Parece um contrassenso falar em aumento exponencial da expectativa de vida ou em uma nova fonte da juventude diante de uma pandemia que atormenta bilhões de pessoas ao redor do globo, vitimando milhões de cidadãos, enquanto laboratórios correm freneticamente para validar vacinas criadas em tempo recorde. Ou talvez seja justamente o contrário. Uma vez que a humanidade utilizou todo o arsenal tecnológico disponível para elaborar vacinas contra um vírus de escala global, de contágio acelerado, é realmente apropriado voltarmos nossos olhos para um aumento inimaginável de nossa longevidade.
Essa é a premissa que orienta o visionário e sempre otimista Peter Diamandis, investidor, guru de inovação e fundador da Singularity University em seu trabalho. Peter esteve presente na edição 2020 do Web Summit, transmitido digitalmente de Lisboa, em dezembro. O evento, maior conferência global sobre tecnologia e transformação digital, reuniu este ano mais de 104 participantes de 168 países, 1137 palestrantes, 2229 jornalistas, 1145 investidores e mais de 2 mil startups durante 3 dias de imersão.
Avanço da biotecnologia
No Web Summit, Peter conversou com Yue Zou, da CGTN, no painel “Como viver mais”, para explicar como uma mentalidade focada na longevidade pode mudar o jogo da expectativa de vida, a partir dos extraordinários avanços da biotecnologia, do CRISPR, da terapia genética, e de pesquisas com células-tronco que irão reduzir o poder dos ofensores da vida e das doenças que afligem a humanidade.
Basicamente, o CRISPR é uma técnica de edição do DNA humano que permite que cientistas modifiquem genomas com uma precisão nunca antes atingida, além de eficiência e flexibilidade. Os últimos anos foram cheios de conquistas para a CRISPR, que criou macacos com mutações programadas e também evitou a infecção do HIV em células humanas. Claro que a técnica entusiasma gente como Diamandis, sempre disposto a mostrar como as novas tecnologias podem mudar o mundo para melhor.
Por outro lado, como observou Zen, a perspectiva também causa perplexidade e temor, ao vislumbrar uma era na qual seja possível promover o design de bebês. Diamandis enfatizou que o dilema moral envolve uma escolha complexa: contribuir para erradicar uma doença que esteja presente em outros bebês por falhas genéticas ou ver uma criança sofrer por causa de um mal que possa ser resolvido ainda antes do nascimento?
O fato é que a biotecnologia avança rapidamente em toda sorte de pesquisas que irão elevar a longevidade das pessoas dramaticamente nas próximas décadas. Nanobôs, IAs e RV permitirão novas abordagens para a cura de doenças complexas, incluindo terapias, medicamentos, novos métodos de cirurgia. Mas é claro que temos de considerar as implicações éticas e sociais dessas inovações. Até que ponto elas irão se democratizar para atender pessoas de todas as faixas de renda, sem distinções? O visionário da Singularity afirma taxativamente que seres humanos podem viver com qualidade de vida até os 120 anos ou mais. Isto significa ter a chance de usufruir mais e mais experiências ao longo de uma vida bebendo em uma espécie de fonte da juventude tornada real pelo uso das tecnologias digitais adaptadas à biologia.
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Adeus, envelhecimento
Mas o que leva Peter Diamandis a afirmar tão confiante de que iremos suplantar o fantasma da velhice degenerativa? Até hoje, houve quase 67 milhões de casos confirmados de COVID-19 em todo o mundo e, desde seu surto inicial, COVID-19 se tornou a causa registrada de cerca de 1.540.000 de mortes. Por outro lado, segundo dados oficiais, 7,8 bilhões de pessoas estão vivas hoje, cerca de 9% das quais têm mais de 65 anos e sofrem da doença mais mortal da Terra: o envelhecimento, na visão do executivo.
“Sem competição, o envelhecimento é a variável correlacionada nº 1 quando se trata de mortes devido a doenças cardíacas, câncer, diabetes, doenças respiratórias e demência. Com efeito, 9% da população equivale a 720 milhões de casos confirmados de envelhecimento. E, mesmo assim, esta é uma estimativa extraordinariamente conservadora, pois muitas pessoas começam a sentir os efeitos do envelhecimento aos 50 anos, e até agora ninguém se recuperou da doença do envelhecimento”, afirma Diamandis. Ele continua: “Quer remover o fio de DNA que produz a distrofia muscular? Simples. Basta mirar naquele ponto no genoma, liberar CRISPR-Cas9 e cortar, cortar, cortar – problema resolvido”.
A partir das provocações de Peter Diamandis, podemos facilmente concluir que a longevidade se tornará um dos negócios mais promissores dos próximos anos. Há um potencial de investimento de muitos bilhões de dólares que trarão impacto e benefícios reais às vidas de não menos que bilhões de pessoas. Hoje, tudo isso ainda parece um tanto quanto exagerado, mas a biotecnologia de forma geral segue a lógica da exponencialização: a partir do efeito da digitalização, o movimento passa despercebido até se tornar disrupção e seguir em trajetória acelerada rumo ao ganho de escala e relevância até se tornar dominante.
Provocação final: o leitor ou a leitora com filhos, pode estar diante de um ser humano capaz de viver por 150 anos de uma forma que não imaginamos viver hoje por 90.
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