As redes são exemplos de quem consegue extrair o máximo daquilo que está nas mãos ? aquilo que Flávio Boan, sócio-consultor da Falconi Consultores, define como as três alavancas da eficiência: comercial, que está relacionada à negociação com os fornecedores e consumidores, com base em políticas de precificação; de operação de loja, que deve ser simples e enxuta, ao mesmo tempo em que consegue oferecer o melhor serviço pelo menor custo; e de suporte administrativo, que deve ser ágil e assertivo. Além de fazer tudo isso, porém, as empresas ainda precisam combinar o jogo com o Brasil. Como em qualquer economia, o ritmo dos negócios é muito desenhado pelo o que acontece fora deles. E se as redes não conseguiram atingir um nível maduro de eficiência é porque o País não ajuda. ?Comparado com as melhores práticas mundiais, ainda temos questões estruturais que agregam um custo operacional que outros varejos no mundo não têm?, considera Boan.
A começar pelo ambiente de negócios. Segundo o IMD (Institute for Management Development) e a FDC, o Brasil caiu no ranking mundial de competitividade pelo quinto ano seguido, passando da 38ª colocação em 2010 para 56ª neste ano, entre 61 países pesquisados ? a pior posição em toda a história do ranking. O estudo analisa o desempenho da economia, infraestrutura, eficiência do Governo e eficiência empresarial. Neste último quesito, o Brasil caiu cinco posições frente a 2014, assumindo a 51ª. Para as instituições que realizam o estudo, há no País ainda a dificuldade de investir em ações com foco no longo prazo.
Outro fator que prejudica a eficiência das operações é a carga tributária que, no setor, passou de 33,49% em 2004 para 36,42% em 2013, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Considerando apenas os tributos, eles consomem 23,23% do faturamento das redes, de acordo com o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação). Tirando o tanto que se paga, há ainda a quantidade de impostos que fazem o varejo fazer malabarismos. ?A complexidade do sistema e o quanto que se gasta para administrar os milhares de órgãos e manter a papelada toda em ordem tornam os negócios mais lentos?, afirma Morgado. Segundo ranking do Banco Mundial, o Brasil não é um país fácil para se fazer negócios: está na 120ª posição entre 189 economias e cai para a 177ª colocação no item pagamento de taxas. ?Burocracia é um absurdo. Na empresa tenho mais gente cuidando da parte fiscal do que da criação ? é um contrassenso?, afirma David Bobrow, presidente da Tip Top, de moda infantil.
Para estruturar o modelo de mega store, a empresa, que cresceu 15% em mesmas lojas em 2014, só teve um problema. ?Como fazer para acertar todos os impostos que tenho de pagar, porque cada produto tem um imposto diferente, que depende da origem, do destino e tudo isso tem um custo. Estamos jogando dinheiro pelo ralo?, afirma. Há ainda outro fator que é difícil de mensurar, mas pesa na última linha dos resultados: a produtividade dos funcionários, que no Brasil representa 17% da americana, segundo dados do The Conference Board.
Levantamento realizado em janeiro de 2013 pelo economista David Lagakos, professor da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, mostra que a produtividade do varejo brasileiro equivale a 20% do setor americano. O tema é, para Bobrow, um dos principais pontos a serem atacados para aumentar a eficiência
de toda a cadeia.
David Bobrow, da Tip Top: “Burocracia é um absurdo”
E não é de hoje que o executivo investe no tema. ?A gente fortaleceu o treinamento e conseguimos ver em muitos casos resultados de crescimento de 30% a 40% na ponta, além do aumento do número de peças por atendimento, do preço médio por compra. Eficiência está muito ligada a isso?, diz.
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