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Vivemos a era da não presença

Vivemos a era da não presença

Segundo o pensamento da renomada psicoterapeuta Esther Perel, quando apenas a tecnologia pode nos consolar, é sinal de que a humanidade está doente

Uma das grandes mensagens que absorvi do recente South by Southwest (SXSW), o badalado festival de inovação e cultura digital que bombou nos stories dos seus amigos, é que a relação entre humanização e tecnologia, mais especificamente a inteligência artificial (IA), é complexa e depende muito do contexto em que está inserida.

Se, de um lado, a IA pode ajudar a humanizar vários aspectos da vida vigente e contemporânea, melhorando a qualidade do cotidiano das pessoas e aumentando a eficiência e a produtividade em diferentes áreas; de outro, pode ser encarada como uma espécie de ameaça à humanização, principalmente nos momentos em que é mal utilizada ou convocada para substituir a interação humana.

Ou seja: ao mesmo tempo em que a tecnologia nos traz benefícios, ela promove efeitos colaterais.

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Em sua concorrida e aclamada palestra – eu chamaria de masterclass – no SXSW, a psicoterapeuta, podcaster e best-seller do New York Times, Esther Perel, conhecida por seu trabalho acerca das relações humanas, destaca que, mesmo com todos os avanços e benefícios gerados pela IA, só a tecnologia – e seus poderes anestésicos – não é o suficiente para criar intimidade e conexão entre as pessoas.

Ao ministrar o tema “A outra IA: a ascensão da intimidade artificial e o que isso significa para ‘nós’”, a famosa escritora belga reflete que, sem essa conexão, também ficamos desprovidos de criatividade, autonomia e liberdade – características indispensáveis para a inovação e o desenvolvimento da sociedade.

Perel chama a atenção para a expressão “intimidade artificial” – a outra IA, menos badalada -, em que faz um trocadilho com a inteligência artificial nos relacionamentos.

Para a professora da Universidade de Nova York, “a automatização da vida está se tornando um processo plano e previsível” e “a intimidade artificial virando algo comum e aceitável socialmente, mas isso não é suficiente.”

Daí se conclui que a intimidade é, sem sombra de dúvida, vital para nossos relacionamentos.

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Segundo a tese de Perel, a intimidade artificial confronta nossa condição humana e é impulsionada pelas múltiplas telas que nos hipnotizam e pelo tempo excessivo que passamos nas redes sociais.

A busca permanente pela otimização do tempo e dos recursos, por exemplo, impede que as pessoas se mostrem presentes e sejam surpreendidas.

Esse distanciamento do contato humano está disfarçado por uma super conectividade, que é a chamada “solidão moderna”.

Já está mais do que provado que a megaexposição à conexão interfere de modo intenso nas habilidades sociais de homens, assim como geram ansiedade e depressão em mulheres.

O problema, aponta Perel, é que uma hora podemos precisar do apoio de um amigo, mas ele não poderá nos atender porque estará trocando mensagens em algum aplicativo de relacionamento ou tentando conquistar curtidas em suas postagens nas redes sociais.

Nesse exato momento, teremos de recorrer aos contatos virtuais e, quando só a tecnologia puder nos consolar, será sinal de que a humanidade adoeceu.

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Ter intimidade artificial com um bot não incomoda Perel, mas, sim, como as conexões facilitadas digitalmente estão diminuindo nossas expectativas de intimidade entre humanos.

O que nos traz Perel é perturbadoramente devastador: “o que me preocupa é como o nosso envolvimento com a tecnologia está reduzindo as nossas expectativas nas relações com os seres humanos. É como se interagir de qualquer jeito fosse aceitável, mesmo que a intimidade não esteja mais presente.”

Sugestões intermináveis sobre o que comprar, quem namorar, o que escrever, onde procurar e o que ouvir a seguir fluem direto para nossas mãos, nos levando a achar que temos controle sobre este mundo confuso e incompreensível. Para piorar, o dilúvio de feeds com curadoria perfeita não ajuda em nada…

Para Perel, estamos envoltos em artificialidades como “possuir mil amigos virtuais, mas não ter ninguém para pedir para alimentar o seu gato”.

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O fato é que estamos fisicamente presentes, porém emocionalmente ausentes.

A crença da acadêmica é de que as relações interpessoais, seja dentro de casa, com pessoas íntimas, em um restaurante, cada um com a sua tela, sem conversar, ou em uma refeição em família, sofrem a concorrência de adversários de impacto como o celular, os metaversos e o anseio de estar por dentro de tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, na linha do filme que foi o grande vencedor do Oscar 2023.

O recado vem como uma flecha certeira no alvo: precisamos estar mais disponíveis uns para os outros.

É por isso que Perel deixa uma provocação do bem: “será que ‘saber tudo’ está nos deixando menos preparados para as incertezas e imperfeições inerentes ao amor e à vida?”.

A verdade é que perseguir a certeza nos deixou inflexíveis e socialmente atrofiados.

Contudo, como isso está afetando nossas parcerias, amizades e comunidades? Por mais que tentemos, não podemos otimizar a intimidade – ou será que podemos?

Na visão de Perel, o sentimento de prazer costuma vir do desconforto ao assumirmos riscos, já que é ele que nos permite descobrir quem somos – e quem não somos – ou destravar potências que não achávamos que tínhamos.

Nunca acreditar que estamos certos talvez seja a melhor maneira de lidar com esse dilema.

E você, o que pensa sobre isso?



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