Imagine entrar em um museu que não exibe quadros ou esculturas, mas sim histórias de liderança. Cada sala foi montada por quem viveu e vive o desafio de liderar. Nesse espaço, estão visões únicas, moldadas pelas experiências que colecionaram ao longo do caminho, influenciadas pelo ambiente ao redor e pelas pessoas com quem cruzaram. O lugar vai além de um passeio por conceitos: se torna uma reflexão sobre o que significa, de fato, ser líder.
Além disso, os objetos não são estáticos, como acontecem nos museus tradicionais. Eles mudam conforme o olhar de quem observa. Afinal, liderar é ação e dinamismo. Não é um modelo pronto a ser seguido, mas uma construção diária e coletiva.
A arte de liderar, por muitas mãos
Essa exposição aconteceu durante o Consumidor Moderno Experience Summit 2025, realizando em Istambul, na Turquia. Em uma dinâmica comandada por Sandra Lindman, head of Growth na Hyper Island, líderes criaram um museu da liderança. A proposta era captar imagens que representam um estilo de liderança, escrever sobre o que significa ocupar este papel e, a partir disso, construir um grande mosaico. “Ser líder é encontrar a equipe que fará o trabalho da melhor forma e crescerá”, comenta. Assim, surgiu uma exposição viva, feita a muitas mãos, na qual foi possível enxergar não apenas o que os líderes pensam, mas no que acreditam.
A maioria das anotações fala sobre servir, ajudar, remover obstáculos. Também apareceram colocações sobre flexibilidade, inovação e um estilo de liderança que acolhe a equipe. Isso representa uma proximidade que leva à consistência e à criação de conexões. Ser adaptável aos problemas, pessoas e momentos também foram conceitos frequentes na exposição.
Pensar sobre como diferentes lideranças têm trabalhado ajuda a desafiar o status quo, a romper com aquilo que é feito do mesmo jeito, com base sempre na mesma experiência. Revelam-se assim outros pontos de vista. É possível ter mais criatividade e pensar de novas formas através de uma proposta simples.
Liderança para quem?
Um ponto de reflexão é: será que aquilo que você acredita ser o seu estilo de liderança é o que realmente a equipe enxerga? Esse é um momento de fazer um dupla checagem, conferir se a percepção dos outros está em linha com o que pensa e encontrar formas de avaliar a própria liderança. Às vezes, apesar da crença de estar sendo claro ao comunicar o propósito, não significa que, necessariamente, o líder está em sintonia ou se conectando com a equipe. Porém, se há coesão no propósito com aquele grupo, é possível conquistar outras metas. E isso pode crescer.
Além disso, se por um lado há diferentes perspectivas sobre o mesmo problema, por outro, também há muitas semelhanças. Nesse cenário, mais do que B2B (empresa para empresa) ou B2C (empresa para consumidor), as lideranças são H2H: de humano para humano. No final, com diferentes pontos de vista, podemos encontrar novos caminhos.
Vale pontuar ainda que, no Brasil, a cultura influencia o estilo de liderança. Mas, quando há troca de experiências – seja na forma de liderar times ou ao observar empresas globais –, é possível adquirir novas perspectivas. Com o tempo, essas ideias são adaptadas e aplicadas à realidade local para alcançar melhores resultados.
Impacto da tecnologia na liderança
E, em um cenário em que a tecnologia impera, é importante pensar como a liderança evoluiu. Ao considerar que o conhecimento está na palma da mão, com fácil acesso à informação, o estilo de liderança baseado apenas no “eu sei das coisas” talvez não seja mais o mais eficaz.
“Como definir o que é criatividade quando as máquinas podem gerar? O que é artesanal ou algorítmico? O que se perde, o que se ganha quando o artesanal encontra o código? Como expressões culturalmente enraizadas permanecem relevantes no mundo hiperconectado?”, provoca Tim Lucas, head da Hyper Island North America.
As reflexões mostraram que, ao inserir a Inteligência Artificial (IA) nas demandas, a tecnologia pode sugerir caminhos que antes não foram pensados. Assim, é possível explorar novas direções que geram um fluxo de crescimento contínuo, que ajuda a evoluir de forma exponencial. Ela ainda contribui para que líderes possam ir além das próprias ideias e potencializar discussões.
As lideranças têm problemas similares, e a busca por network tem foco em temas específicos. Mas, conhecer visões de desafios diferentes promove uma ampliação do modo de enxergar esses desafios. Existem em comum a busca pela inovação e o objetivo de colocar a tecnologia a favor da gestão, mas sem esquecer o processo de humanização. E, diante desse foco, a tecnologia ajuda a tornar essa demanda mais simples, além de mais humana.
IA para mais conexões
A IA também é uma aliada no networking. A partir do momento que a tecnologia contribui na otimização da rotina – como, por exemplo, desenvolver templates, colher dados e informações –, há mais tempo para aplicar o lado humano. A IA vem para facilitar o dia a dia e liberar tempo de qualidade, tanto para usar a criatividade no trabalho, quanto para usufruir da vida fora do trabalho. Ou seja, esse tempo extra pode ser usado para gerar mais performance e mais humanidade. O importante é crescer, evoluir, manter as raízes e inovar sem perder o DNA.
O Brasil é continental, com laços culturais fortes. E o jeito de usar a tecnologia, muitas vezes, dribla padrões globais. Isso é um grande valor que deve ser exportado para o mundo: o “como” o brasileiro resolve, mais do que “o quê”. O brasileiro, naturalmente, é original.
“A troca de conexões reais, autênticas e busca por trocar constantemente nossa esfera de influência uns com os outros, é de uma beleza inconcebível”, finaliza Jacques Meir, diretor-executivo de Conhecimento do Grupo Padrão.
*Fotos: Douglas Lucena