Como normalmente acontece a cada quatro anos, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos acabam deixando uma série de exemplos de sucesso do trabalho em equipe e da importância do papel das lideranças durante competição, mesmo que o trabalho não resulte em uma medalha de ouro.
Nos jogos de Tóquio, porém exemplo, não foi diferente. A superação do time do vôlei feminino do Brasil evidenciou a união e a qualidade da equipe e a segurança do seu técnico. Mesmo tendo enfrentado um período de preparação turbulento, a contusão de uma de suas principais atletas e a perda de outra durante o campeonato, o time – que não era cotado para disputar a final – conquistou a medalha de prata.
O esporte é repleto de momentos inspiradores para quem lidera equipes no dia a dia e precisa extrair o máximo de cada um para que o resultado seja satisfatório. Liderar é um desafio e, em tempos de trabalho remoto ou híbrido, é maior ainda. A boa notícia é que ser um bom líder é possível para qualquer um que deseje verdadeiramente exercer esse papel.
No livro “O melhor do Cortella: trilhas do fazer”, o filósofo, professor e palestrante, Mario Sérgio Cortella seleciona suas melhores frases e reflexões publicadas e afirma que liderança não é dom, mas sim uma virtude. “É exatamente porque não é um dom que podemos debater o tema. Porque, se fosse dom, não haveria discussão: a pessoa nasce ou não com esse traço; ela possui ou não. Já que não é dom, podemos considerá-la virtude”, escreve.
E quem é o líder na visão do filósofo? Não é o chefe que vive de dar ordens, mas a figura que inspira. “Enquanto a chefia é caracterizada pelo poder de mando sustentado pela posição que a pessoa ocupa em determinada hierarquia, a liderança é uma autoridade que se constrói pelo exemplo, pela admiração, pelo respeito”, define Mario Sérgio Cortella em sua obra.
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Como o líder estimula o trabalho em equipe em tempos de pandemia?
Para Roseluci Ramos, professora da Fundação Dom Cabral e mestre em Administração com ênfase em inovação e competitividade, antes de qualquer coisa, o líder é a referência da equipe, tanto em termos de comportamento como em condução técnica da gestão da sua área de atuação. Assim, sua influência precisa ser clara e direta sobre a forma como o trabalho deve ser organizado.
O momento, porém, exige um cuidado especial, segundo a professora, uma sensibilidade e uma compaixão maiores devido ao momento desafiador que todos estamos vivendo, que não devem ser confundidas com “ser bonzinho”. “Não tem a ver com maldade ou bondade, tem a ver com organização, diretrizes e justiça, para que três aspectos essenciais possam ser trabalhados nesse momento: clareza de diretrizes, condições de trabalho e desenvolvimento de habilidades”, diz.
Segundo Roseluci Ramos, a liderança precisa deixar claro para a equipe o que é preciso ser feito: quais são as metas, quais os objetivos e – obviamente – estabelecer com clareza qual o papel de cada um dentro do time.
O líder também precisa garantir que seus colaboradores possuam condições mínimas de exercer suas funções, seja no escritório ou em casa, no caso do trabalho remoto. Caso seja necessário, é seu papel providenciar junto à organização o máximo que puder para que o funcionário possa trabalhar.
Por fim, a pandemia e as condições especiais não devem evitar que a equipe continue desenvolvendo suas habilidades. Para isso, explica a professora da FDC, é preciso que a comunicação seja muito clara e que as práticas que existiam antes da pandemia – como as reuniões, por exemplo – continuem acontecendo.
“É importante que as lideranças estejam atentas aos sinais de angústia, de estresse. E que a própria liderança se cuide, olhe para si mesma. E que olhando para si, possa respeitar o início e o final das rotinas de trabalho. Para que as pessoas não se sintam exauridas pelo desejo de fazer entregas ou até por medo da concorrência”, alerta Roseluci Ramos.
“Quando a liderança atua assim junto da equipe podendo fazer o reconhecimento adequado do trabalho estimulando cada pessoa é estatístico e real que o engajamento atinge níveis muito mais satisfatórios”, garante a mestre em Administração.
Os riscos do trabalho remoto
A falta da presença física do líder junto a equipe pode minar o trabalho e afetar os resultados da organização – mesmo que as responsabilidades tenham sido divididas – se ambos os lados não se esforçarem para compartilhar momentos juntos.
Por isso é importante, segundo Roseluci Ramos, que durante as reuniões virtuais o líder insista para que as câmeras estejam abertas e haja interação. A criação de outros momentos de conversa – como feedbacks, por exemplo – também é válida para que a equipe não perda conexão com a liderança e o negócio.
“Quanto mais essas questões de aproximação, de fortalecimento da conexão forem colocadas em prática, menores são as oportunidades do entusiasmo e do senso de pertencimento serem minados”, afirma a professora da FDC.
A presença da organização nas redes sociais, em grupos de WhatsApp e plataformas de comunicação também é uma forma de manter uma aproximação com a equipe.
“Há que se ter um grande esforço coletivo para que aquilo que é tão salutar, principalmente para nós, sul-americanos, que somos altamente relacionais, possamos nos sentir menos sozinhos e menos desacompanhados”, avalia Roseluci Ramos.
A boa liderança faz diferença
No seu dia a dia como professora da Fundação Dom Cabral,Roseluci Ramos conta que tem ouvido feedbacks muito positivos de organizações cujas lideranças se mostraram presentes e ativas durante a pandemia. Algumas empresas experimentaram aumento de produtividade no período.
“Faz muita diferença quando o líder, ou a líder, equilibra seu papel de gerência – que é cuidar de processos – com o papel de líder, que é estar atento ao quesito pessoas, no cuidado, na clareza, na ampliação de olhares, no entendimento”, afirma a professora.
A equipe precisa sentir que faz parte da empresa, uma instituição na qual pode confiar mesmo em momentos de crise. E as principais “molas propulsoras” para isso, na opinião de Roseluci Ramos são a criação de um ambiente de segurança psicológica, a compaixão e a empatia.
“O líder precisa demonstrar sua capacidade de gerar credibilidade. A força do seu caráter. Na maneira íntegra como se coloca diante de suas promessas, suas posturas. O seu ‘walk the talk’ seja coerente, ou seja, o discurso seja condizente com a prática”, diz a professora, que comenta que não há nada mais desanimador do que uma liderança que não cumpre o que promete por conta da própria postura.
A confiança, por sua vez, para a mestre em Administração, vem com a humanização da liderança e sua capacidade de ter compaixão e empatia, ao mesmo tempo, cobrando o que precisa ser entregue com justiça e valorizando o bom trabalho. O líder atento consegue trabalhar a liderança situacional, na qual se dá mais apoio àqueles que precisam e um pouco mais de liberdade e autonomia para os que estão em um nível mais tranquilo e estável.
“É simples o trabalho que precisa ser feito, é só seguir com humanidade”, recomenda a professora.
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