O panorama da economia global para 2025, a exemplo dos anos anteriores, mais especificamente desde 2020, é pleno de incertezas. Essa foi a tendência do painel “Global Econômico Outlook 2025 and beyond”, na NRF 2025, que teve o presidente da NRF, o lendário Matthew Shay, e o CEO do Goldman Sachs, David Solomon. A conversa girou em torno das expectativas de crescimento para mercados desenvolvidos e emergentes, considerando fatores como inflação, taxas de juros e estabilidade fiscal, o impacto de uma possível desaceleração econômica em grandes mercados como Estados Unidos, China e Europa. Previsões para consumo global, especialmente em setores dependentes do varejo e bens de consumo. Tudo isso, a partir das especulações que cercam as medidas a serem tomadas por Donald Trump em seu segundo mandato à frente da Casa Branca.
“Somos privilegiados por viver no país mais poderoso do mundo”. Foi dessa forma, sem rodeios, que Solomon começou a conversa com Matthew Shay. Ele se declara muito otimista com a produtividade, com a tecnologia e com a economia “extraordinária dos Estados Unidos”. O desenvolvimento econômico fora dos EUA está, na opinião do CEO do Goldman Sachs, em dificuldades. Reino Unido, Europa, mesmo a China não exibem grande forma, em parte pela obsessão com inovação que norteia e direciona os negócios norte-americanos, o que motiva uma performance acima da média em relação a outros mercados.
A economia dos Estados Unidos se mostra incrivelmente resiliente, mesmo após a disrupção da pandemia, com grande expansão fiscal, derivada da atuação do governo para oferecer renda aos empreendedores vitimados pelo lockdown. Se por um lado, essa derrama de recursos ajudou a economia a respirar, por outro, fez a inflação disparar. A inflação elevada condicionou uma postura mais firme das autoridades monetárias, e continua sendo o grande problema para as classes médias, comprometendo a qualidade de vida geral, tanto nos EUA, quanto nos principais mercados globais. O aumento do custo de vida parece sob controle, mas demanda um olhar mais atento.
As duas grandes decisões e políticas, no entender de David Solomon, que devem nortear o início do novo governo, recaem sobre inflação e imigração. É preciso desarmar a insegurança latente na população, que se reflete no temor do desemprego e na perda progressiva de poder aquisitivo. É muito importante manter o déficit sob controle – a rigor, a mesma conversa que temos no Brasil, sem sucesso, dada a leniência de nosso governo com relação ao gasto público. Vale lembrar que há cerca de 40 anos, nossa economia era cerca de 20% da economia norte-americana. Hoje, mal chega a 9%. O abismo entre a produção de riqueza das duas nações certamente compromete a confiança da população, compromete e limita o investimento contra os esforços de inovação. Temos mais confiança de que os EUA farão o que for preciso para manter a economia em ciclo virtuoso, mas não temos o mesmo sentimento em relação ao nosso país.
A combinação de inflação, imigração, expectativas com as medidas do novo governo dos Estados Unidos, traz muita dificuldade em projetar o cenário dos próximos 6 meses. Simplesmente não há bola de cristal para saber quais os efeitos de decisões e políticas de Donald Trump e o quanto elas terão ou não influência sobre o humor da economia em geral. O fato é que o povo escolheu uma mudança e é difícil realmente saber ou dimensionar a profundidade dessa mudança no horizonte.
Solomon também comentou sobre os efeitos da pressão regulatória. Para ele, a regulação do governo Biden era excessiva e a nova administração parece se inclinar a reduzir essa influência, o que é visto de forma positiva. Ainda no terreno das especulações, aumento de tarifas de importação e cortes de impostos internos podem ser bem balanceados para evitar crescimento do déficit.
Mudanças geopolíticas
“Há oportunidades no mundo todo. Vemos crescimento do consumo em diversas áreas do mundo e crescimento interessante do PIB em vários mercados. Eu não acredito em uma grande globalização, há perspectivas gerais de produção em diversos locais, o que permite criar novos mercados, mas após a pandemia, essa lógica tem que ser repensada. E é o momento de mudar estrategicamente as parcerias com outros mercados, tendo em vista suprimentos, produção, dentro de um processo de ‘localização’, ou seja de retomada de investimentos locais”, comentou Solomon.
Alinhado à visão de Donald Trump, o CEO do Goldman Sachs diz que a diversificação de portfólios, centros de produção e negócios é positiva para a economia global, para evitar a excessiva dependência de um ou outro país. O recado é claro: é bem possível que o processo de deslocamento de fábricas da China para outros países e mesmo a internalização de linhas de montagem é irreversível.
Impactos da IA generativa
Para David Solomon, a Inteligência Artificial tem impactos imensos na produtividade, com projeções de aumento de até 1,5% ao ano, como mudanças dramáticas na construção da eficiência, sem precedentes na história. “É uma mudança fundamental que direciona preparação e qualificação das pessoas, melhores parâmetros regulatórios, para aumentar a produtividade em níveis extraordinários”, comentou. A tecnologia tem um impacto de longo prazo ainda incalculável, mas previsível. Mudanças profundas estão em curso.
Liderança e engajamento de times
“Todas as organizações são complexas e tendem a ser mais complexas a cada ano. Para todas elas, o crescimento é fundamental e a liderança precisa estabelecer as mensagens que energizam a empresa no rumo do crescimento. A liderança é protetora da cultura, e, no Goldman Sachs, temos de trabalhar forte para manter a integridade, os valores e buscar os objetivos que definimos para cada exercício”, disse.
É claro que toda liderança deve estar atenta sobre como os consumidores estão lidando com pressões econômicas, como inflação e aumento do custo de vida. Alterações nos padrões de consumo, com maior foco na busca por condições financeiras mais vantajosas, conveniência e experiências digitais. Finalmente, é necessário acompanhar de perto, a relação entre acesso ao crédito, renda disponível, consumo e inflação. Estes fatores serão decisivos para o ano do varejo brasileiro.