Prestar atenção na vida pessoal dos colaboradores tem virado rotina dentro das organizações. A prática se mostra uma ferramenta eficaz na geração de produtividade e sentimento de pertencimento dos funcionários. Por isso, uma novo olhar de gestão tem nascido ao redor do mundo: o financial wellness.
Mostrar uma preocupação extra com o bem-estar financeiro dos trabalhadores pode ser uma boa aposta. Um estudo desenvolvido pela Deloitte em 2018, chamado Tendências Globais de Capital Humano – A ascensão da empresa social, mostrou que as empresas estão investindo na prática por diversos motivos:
- 61% afirma que melhora resultados financeiros e produtividade;
- 60% acredita que diminui o turnover, ou seja, a rotatividade de funcionários;
- 43% acredita que reforça a missão, visão e valores da companhia.
Cuidar do bem-estar financeiro dos funcionários envolve questões e programas dos mais variados tipos, desde entender como é o relacionamento daquela pessoa com suas finanças, até auxílio no sonho da maternidade com programas de fertilidade, por exemplo.
Para saber mais sobre financial wellness e, se a modalidade pode vir a se tornar uma tendência no Brasil, a Consumidor Moderno conversou com Eduardo Guerra, advogado especialista em negócios globais e com Haroldo Eiji Matsumoto, sócio-diretor e consultor da Prosphera Educação Corporativa, consultoria multidisciplinar especializada em gestão de negócios. Confira as entrevistas abaixo:
CM: Afinal, o que é financial wellness?
Eduardo: Esta é a denominação dada a uma nova metodologia de estímulo e retenção de capital intelectual nas empresas. No geral, consiste na preocupação da empresa com o bem estar de seus colaboradores. Acredita-se que este benefício indireto tenha a capacidade de atribuir a estes uma sensação de pertencimento, de efetivo propósito da empresa.
CM: Quando surge essa preocupação das empresas e porque a prática tem crescido, principalmente em organizações americanas?
As pesquisas indicam que o bem-estar financeiro de seu colaborador pode influenciar positivamente o seu desempenho no ambiente corporativo, sem contar que oferece ainda um maior conforto pessoal, de modo a permitir que o trabalho se desenvolva sem as habituais preocupações com o endividamento.
Eduardo: As organizações americanas foram as primeiras a adotarem esta preocupação, tendo em vista o estilo de vida do país baseado no consumo. Isto faz com que 70% dos americanos vivam efetivamente endividados, dependendo de seu salário mensal para saldar suas dívidas, sem nenhum espaço para poupança ou plano de previdência.
CM: Quais benefícios uma empresa pode conquistar quando auxilia seus colaboradores em seu bem-estar financeiro?
Haroldo: A educação financeira para seus colaboradores é o caminho ideal. Não se trata de pagar mais com aumento de salários e benefícios, pois ele, na verdade, precisa saber utilizar com responsabilidade. Quando a empresa investe nessa questão com cursos, palestras e orientações, o colaborador consegue evitar melhor endividamentos.
Outro benefício é a segurança financeira a partir do momento que ele controla seus gastos, pode começar a guardar e preparar um fundo de emergência para qualquer situação. Seja na saúde ou na queda de renda, o colaborador não entra em desespero se isso acontecer.
Por fim, quando o colaborador consegue se programar para projeto e sonhos maiores como, por exemplo, a conquista da casa própria, a faculdade do filho, a viagem dos sonhos e a aposentadoria na terceira idade, ele vê a organização como um caminho para estabilidade e qualidade de vida.
Eduardo: Pesquisas sobre financial wellness têm indicado um resultado satisfatório do método em relação ao aumento de produtividade, redução de absenteísmo, redução do estresse e conflitos interpessoais, além da redução dos desligamentos por insatisfação salarial.
CM: Por que o financial wellness pode aumentar a produtividade dos funcionários?
Haroldo: O financial wellness liberta o colaborador da preocupação financeira que aflige 40% da população adulta do Brasil, são mais de 60 milhões de pessoas nessa situação, segundo a Serasa Experian.
Com esse problema a menos, o colaborador pode se concentrar no trabalho, ter a mente livre para dar mais atenção aos problemas e desafios da empresa, além de estar mais alinhado com a missão, visão e valores da organização, pois se estiver com dívidas, a preocupação é a própria manutenção e sobrevivência. Passando a não ter mais essa preocupação, ele se alinha aos objetivos da equipe e da empresa para poder evoluir.
CM: Já se fala de financial wellness no Brasil? É um movimento que em ganhado força?
Haroldo: Algumas empresas já fazem isso, principalmente grandes empresas, mas não chamam de financial wellness e sim “programas de desenvolvimento e apoio da área de recursos humanos”, que são identificadas através de relatório de turnover (taxa de rotatividade dentro da empresa de quantos saem e quantos entram) e pesquisas de clima organizacional, onde podemos identificar se os colaboradores passam por dificuldades financeiras.
Eduardo: De fato as empresas no Brasil tem “importado” esta metodologia. Algumas subsidiárias de empresas estrangeiras tem incentivado o bem-estar financeiro entre seus colaboradores. Este movimento se intensificou nos últimos tempos, e vem se apresentando como uma importante ferramenta de gestão pessoal, principalmente porque o Brasil tem vivido tempos de crises
É caminho que esta preocupação se torne uma tendência no desenvolvimento do capital intelectual de uma empresa, dados os benefícios indiretos que se pode colher no médio e longo prazo.
CM: Como é possível incluir ações de financial wellness em empresas que não adotam absolutamente nada sobre isso?
Haroldo: Vale a pena aplicar uma pesquisa de clima organizacional e, dentro das questões levantadas, a gestão financeira pessoal e nível de endividamento dos colaboradores. Assim, será possível traçar perfis e cargos para formar turmas homogêneas e a abordagem do assunto respeitar o nível escolar e a capacidade cognitiva.
Desta forma, o programa é adaptado para ser o mais compreensível possível e visa trazer os resultados da melhoria de qualidade de vida e bem-estar esperado. Um dos cuidados que recomendo é que não peça para o gerente financeiro fazer palestras ou ministrar cursos. Uma coisa é gerenciar a tesouraria da empresa e a tomada de decisão. A outra é sensibilizar uma pessoa dos cuidados que ela deve ter com as finanças dela e como pode melhorar e controlar.
Por último, feito o programa de financial wellness, vale aplicar outra pesquisa para avaliar o grau de aplicação no dia a dia das pessoas e quais os benefícios que estão colhendo com a dedicação e cuidado financeiro.
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