazendo nada do ponto de vista social. Muitas vezes nada mais é do que coletar o resíduo e mandar para o aterro sanitário. É tirar o resíduo da frente do cliente deles”, critica o CEO.
Esforço coletivo
A logística reversa têxtil gera oportunidade de criar novos produtos. No caso da Retalhar, por exemplo, o sucesso está na capacidade de criar sacolas, camas de cachorro, luvas profissionais para altas temperaturas, aventais e brindes customizados para empresas.
Lessa ressalta que a logística reversa é obrigatória para certos tipos de materiais colocados em acordos setoriais, como pneus, lâmpadas fluorescentes, embalagens de óleo, lubrificantes, remédios, mas quando a conversa chega no têxtil, quase não há obrigatoriedade. “O têxtil não aparece. Ninguém sabe, ninguém viu. Tem a obrigatoriedade, mas no detalhe, essa obrigatoriedade é defensável pelo departamento jurídico de certas empresas têxteis”, esclarece o executivo, lembrando que algumas empresas preferem acionar o jurídico a acionar um projeto.
No caso das que topam o compromisso social, a Retalhar tem feito parcerias também com empresas como Centauro, C&A, Nestlé, Heineken, Mercado Livre, Globo e Amil, que preferem pagar mais para apoiar a economia circular. “A gente vê a percepção de valor se aproximando da disposição de pagar. Mais que interessante, isso é necessário.”
O que as grandes empresas precisam
Lessa conta a Retalhar oferece três tipos de serviços a suas parceiras: destinação correta a uniformes profissionais — ou itens como mochilas, no caso da parceria com o iFood para malas de entregas —, confecção de produtos a partir de resíduos têxteis e consultoria e desenvolvimento de soluções integradas e preventivas para processos, produtos e resíduos. “A consultoria é para ajudar empresas a incorporar na tomada de decisão lá no começo, desde o material que a estilista vai usar.”
O CEO da empresa explica que há um forte sistema de segurança para os uniformes, já que o assalto uniformizado está consolidado há décadas. Empresas, aliás, chegavam a queimar uniformes velhos por conta do risco. Além de dar a destinação correta aos resíduos, de acordo com a lei, a Retalhar trabalha na geração de cases de economia circular junto às parceiras, além de certificá-las.
Ao investir na economia circular, essas empresas contribuem para a geração de empregos a trabalhadores em situação vulnerável, empodera comunidades cooperativas, reaproveita centenas de toneladas de resíduos e evita emissões de carbono.
“Por trás de cada quilo que compõe os mais de 200 mil quilos que conseguimos reciclar tem uma grande empresa que pagou mais caro por isso em comparação com o que ela pagaria nas alternativas padrões de coprocessamento e envio para aterro sanitário. Então, é uma grande vitória de princípios e valores. Estamos mostrando e fazendo com que elas paguem a mais pelo valor socioambiental. Não estamos competindo com o aterro”, comenta Lessa.
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