Os anos de 2020 e 2021 não foram fáceis para o Brasil e o mundo. Além da própria pandemia do novo coronavírus, o mundo experimentou uma crise econômica bem severa, porém os reflexos foram díspares entre as nações. Países como o Brasil reviram a inflação depois de muitos anos, registrou um aumento no endividamento do brasileiro e ainda tivemos que conviver com as tristes cenas de pessoas recolhendo comida do lixo e até disputando pedaços de ossos bovinos.
No próximo ano, alguns desses problemas deverão se repetir. Pior: muito provavelmente teremos um aumento expressivo de políticas populistas e que miram as eleições majoritárias e legislativos do próximo ano. Ou seja, veremos distribuição de dinheiro, canteiros de obras por todos os lados e deixaremos de lado assuntos importantes e urgentes, tais como as reformas tributárias, administrativas e outras.
Felizmente, há boas notícias se avizinhando. O Brasil deverá dar o primeiro grande passo para uma virada econômica positiva. E realmente temos condições de sonhar com novos dias melhores.
O Brasil que tem tudo para dar certo – e como isso poderá acontecer – foi tema do painel de encerramento do Conarec 2021.
O momento
Na abertura do encontro, a jornalista Fabiana Panachão fez um breve apanhado econômico do País nos últimos anos. Ela lembrou que, embora o País tenha registrado aumento no PIB, ele vem ocorrido em um ritmo lento há anos. “O Brasil não cresce com constância há algum tempo. Pior: há algum tempo, temos vistos alguns solavancos na nossa economia. Nesse sentido, o que devemos esperar para 2022?”, questiona.
Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, explica que o Brasil perdeu tração com a economia global há quatro anos. Para ilustrar essa falta de competividade interacional, ele comparou a movimentação do PIB per capita entre Brasil e China desde os anos 1980.
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Na década de 1980, o País tinha uma renda per capita de US$ 11,4 mil, enquanto a China tinha uma renda de US$ 674 (A renda brasileira era 17 vezes maior). Em 2013 o Brasil ainda tinha uma renda 40% maior, mas em 2017 houve empate e em 2020 a China já tinha uma renda de US$ 16,3 mil contra US$ 14,1 mil do Brasil.
“Isso é reflexo da ausência de reformas, além das baixas produtividades industrial, ciência e tecnologia. Em suma, esses números contam a história de país que perdeu tração no crescimento. O próximo ano vai continuar difícil. Teremos um crescimento baixo do PIB, algo em torno de 0,8%. Veremos ainda mais mais inflação e uma alta de juros, motivada principalmente pelo aumento da taxa Selic. Ela deverá chegar a 10,25% até o fim de 2022, sendo que no primeiro trimestre ela deverá chegar a 12%”, explica.
A educação é transformadora
Ana Claudia Rodrigues, fundadora e CEO da Atitude nas Finanças, citou o aumento do desemprego, que este ano bateu os 14% da população, mas recuou nos últimos meses para o patamar de 13%. Mas, segundo ela, é justamente nesse necessário que o Brasil poderá dar um giro de 180 graus. Ana notou um um crescimento de pessoas interessados em reciclarem suas habilidades profissionais, inclusive habilidades que andam carentes no mercado.
“Pessoas começaram a se movimentar em função do medo de ficar desempregado. Muitos procuraram cursos, se atualizaram. Isso vem ocorrendo porque empresas estão em busca de eficiência e novas habilidades, a maioria delas relacionadas ao digital”, afirma Ana.
Ana acredita que a transformação individual, se adotada de maneira maciça, poderá ter um efeito transformador mais rápido e profundo se comparado as medidas adotada pelo poder público.
“As reformas políticas, administrativas e outras demoram a acontecer. As pessoas precisam se preocupar com o agora, não podem esperar as mudanças do poder público. A mudança do indivíduo é mais rápida e pode apresentar um resultado mais imediato para uma empresa. E se todos os brasileiros adotassem essa mentalidade, não tenho dúvidas que teríamos mudanças em um espaço de tempo menor”, explica Ana.
O caminho das pedras
Em consonância com a fala de Ana, Fernando afirma que o mundo tem hoje uma maior liquidez de dinheiro. “Tem dinheiro sobrando para bons projetos de investimento, alguns deles na área digital. O crédito vai estar mais caro, claro, mas estará disponível”, afirma.
“E onde estariam as oportunidades e em qual área o País poderia ser protagonista?”, questionou Fabiana.
Para Ana Cláudia, a principal oportunidade está justamente em juntar educação e o universo digital. Seria o ponto de partida.
Fernando listou setores como agronegócio e uma área que o País é apontado como autoridade e pioneiro, embora tenha deixado o tema de lado nos últimos anos: a sustentabilidade.
“Agropecuária continua alcançando ótimos resultados e tem potencial transformador, assim como o setor de sustentabilidade. Investimos em energia eólica e elétrica. Para efeito de comparação, hoje há uma crise de gás o mundo, sendo que na Europa o preço aumentou 500%. Lá, não se investem em energias novas. O Brasil é pioneiro no mundo de energia limpa a partir de hidrelétricas. Quando olhamos o mercado de carbono, eu também vejo que podemos avançar. Poderíamos liderar nesse processo e não estamos capturando isso em nosso favor. Precisamos empacotar a nossa história de sustentabilidade de forma a nos apropriarmos disso”, explica.
Ainda segundo o economista-chefe do Brasil existem oportunidades no universo do blockchain, que vai transformar a cultura do intermediário, na medicina à distância e nos negócios que transformam velhos setores da economia.
“Nós negligenciamos a nossa história, o que já é de praxe. Precisamos ter uma visão de longo prazo. Precisamos aprender com os erros do passado, pois se repetem de maneira sucessiva. Precisamos olhar para a história e também uma visão de longo prazo” afirma Ana.