Um levantamento inédito da Serasa Experian mostra que mesmo empresas com Score PJ alto – acima de 700 pontos – podem correr sérios riscos de fechamento nos próximos 12 meses.
Essa realidade veio à tona após a Datatech cruzar dados do novo Score PJ 4.0 com o Índice de Longevidade Empresarial, em análise feita com uma base de dois milhões de CNPJs ativos. Os dados financeiros utilizados foram calculados a partir da média das informações do Cadastro Positivo.
Segundo a Serasa, esse risco oculto pode representar uma inadimplência potencial de mais de R$ 195 milhões ao mercado. “Uma empresa pode ter um bom histórico de pagamento e score elevado, mas ainda assim apresentar sinais claros de encerramento iminente. Isso também representa risco real de perda financeira para credores e parceiros”, explica Giresse Contini, diretor de Serviços de Crédito da Serasa Experian.
A realidade em números
De acordo com o Sebrae, 50% das empresas fecham nos primeiros cinco anos de funcionamento. Só em 2023 foram 2.153.840 (uma média de quatro CNPJs a cada minuto) e, em 2024, pelo menos 854.150, de acordo com o Mapa de Empresas do Governo Federal.
Estes números superam significativamente os registrados durante os anos mais críticos da pandemia (2020 e 2021), quando 379.598 e 518.539 empresas, respectivamente, encerraram suas atividades – parte delas, confiantes na suposta pontuação elevada.
Nesse cenário, cresce a importância da nova metodologia que traz técnicas de modelagem mais avanças e informações mais acuradas, inclusive para a apuração de score dos sócios, de dados do Cadastro Positivo de Telcos e Utilities, entre outros.
“O indicador ainda avalia fatores como o porte da empresa, relacionamento com fornecedores, tempo de fundação, histórico financeiro (negativo e positivo), entre diversos outros. Diferentemente de um Score de Crédito, ele busca características atreladas à insolvência e não inadimplência, prevendo um risco diferente, o de encerramento da operação”, compartilha Contini.
Score alto, mas risco elevado: contradição?
Historicamente, o Score PJ tem sido uma referência essencial para medir a probabilidade de inadimplência nas negociações B2B. Mas em um cenário de instabilidade econômica e alto índice de encerramento de empresas no Brasil, essa métrica já não responde sozinha à complexidade do risco.
“O Score continua sendo fundamental, mas hoje as empresas precisam de camadas complementares de informação para tomar decisões mais seguras”, afirma o executivo. “Enquanto o Score aponta a chance de uma empresa deixar de pagar compromissos nos próximos seis meses, o índice de Longevidade olha para outro tipo de risco: o encerramento definitivo das operações”, complementa.
Segundo a Serasa Experian, essa demanda surgiu no próprio mercado, com empresas buscando compreender não apenas a saúde financeira dos seus parceiros, mas também a capacidade de continuar ativas durante o período de uma negociação.
“Quando uma empresa está pagando tudo em dia, mas mesmo assim pode estar próxima de encerrar as atividades, o risco para o credor continua sendo altíssimo”, reforça Contini.
Como adaptar políticas de crédito
O conceito de longevidade não substitui o Score PJ, mas amplia sua eficácia ao prever riscos que o índice tradicional não cobre. Por isso, a combinação dos dois indicadores cria uma leitura mais ampla e estratégica do cenário B2B.
Ao incorporpa-lo, empresas conseguem alinhar suas políticas de parcelamento e concessão de crédito ao risco real de cada cliente. “É uma questão de calibrar estratégias ao apetite de risco de cada negócio”, aponta o especialista.
Enquanto o risco de inadimplência indica atraso ou não pagamento, o de encerramento traz perdas imediatas e operacionais – especialmente críticas na contratação de fornecedores.
Por isso Contini avalia que compreender os dois indicadores de forma integrada pode ser decisivo para evitar prejuízos e proteger a operação a longo prazo já que os novos dados que compõem o Score PJ 4.0 contribuem para aprimorar a assertividade do produto.
“A atualização recorrente do modelo e da tecnologia são essenciais para um mercado de crédito mais seguro e eficiente, trazendo benefícios tanto para as empresas quanto para os consumidores. Ter acesso a informações cada vez mais precisas e confiáveis, traz ganhos para o mercado como um todo, como a redução da inadimplência e mais acesso ao crédito.”
Gestão de risco mais estratégica
Para minimizar perdas e garantir negociações mais seguras, a recomendação da Serasa Experian é clara: combinar múltiplas camadas de informação e revisar continuamente as políticas de crédito.
“Além de contar com dados de qualidade, é fundamental acompanhar as negociações, os prazos e os pagamentos de acordo com o apetite de risco do negócio”, orienta Contini. “Tais pontos devem ser revisados constantemente para uma gestão de risco efetiva e alinhada ao momento financeiro e estratégico de cada empresa.”
Isso inclui “alinhar os prazos de pagamento ao risco real de cada parceiro, monitorar o desempenho ao longo da relação comercial e adaptar estratégias conforme o cenário evolui”, finaliza.