Diante de uma plateia de 10 mil pessoas, entre elas professores, que ocuparam a primeira fileira do auditório, o ex-presidente americano Barack Obama subiu ao palco do VTEX Day na tarde desta quinta-feira (30) com duas horas de atraso. Elogiou o Brasil, criticou, em tom de brincadeira, o trânsito, e deu início ao bate-papo ao lado de Geraldo Thomaz Júnior, Co-CEO da VTEX, falando sobre como a sorte é importante na vida das pessoas.
“Poucos conseguem as coisas sozinhos. Tive a sorte de ter uma mãe incrível e que me fez acreditar que eu poderia ser o que eu quisesse”, disse Obama. Nascido no Havaí, ele destacou que não conheceu seu pai e que foi criado com a ajuda de seus avós. “Aprendi a confiar em mim e a não ter medo do fracasso”. Segundo ele, a própria esposa, Michelle Obama, tinha um instinto de querer protegê-lo do fracasso. “Tive que dizer a ela que se nada desse certo estava tudo bem”.
Ele também relembrou o dia mais difícil da sua vida, quando teve que consolar pais que haviam perdido seus filhos durante um tiroteio que terminou com 20 alunos mortos. E criticou a liberação de armas nos Estados Unidos. “Sabemos que, em alguns estados, temos leis para armas que não fazem sentido. Hoje é possível comprar até metralhadoras pela internet sem nenhuma regulamentação” disse Obama. “O pior, para mim, foi o fato de não poder trazer os filhos deles de volta nem prometer que mudaríamos as leis”.
Obama falou ainda sobre educação, diversidade, trabalho em equipe e outros temas que ocupam a agenda de executivos em todo o mundo. Confira:
Investir em educação
Obama também fez questão de destacar que educação não é um gesto de bondade, mas sim uma obrigação. “Dar às crianças uma boa educação não é caridade. É necessidade para o desenvolvimento de qualquer país”, reforçou. O ex-presidente citou como exemplo Cingapura, líder nos rankings mundiais de educação, e a Finlândia, onde professores recebem o mesmo salário de médicos, por exemplo. “Esses países já entenderam que nada é mais importante do que educar crianças”. E isso inclui dar a elas a capacidade do discernimento. “Diante dos desafios da política, muitas pessoas preferem manter suas ideologias ao invés de moldar sua opinião com base em fatos. E é preciso encarar a realidade, ainda que ela seja desconfortável”, afirmou.
Abraçar a diversidade
Formar uma equipe diversa é outra premissa de Obama para ter sucesso nos negócios. “Ter à mesa diferentes histórias, diferentes raças é importante na hora de tomar decisões porque temos pontos cegos. A diversidade nos ajuda a olhar o mundo pelos olhos de outras pessoas”, disse o ex-presidente.
Confiar na equipe
“Você é tão bom quanto a equipe que constrói”, reforçou Obama. Ele disse ainda que um bom líder não precisa ter todas as respostas, mas sim saber fazer as perguntas certas. E, para isso, é preciso estabelecer uma relação de confiança com a equipe. “Apendi a tomar decisões baseado em probabilidades. Quando mandei uma equipe capturar Bin Laden eu não tinha certeza, mas confiei”, disse Obama. Hoje, diz ele, um líder não pode garantir que tenha tomado a decisão certa, mas é preciso que ele tenha avaliado todas as possibilidades.
Acreditar nas ideias
Obama disse que apesar da região do Vale do Silício ser formada por um ecossistema que combina negócios já existes como Apple e Microsoft e grandes universidades, a exemplo de Stanford, “grandes ideias independem da geografia”. “A China está indo muito mais rápida nesse sentido. Mas quando Jack Ma (fundador da Alibaba) começou os seus negócios, há 30 anos, o País não tinha essa tradição. Essa é a prova de que todos podem fazer parte dessa revolução”, disse Obama. Nesse sentido, ele fez outra ressalva: a importância de os governos investirem na proteção da propriedade intelectual, incentivo que ajudou a China a deixar de plagiar e passar a criar coisas novas.
Defender causas
Eleito o 44º Presidente dos Estados Unidos, Obama lembrou ainda que durante o seu tempo de ativista em movimentos anti-apartheid, chegou a ficar aborrecido porque um dos seus discursos havia sido curto demais. Foi quando uma de suas professoras lhe deu uma lição que ele diz guardar até hoje. “Ela me disse: ‘Isso não é sobre você. Isso é sobre uma causa. É sobre uma luta. O seu sentimento e o seu ego não importam”. Eis um cuidado que as marcas precisam ter em abraçar ao invés de se apropriar de causas.