O segundo dia do Consumidor Moderno Experience Summit 2025 começou com a seguinte questão: você sabe fazer uma torrada? Parece simples, mas ao ser feita para um grupo de líderes, essa pergunta vai além do preparo de um pão. A questão se tornou uma metáfora instigante sobre como trabalhamos, nos comunicamos e, principalmente, como enxergamos o mundo. Afinal, cada pessoa conta com a sua própria lente.
Em cada organização, acreditamos que os processos são claros e objetivos. Pensamos que as visões são universais. Em muitos casos, projetamos estratégias com base apenas no nosso ponto de vista. Porém, quando os processos são criados de forma singular, não há uma diversidade real. Incluir múltiplas perspectivas de diferentes pessoas pode mudar a forma como o trabalho é feito. Ou seja, para que a diversidade dê resultados, é preciso colocá-la em prática. É necessário ir além do discurso. Diferentes visões podem se complementar para construir e, dentro das diferenças, pode haver semelhanças que tornam o processo mais rico.
Visões diversas podem se complementar
A proposta de preparar uma torrada foi apresentada aos líderes presentes no CM Summit Experience 2025 por Tim Lucas, head da Hyper Island North America. Porém, o processo teria que ser desenhado em seis etapas. O desenho deveria ser mostrado para os demais integrantes do grupo. O objetivo era refletir sobre as semelhanças, diferenças e o que isso diz sobre o ser humano quando o assunto é processos.
A atividade, que parece simples, trouxe importantes reflexões sobre comunicação, interpretação e diversidade de pensamento. Apesar de todos os grupos partirem da mesma tarefa, os caminhos foram distintos. Essa pluralidade mostrou como uma mesma orientação pode ser compreendida de maneiras variadas, especialmente quando não é completamente clara ou específica. Ao mesmo tempo, podem se tornar ricas quando unidas. Além disso, mostrou que o nível de detalhamento entre as mais diversas pessoas pode variar bastante.
Com os resultados, a conclusão foi: trabalhar com a diversidade, aceitar diferentes metodologias e formas de pensar é, de fato, algo muito rico. Desenhar as etapas de uma fabricação de pão pode parecer simples inicialmente, mas quando isso é levado ao dia a dia se torna uma metáfora para o cotidiano. Qual é o “processo do pão” feito todos os dias, o tempo todo? O que é pedido à equipe?
“Cada um de vocês trabalha com processos muito complexos no dia a dia. Mas, quando eu peço que representem algo tão simples, como fazer uma torrada, percebemos que não é tão simples assim. Porque cada pessoa da sua equipe, provavelmente, imagina os processos de trabalho de um jeito um pouco diferente, mas também existem coisas em comum”, destaca Tim.
Além disso, ao incluir características mais humanas no processo, destaca-se a diversidade de perspectivas. Assim, em uma jornada colaborativa, é possível pegar o melhor de cada integrante dos times dentro das companhias e transformar em algo maior, com a riqueza de detalhes que a diversidade promove.
“Falamos tanto de diversidade e inclusão, mas muitas vezes não mudamos a forma de trabalhar. Chamamos pessoas com perfis diferentes para a empresa, mas continuamos fazendo tudo do mesmo jeito. Com ferramentas como essa, dá para incluir todo mundo. O resultado é muito mais criativo. Precisamos desse tipo de processo nas empresas”, reforça. “Quando isso é feito em grupo, há uma síntese das visões diferentes. Isso torna possível aproveitar a diversidade do grupo.”
O mundo é circular
Há um paralelo entre o mundo antigo e o atual. Se antes nada era conectado, hoje há conexões que permitem trabalhar com mais projetos. Esse é um grande desafio das empresas.
“O mundo antigo era linear. Mas o mundo não é linear; é circular. Não dá para imaginar nossos processos como algo onde você tira uma parte e não tem impacto em tudo”, pontua.
Assim, vivemos uma transição do linear e sequencial para o radial e simultâneo. “Inputs e outputs chegam a todo momento, e você precisa devolver o tempo todo. Não adianta seguir processos lineares, porque eles são sequenciais e a informação se perde nos silos”, comenta Jacques Meir, diretor executivo de Conhecimento do Grupo Padrão.
Nesse contexto, as ideias são emergentes. Quanto mais visões diferentes forem reunidas, mais novas ideias surgem. O desafio para os líderes é ajudar suas equipes a entenderem que trabalham em partes, e precisam ter uma visão maior. “Quanto mais entendermos o sistema de uma forma um pouco mais ampla, melhor”, aconselha Tim.
Análise para a síntese
Cada vez mais, o líder vai precisar não só entender os elementos por si mesmo, mas como as relações entre eles determinam o sucesso da empresa. O problema é que, muitas vezes, ficamos presos demais na análise isolada dos pontos.
É até possível estabelecer onde há uma correlação, e onde há a causalidade. Quando são olhados apenas os pontos, não há uma noção exata. Assim, muitas vezes pode ser levado por um viés que compromete a qualidade da análise, e não chega à síntese.
Além disso, é necessária a transição do what para o how. “Vocês são experts, com um nível de conhecimento intenso sobre processos e partes da empresa. Esse é o what, mas vivemos em um mundo em que o how será cada vez mais importante. Não é o que e como você faz, ou a qualidade das pessoas da sua equipe. É como as pessoas se relacionam. Isso vai ser cada vez mais determinante. São elementos básicos de uma forma sistêmica de pensar”, finaliza.
*Fotos: Douglas Lucena