Formado em física pela Universidade Federal de Minas Gerais, o brasileiro Ivair Gontijo nasceu no campo, mas deixou o País para fazer dois doutorados: um deles na renomada Universidade da Califórnia. Hoje, Gontijo lidera na agência um núcleo responsável pelo desenvolvimento dos sensores usados pelo Curiosity na exploração do solo de Marte. Autor do livro “A Caminho de Marte”, lançado no ano passado pela editora Sextante, ele concedeu essa entrevista à Consumidor Moderno:
Consumidor Moderno: Como é trabalhar em um órgão considerado referência em ciência, tecnologia e inovação?
Ivair Gontijo: Somos muito cobrados por organização. Partimos do princípio de que os nossos deadlines são irremovíveis. Dizemos aqui que a mecânica celeste não vai esperar por nós. Se perdermos um prazo, um planeta ou um astro se move e daí temos que esperar meses até a próxima oportunidade. Isso acontece com Marte, o nosso objeto de estudo. Aqui, gerenciamos projetos de alto risco, que devem prever cada detalhe da viagem e que são entregues antes do prazo para que possamos realizar testes. É claro que atrasos acontecem. Mas, neste caso, uma das saídas é que a área receberá mais dinheiro para acelerar o projeto e entregá-lo antes do deadline.
CM: O senhor já enfrentou alguma dificuldade durante a exploração do solo em Marte?
IG: Sim. Houve um momento crítico no projeto do Curiosity (robô explorador enviado a Marte) quando percebemos que os radares de controle de pouso poderiam não ser entregues a tempo. No fim, aumentamos a pressão e também os nossos recursos (risos).
CM: A SpaceX e a própria Virgin têm financiado projetos que miram o chamado turismo espacial. O que acha disso?
IG: O turismo espacial é algo bem interessante e, penso eu, já estamos quase prontos. No entanto, o mais curioso e irônico é que a Rússia (outrora um país socialista) foi a pioneira nesse negócio. Hoje, os russos realizam viagens comerciais para a estação espacial a um custo de milhões de dólares. O que pode ajudar a impulsionar esse mercado é a terceirização da área de foguetes. Aliás, aqui na Nasa, isso já aconteceu faz muito tempo. O foguete que lançou o Curiosity é terceirizado, por exemplo.
LEIA MAIS: Confira a edição online da Revista Consumidor Moderno!
CM: As perguntas que não querem calar: existe vida em Marte? O homem realmente pisou na Lua? A Nasa sabe de algo que não sabemos?
IG: Eu, particularmente, não procuro me informar sobre essas teorias, mas sabemos que elas existem. Sobre Marte, sabia que já mapeamos toda a superfície do planeta e até demos nomes às diversas formações encontradas no planeta? O que eu posso te dizer é que não encontramos nenhum ser vivo na superfície, mesmo porque seria muito difícil de isso acontecer. A atmosfera do planeta é “fininha” e não tem a mesma proteção contra os raios solares como a que temos na Terra. Hoje, qualquer espécie que pisar em Marte será esterilizada – ou seja, haveria uma total eliminação da vida microbiológica. Quanto à pergunta da Lua, eu falo sobre isso em um capítulo do meu livro e faço, inclusive, o contrário: questiono se as tecnologias existentes à época permitiriam esse feito. A resposta é sim.