A implementação da Inteligência Artificial (IA) tem sido um divisor de águas na saúde. Grandes hospitais e instituições de saúde enfrentam desafios complexos, mas também vislumbram oportunidades na melhoria do atendimento ao paciente, impulsionados pela tecnologia. Nesse contexto, Afonso Braga, professor associado do Instituto Mauá de Tecnologia e INSPER mediou o painel “IA vai mudar nossas vidas: vivendo Mais e Melhor”, realizado no evento IA+CX, que reuniu especialistas de saúde para debater o tema.
Victor Gadelha, head médico de inovação, pesquisa e educação da Dasa, destacou a jornada essencial do conhecimento. De acordo com o executivo, a implementação de algoritmos é apenas o começo do uso de IA na saúde, pois o grande cerne da questão está em entender como agregar valor real aos pacientes.
“A Dasa começou a investir em IA em 2018, e os primeiros investimentos foram focados em conhecimento. Entendemos que existe uma curva de aprendizado para que de fato, você extraia o máximo desse algoritmo. A jornada do conhecimento precisa integrar médicos, profissionais de saúde e engenheiros para poder extrair o máximo de valor. No caso de acelerar a jornada de saúde, das 55 doenças que rastreamos, saímos de uma média do início do diagnostico até o início do tratamento de 17 para sete dias. Não só isso, mas os pacientes que se beneficiaram através desse sistema buscaram a próxima etapa da jornada do cuidado. Sempre treinamos com dados anonimizados por um algoritmo feito pelo laboratório Sanofi, laboratório de IA dentro da Dasa”, pontua.
O Hospital das Clínicas, durante a pandemia, percebeu uma lacuna no sistema de saúde, como a falta de testes de PCR (para diagnóstico de diversas doenças) e a necessidade de apoio na interpretação de imagens médicas. Marco Bego, diretor executivo de inovação do InovaHC, núcleo de inovação tecnológica do Hospital das Clínicas, pontuou a importância da validação e capacitação na adoção da IA.
“Fizemos um trabalho de IA para mais de 50 hospitais e realizamos diversas pesquisas, e durante o processo vimos que entendiam muito pouco. da tecnologia Então decidimos que precisamos investir na capacidade de entender IA para ajudar o mercado a se preparar. Ou seja, desde como validar uma startup que está trazendo soluções de IA, até entender com os médicos em que momento a ferramenta é produtiva ou não. Pensando em tudo isso, passamos a criar alguns laboratórios para interagir com o mercado e compreender em que momento a IA na prática médica fazia sentido”, explicou o executivo do InovaHC.
Na visão de Lilian Quintal Hoffmann, diretora executiva de tecnologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o foco da empresa está na identificação e resolução dos problemas de negócio através da Inteligência Artificial. Empoderar médicos e melhorar a experiência do paciente são prioridades claras.
“Não é diferente na saúde; ninguém tem dúvida do potencial, mas temos dúvidas sobre como fazer essa conta fechar”, explica. “Temos colocado o olhar sobre a IA, e feito experimentações, sempre partindo de um problema de negócio. Temos muito claro na BP qual é o problema de negócio que queremos resolver com a ajuda de IA. Tenho feito bastante provocações nos meus times sobre o que estamos consumindo na era da IA, o quanto a equipe está interagindo com o roadmap da indústria e a quanto tecnologia pode resolver. Não podemos deixar de conversar com os parceiros. Onde está o problema de negócio? Por exemplo, é empoderar o médico? É dar mais segurança para a tomada de decisão? É melhorar a agilidade? Temos olhado muito para isso”.
Diego Aristides, CTO e head de inovação aberta do Sírio-Libanês, afirmou que preparar a organização para os avanços da IA requer investimentos não apenas em tecnologia, mas também na capacitação de colaboradores e na redefinição do modelo de atendimento centrado no paciente. “Dentro de casa, temos pensado em como preparar a organização para o que o mundo está passando na era da IA. Estamos investindo em planejamento estratégico para nos tornarmos uma empresa de tecnologia. Não queremos construir tudo, mas queremos estar prontos. Falando em CX, percebemos que o modelo de atendimento vem mudando. Através da IA, queremos entregar uma escala que seja personalizada. Outro ponto que temos olhado muito é como preparamos nosso colaborador para tudo isso que está vindo com a IA. O grande impacto da IA será a possibilidade de escalar além dos números e estar muito próximos desse paciente”, contextualizou o executivo.
Desafios éticos e de segurança na área da saúde
Felipe Schepers, COO e cofundador da Opinion Box, trouxe dados da percepção das empresas sobre a utilização da IA. “Na prática, quando observamos o cenário brasileiro, vemos empresas que não estão utilizando IA. Na última pesquisa que realizamos, 37% das empresas afirmaram estar utilizando a tecnologia. Das que não o fazem, apenas 40% têm a intenção de começar a utilizar IA em breve, e dessas, apenas 18% afirmam possuir orçamento para tal”, destaca. “Há toda essa discussão, porém as empresas não estão preparadas para isso atualmente, seja por falta de conhecimento ou talvez devido à corrida generalizada”.
Proteger os dados dos pacientes e garantir a confiança do consumidor são desafios a serem enfrentados pelas empresas do setor de saúde. “As pessoas em geral pensam que compreendem IA, mas as empresas não a estão utilizando efetivamente, e você também, na prática, não a está utilizando tanto assim, no máximo em estágios iniciais de produtividade, organização ou processos. Existe um desafio para todas as empresas na comunicação: proteger e garantir aos consumidores que seus dados estão seguros”, complementa.