Você chega a uma entrevista de emprego e vai logo dizendo: “sou uma pessoa muito inovadora”. E ouve da empresa: “aqui só contratamos pessoas inovadoras para todas as funções. Por isso atraímos os maiores talentos do mercado”. Esse diálogo que beira a egolatria de parte a parte revela o quanto a discussão sobre inovação está superestimada.
SXSW resolveu colocar o dedo nessa ferida e trouxe um painel provocativo: “Você é inovador. E daí?”, com a presença de lideranças da economia criativa nos EUA. Profissionais como Deborah Hankin, fundadora do “Talent Team” da Sy Partners em 2014, após passagens bem-sucedidas por algumas das maiores agências de publicidade do mundo. Ou como Duane Bray, sócio da IDEO, referência em inovação global, além de Peggy Boustany, da Sid Lee, empresa de Brand experience – onde é responsável pelo recrutamento de talentos e Susan Cantor, CEO da Red Peak, especialista em publicidade, design estratégico e branding e responsável por clientes como GM e American Express, além de ser colunista do AdAge e Huffington Post.
Após as apresentações de praxe, Deborah lançou a questão: “como se contrata uma pessoa inovadora?”. Os painelistas, começando por Susan Canton, disseram que buscam pessoas com paixão, propósitos e fundamentalmente, que tenham experiências diversas. Artistas e designers, professores, músicos e curadores de arte fazem parte do time da Red Peak, destacou a CEO. Deborah diz que procura pessoas otimistas e com aspirações e ambições. Peggy diz que a contratação é resultado de processos intensos de conversação, não resultado de entrevistas típicas. Interessa menos que o talento tenha grandes anúncios no portfólio e mais que tenha conexão com as pessoas e os valores da empresa e dos clientes.
Outro aspecto decisivo para a contratação de um talento é a descrição do cargo – job description – há tantas novas funções que pedem habilidades tão específicas que normalmente é necessário entender o que será feito diante da atividade da empresa.
Uma das características mais importantes a serem consideradas é simples: grandes talentos conhecem e reconhecem grandes talentos. Assim, não basta sua empresa dizer que contrata pessoas inovadoras. Ela realmente precisa pagar o preço de contratá-los. Talento atrai talento.
E como é possível extrair o potencial desse talento sem que isso se choque com a cultura da empresa? A IDEO exibe perfis dos seus profissionais na sede da empresa, de tal modo que o cliente possa entender quem é quem e quem faz o que. Os perfis mostram as habilidades dos profissionais que fazem parte do time da empresa. É uma forma de valorizar o profissional enquanto a própria empresa revela as habilidades a serviço do cliente, expressas justamente nos perfis em destaque.
Uma boa discussão envolveu a questão home office vs. trabalho colaborativo. O que se observou, na experiência dessas empresas, é que as pessoas que trabalham em ambientes inovadores gostam de atuar em colaboração e proximidade. A presença e o contato pessoal estimulam o crescimento individual.
Mas, profissionais inovadores devem se submeter a frequentes avaliações de performance. Feedbacks informais também são frequentes em organizações da economia criativa.
A grande conclusão do painel é que um profissional inovador, ou que trabalhe com criatividade, deve se alinhar com valores, cultura e processos rigorosamente usuais e comuns à maior parte das empresas. O talento e a capacidade de inovar estão a serviço da gestão. Você pode até ser uma pessoa muito inovadora. Mas o seu talento está a serviço de uma empresa na qual o seu papel deve ser cumprido com qualidade e competência. Exatamente da mesma forma que outros profissionais que desempenham funções não tão “charmosas” devem cumprir o deles.
Ser inovador para si mesmo importa menos que mostrar o resultado da inovação para a empresa que paga o seu salário.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Comunicação do Grupo Padrão