O mercado global de Inteligência Artificial no varejo foi estimado em US$ 6 bilhões em 2023. Um número expressivo. Mas considere que as estimativas apontam para uma movimentação de cerca de US$ 40 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa anual composta (CAGR) de mais de 30%. Essa projeção pode até ser conservadora, a partir das possibilidades em jogo.
A adoção da IA está sendo impulsionada por tecnologias como vision AI (reconhecimento de imagens em lojas), recomendações personalizadas, previsões de demanda e otimização logística. No centro dessa revolução, está a NVIDIA, que sustenta a infraestrutura da IA generativa e suas infinitas aplicações.
O fato é que o código que identifica o varejo está sendo redefinido. Toda a lógica de construção estratégica está em transformação. O varejo está, a cada dia, se tornando mais e mais complexo. Essa complexidade demanda habilidades e competências que extrapolam conceitos como omnicanalidade, digitalização e até mesmo personalização. Porque o novo código do varejo parte da premissa de que o mudança é um estado permanente e as lideranças parecem perplexas ou inseguras para readaptar as suas empresas a essa realidade incerta.
O varejo americano cumpre uma função social importante. Ele conecta comunidades e é um porto seguro para mobilizar cidadãos mesmo nas crises mais agudas, como a que o Estado da Califórnia enfrenta nesse mês de janeiro, com os incêndios apocalípticos em Lós Angeles. Nesses momentos, as comunidades afetadas podem contar a solidariedade efetiva das maiores redes de varejo, reforçando laços e senso de pertencimento.
Esse é, em resumo, o cenário do varejo desde a chegada da IA generativa, justamente numa época de queda e compressão de renda, em que mudanças políticas e novos comportamentos do consumidor, modificados com velocidade sem precedente na história. Este cenário que embasou as discussões, debates e apresentações na NRF 2025, evento anual que acontece todo o mês de janeiro em Nova York, nos Estados Unidos.
Conexão varejo e Inteligência Artificial
Uma demonstração da incerteza e do quanto o novo código do varejo abre oportunidades (e quais as competências necessárias para isso) reuniu NVIDIA e Walmart logo na abertura da NRF. A gigante varejista, criada pelo lendário Sam Walton em 1962, teve uma experiência amarga no mercado brasileiro, enquanto tinha de lidar com o crescimento avassalador da Amazon nos Estados Unidos. Adaptada à era digital, a Walmart hoje adota IA para otimização de estoques, precificação dinâmica e personalização no e-commerce.
No painel da NRF, John Furner, CEO da varejista conversou com Azita Martin, VP e responsável pela área de varejo e bens de consumo da NVIDIA. Azita é física e engenheira e quis se dedicar à indústria de alta tecnologia. Trabalhou em diversas startups e tem uma inclinação para investigar as possibilidades da Inteligência Artificial, o que a levou para NVIDIA. Na conversa com John Furner, Azita se colocou como uma profissional que procurou não ceder ao ego e sim ao seu feeling quando recebeu a proposta de se juntar à NVIDIA, uma aposta que se mostrou incrivelmente vantajosa. Afinal, falamos da empresa que atualmente é a grande protagonista da era da IA e cotada como a organização mais valiosa do mundo.
O sucesso da NVIDIA é uma combinação de um ecossistema de desenvolvedores, um senso de propósito orientado a tornar possível a adoção ampla e democrática dos sistemas de IA, não apenas nos negócios, mas também na vida cotidiana. “Eu sou a IA disponível para a vida das pessoas”, diz o comercial, que explica o alcance e a influência da empresa em nossa realidade.
Aplicações e resultados
Azita também trouxe alguns casos nos quais as aplicações da NVIDIA facilitaram e aumentaram dramaticamente lucros, vendas e produtividade no varejo, como na Lowe’s e na própria Walmart. Furner reconheceu que a personalização finalmente se tornou viável com a IA potencializada pelos sistemas da NVIDIA. É fundamental observar que 80% dos consumidores são mais propensos a comprar de marcas que oferecem experiências personalizadas. E a Walmart hoje explora IA em diversas frentes do negócio, como segue:
- Criar recomendações hiperpersonalizadas em tempo real no e-commerce e nas lojas físicas;
- Utilizar chatbots avançados para suporte ao cliente, baseados em IA generativa;
- Automação e eficiência operacional com reposição autônoma de estoques, baseada em previsões de demanda alimentadas por Big Data;
- Robôs de warehouse (armazenagem automatizada) para melhorar a eficiência logística em seus mais de 150 centros de distribuição.
A arquitetura de GPU da NVIDIA, que fundamenta seus “transformers” e modelos de linguagem, permite desenvolver e construir sistemas digitais autônomos que tomam decisões e incrementam tarefas em níveis exponenciais. A plataforma Omniverse, por sua vez, possibilita a simulação e digitalização de operações inteiras (digital twins), otimizando processos em tempo real. A IA física combina a visão computacional com modelos de robôs capazes de atuar no mundo físico para criar experiências mais ricas e convincentes por um lado, e eficientes e ágeis por outro. Assim, essa IA tem modelos de linguagem que desenvolvem percepções acuradas da realidade e então, cumprir com tarefas predeterminadas com notável eficiência.
E o futuro? Quais os desafios que a IA pode ajudar a superar nos próximos meses? No entender da executiva, o Supply Chain pode ser aperfeiçoado com a adoção dos gêmeos digitais das lojas, à medida em que esses canais físicos ainda respondem por 80% do faturamento da maior parte das redes varejistas. No entender de Azita, a logística e a distribuição, o inventário e o estoque devem permitir que as lojas e os produtos se adaptem melhor à imprevisibilidade do mundo e se aproximando mais das necessidades e movimentos dos consumidores.
Como já falamos em outro artigos e notícias aqui na Consumidor Moderno, um dos pilares do bom uso da Inteligência Artificial está no design de bons modelos de uso da tecnologia, com tarefas bem mapeadas e que sejam versáteis para aprender com as exceções e se manter em evolução constante para representar da melhor forma a dinâmica da vida real.
E para aqueles que estão dando seus primeiros passos na adoção de IA, quais as recomendações? Nas palavras da executiva da NVDIA, a “Inteligência Artificial é real e cada empresa deve mapear seus desafios reais, seja Supply Chain, seja experiência, seja reposição, não importa. Os desafios precisam estar mapeados, com métricas bem claras para permitir a avaliação correta das atividades que serão de responsabilidade da IA”.
Essas são lições valiosas para um país como o Brasil, normalmente hesitante na adoção de tecnologias e céticos quanto aos resultados efetivos que ela pode trazer. A tecnologia tem a capacidade de comoditizar negócios que não têm habilidades para utilizar recursos, funcionalidades e, mais importante, combinar funções com a criatividade e o gênio humano. No mais, é a tecnologia, com Inteligência Artificial e seu imenso potencial à disposição dos gestores e dos negócios, que podem tornar empresas mais maleáveis a aprender e mais ágeis para ganhar mercado agressivamente, trazendo eficiência, criatividade e a melhor experiência do cliente.