Um dos assuntos mais descolados no universo corporativo é incorporar uma cultura de capitalismo social dentro da empresa. Uma tarefa nada fácil, ainda mais em setores mais tradicionais da economia, como é o caso do varejo ou o setor automobilístico.
Mas é possível e os painelistas falaram sobre isso no painel “Inovação e impacto social: causas que movem os negócios”, no Whow.
A mediação do encontro coube a Luciana Annunziata Lopes, sócia da Cann Práticas Sustentáveis, que lembrou sobre a a história do bem estar social aliado ao capital. No passado, cuidar do próximo era chamado filantropia e, no segundo momento, era o papel de uma organização não-governamental, a chamada ONG. Depois de outros modelos surgiu a Organização Social de Interesse Público (Oscip) e, por fim, chegamos as inovadoras sociais.
E o que mudou ao longo do tempo? Primeiro: é possível ganhar dinheiro e ajudar o próximo. “A grande diferença está no lucro e na escala de clientes. Existem várias diferenças com o que fazer com o lucro. O problema é que ninguém fez isso antes, logo estamos tateando nessa nossa ideia”, afirma Luciana.
Uma das empresas robusta que pratica uma inovação social é a OLX, plataforma dedicada a vender produtos de segunda mão. A ideia é recuperar a vida útil de produto, que virou descartável para uma pessoa, mas pode ser útil para outra. “As pessoas falam sobre isso no dia a dia. Algumas dizem que vão embora, mas ressentem pela despedida. É que a empresa possui um propósito e valor”.
Importância do feedback
A troca de informaçõe sobre os benefícios é um dos segredos do capitalismo social, segundo Thibault Duflos, cofundador da LuzTR. “Um dos insumos desse negócio é o feedback. É justamente isso que cria oportunidades para esse tipo de negócio”, disse.
O feedback é uma das maneiras de colher insumo para entender os caminhos para inovação com foco no social. Em tese, a experiência de um determinado negócio seria uma base de conhecimento importante.
Mas e se estamos diante de algo totalmente novo e nunca experimentado. Nesse sentido, uma das estratégias destacadas é o teste contínuo. “Não temos track record. Ganhar escala é a próxima etapa, pois ainda precisamos provar que realmente somos um negócio. Precismos mostrar que conseguiremos sobreviver para depois buscar escala”, afirma Rafael Vivolo, CEO do MGov Brasil.
Desafios
O mundo corporativo ainda resiste a entender que o capitalismo pode ser social. É o que defende Ana Julia Ghirello, fundadora da Abellha, uma acelerada de negócios sociais.
De uma maneira geral, negócios devem dar lucros e ponto final. Mas será mesmo? A cultura empresarial orientada a inovação social é apenas um dos entraves. No epicentro do negócio, há também a questão da mensuração. “Como mensurar um negocio que realmente está modificando um problema? Esse é o desafio das empresas”, afirma Ghirello.
Embora os desafios sejam imensos e outros no país, o Brasil é um poço cheio de serviços ou produtos que necessitam da intervenção social. “Olha, sou um otimista incurável. Acredito que todos podem melhorar o país a partir dessa ideia. “Afinal, o Brasil é o playground do negócio social. Aqui tem muitos problemas, tem escala. Temos um mercado muito grande e com muitas oportunidades. Basta apresentá-lo”, afirma.