No que os negócios de uma fabricante de eletrodomésticos se cruzam com os de uma operadora de canais de televisão? Uma resposta possível está na Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês), já que estas e muitas outras indústrias lidam com aparelhos e serviços que sempre estiveram dentro da casa das pessoas e, uma vez que começam a poder se conectar à rede e a outros equipamentos, devem reformular as nossas vidas e, com isso, a maneira como as empresas lidam com os seus produtos.
“A Internet das Coisas é o que está fazendo a tecnologia sair da cadeia produtiva e chegar ao dia a dia das pessoas. É uma junção de produtos, sensores e plataformas de comunicação que gera a capacidade de se criar novos serviços para o consumidor final, e isso já começa a ser testado e experimentado”, diz Alex Rocco, diretor de marketing da SKY. Rocco participou, ao lado da diretora de tecnologia da informação da Whirlpool na América Latina, Renata Marques, de uma mesa de debates que discutiu os impactos da IoT e M2M (“machine to machine”) para os negócios, durante o primeiro dia da Conarec 2016. O debate foi mediado por Eduardo Peixoto, CBO do CESAR, Centro de Estudos Avançados de Recife, voltado para incubação e desenvolvimento de novas tecnologias.
Renata citou diversos exemplos de dentro da Whirlpool que já colocam em prática, hoje, o potencial da IoT. “Já há quem fale em ‘internet de tudo’, não só das coisas”, disse ela. “As máquinas estão mandando informações umas para as outras e nos avisando do que acontece em tempo real”. No Estados Unidos, contou, a companhia, dona das marcas Brastemp e Consul, já possui eletrônicos que, por meio de conexão a um hub central de informações no domicílio, detectam quais são os horários de menor consumo de energia para decidir quando o aparelho deve estar ligado e funcionando, o que gera descontos na conta de luz.
No Brasil, os primeiros experimentos estão sendo feitos com os purificadores de água da Brastemp, que são instalados na casa dos clientes por meio de um pacote de assinatura. Com sensores internos, eles verificam a temperatura da água e a regulam em tempo real. “Sempre recebemos muita reclamação de regiões quentes, como Nordeste ou o Rio de Janeiro, de que a água não estava gelando”, conta Renata. “Antes o cliente tinha que ligar para a central, fazer a reclamação, aguardar o técnico. Hoje já antecipamos o problema e ajustamos remotamente.”
Para Peixoto, do CESAR, mais do que mexer apenas na comodidade e agilidade ao consumidor, a IoT mexe diretamente no modelo atual de negócios da indústria e a obriga urgentemente a se reinventar. “A indústria está saindo de um modelo de produto para um modelo de serviços, e não porque é uma tendência, mas porque é uma necessidade”, disse. “A Internet das Coisas torna os produtos mais eficientes. Ela permite o compartilhamento, como já faz o Uber, que nada mais é do que um carro monitorado se colocando à disposição de outros quando está ocioso. Com mais eficiência, a produção deve cair, e por isso as empresas devem começar a agregar serviços e multifuncionalidades aos produtos que já possuem”.