O empreendedor curitibano Jacson Fressatto perdeu sua filha Laura por sepse, em 2010. A partir daí entendeu que nada traria ela de volta, mas que poderia usar recursos tecnológicos somados a inteligência artificial para criar mecanismos que contribuíssem para que outras famílias não passassem pelo que passou.
Ele então desenvolveu o robô Laura, que detecta precocemente um possível caso de infecção generalizada, auxiliando médicos e enfermeiros a salvar muitas vidas.
Segundo a ILAS (Instituto Latino Americano da Sepse) apenas 27% dos médicos conseguem diagnosticar a doença.
A Sepse é uma resposta desregulada do nosso organismo frente a uma infecção que pode levar a morte. Estima-se que haja 2 milhões e meio de casos por ano no Brasil e, desse número, cerca de 250 mil pessoas morrem anualmente. Mata mais que o câncer e lidera o número de mortes em praticamente todos os países do mundo.
A Laura é um poderoso robô cognitivo capaz de coletar e analisar um imenso volume de dados. Ela lê os dados clínicos dos pacientes, faz uma análise em tempo real e compara as informações coletadas com os atendimentos anteriores emitindo um alerta caso um dos pacientes apresente maior propensão de desenvolver a forma mais grave da infecção.
A inteligência artificial empodera as equipes médicas para tomarem decisões mais assertivas e eficientes através das informações completas que ela gera.
“Nenhuma empresa, startup ou país do mundo é capaz de reverter o que aconteceu comigo em 2010. Mas tenho capacidade com a minha tecnologia de mudar a história de centenas de milhares de pessoas”
Jacson Fressatto,
Presidente Instituto Laura Fressatto
Um exemplo é a atuação do robô Laura no Hospital da Criança em Santo Antônio, em Porto Alegre. A cada 3,8 segundos o algoritmo analisa o quadro clínico de mais de 1.100 pacientes, gerando informações relevantes sobre cada um deles e disparando alertas caso a situação dos internados apresente mudanças negativas.
Confira abaixo a entrevista com Jacson Fressatto, Presidente do Instituto Laura Fressatto:
NATANAEL SENA: Antes de tudo parabéns! Lidar com a dor nunca é fácil e você fez dela um motivo para ajudar milhares de pessoas. Como esse sonho se tornou realidade? Qual o estágio atual da Laura?
JACSON FRESSATTO: Realmente não é fácil lidar com essa dor, mas acredito que nunca perdi a Laura, ela continua presente como minha motivação para fazer esse sonho ir ainda mais longe. Desde o nosso lançamento, em 2016, até hoje, minha equipe e eu temos trabalhado incansavelmente para levar tecnologia de ponta e de alto impacto social para mudar a saúde brasileira. Hoje a Laura chegou a um novo estágio: está ajudando a salvar 12 vidas por dia. São 12 famílias que renascem e não chegam a passar pela mesma dor que eu passei. Em agosto, entramos em um novo estágio e mudamos nossa estruturação jurídica para organização da sociedade civil: agora somos Instituto Laura Fressatto. O objetivo é levar tecnologia de ponta ao maior número de hospitais públicos e filantrópicos do país. Com esse formato, conseguimos subsidiar os custos de implantação da Laura nessas instituições. Afinal, todos têm direito a uma saúde de qualidade. Essa evolução não seria possível sem um time multidisciplinar e incansável, que acredita nesse propósito tanto quanto eu. Nosso diretor médico, Hugo Morales, é infectologista pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e mestre em medicina interna. O diretor de tecnologia e cofundador da Laura, Cristian Rocha, é mestre em inteligência artificial e visão computacional pela Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. Ainda contamos com a experiência de profissionais de desenvolvimento, ciência de dados e outras áreas.
NS: Apenas hospitais com portuários 100% digitais conseguem implantar a Laura?
JC: Não. Hospitais de todos os portes podem ter a Laura. Nossa equipe procura conhecer a realidade de cada instituição para definir o melhor caminho a seguir. As equipes assistenciais podem, por exemplo, enviar para a Laura os dados do paciente de forma manual. O prontuário digital é uma ferramenta importante, mas sabemos que a realidade da saúde brasileira é muito diversa. Nosso trabalho é justamente democratizar o acesso à tecnologia de ponta em hospitais.
NS: Em 2018 o robô Laura ajudou a salvar aproximadamente 10 vidas por dia. Existe uma meta para os próximos anos?
JC: Em 1.003 dias de operação, a Laura já ajudou a salvar 12.283 vidas, uma média de 12 por dia. Está funcionando em 13 hospitais piloto, de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Nosso objetivo agora é chegar a 100 hospitais atendidos e a meta mais audaciosa é impactar positivamente 1 bilhão de pessoas, entre pacientes, familiares, médicos e equipe assistencial.
*Natanael Sena é fundador da InSenna Storytelling