Carteiras enfileiradas, lousa e giz e um modelo pedagógico tradicional, centrado em aulas expositivas e padronizadas… Se você reconhece este ambiente, certamente já se formou há um bom tempo, não é mesmo? Isso porque o setor da educação vem passando por inúmeras mudanças e, hoje, assim como os demais segmentos que envolvem a vida em sociedade, é influenciado pelas transformações tecnológicas.
Para se ter uma ideia, 85% das escolas particulares de ensino infantil têm acesso à internet, conforme aponta o Censo Escolar de 2020. Além disso, segundo um levantamento realizado em 2017 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), entidade ligada ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), 61% dos professores de escolas particulares do país disponibilizaram conteúdos na internet para os alunos, enquanto que 66% tiraram dúvidas dos estudantes por meio de recursos tecnológicos. Ademais, 53% deste grupo de professores de rede privada afirmaram que receberam lições por meio da internet e 60% utilizaram programas educativos de computador junto aos estudantes.
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Disparidade entre ensino público e privado é evidente
no âmbito tecnológico
Apesar disso, é válido lembrar que o avanço da digitalização do ensino revela disparidades entre as escolas particulares e públicas, principalmente ao longo da pandemia. Segundo o Cetic, quase 95 mil escolas brasileiras municipais, estaduais e federais apresentaram dificuldade em realizar as atividades acadêmicas durante as aulas remotas. Ainda de acordo com o levantamento, dentre as principais restrições enfrentadas pela rede pública, estão: falta de computadores e celulares; falta de acesso à internet; e falta de familiaridade dos professores com os aparelhos tecnológicos.
Nesse sentido, em meio ao constante avanço tecnológico no setor educacional e aos problemas atrelados à desigualdade de acesso à internet, surgem os questionamentos: quais são as principais mudanças vivenciadas pelos estudantes nativos tecnológicos? Será que tais transformações no formato de ensino impactarão na formação e nos comportamentos dos alunos?
Para o diretor executivo e professor da Plataforma de EAD Professor Ferretto, Michel Henri Arthaud Jr., uma das alterações mais visíveis nos últimos anos tem sido o sistema de ensino híbrido: “hoje nós já temos uma mescla extremamente efetiva e benéfica do online com o presencial. Enquanto este último permite um contato maior com as pessoas, o primeiro garante maior flexibilização de tempo aos estudantes, que podem estudar nos horários mais adequados a sua rotina”, inicia Michel Henri, que acrescenta: “além disso, com a tecnologia, passamos a ter a gamificação do ensino, feito de uma forma mais lúdica e interessante. Com a modificação da BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e a introdução das ferramentas digitais no ensino, é possível apresentar os conteúdos de química, biologia e matemática, por exemplo, de maneira mais didática, mais próxima ao nosso dia a dia”, aponta.
Aluno vira protagonista no processo de aprendizagem
Segundo a especialista pedagógica da rede Luminova, Écia Maria Rubini Sales, tais reformas na rede de ensino pública e particular quebraram paradigmas e permitiram que os alunos ganhassem o protagonismo no processo de aprendizagem: “muitas escolas, como a Luminova, já possuem espaços diferenciados para promover a colaboração e trabalham com Metodologias ativas, onde o papel do aluno ganha um novo significado. Sala de aula invertida, aprendizagem baseada em projetos, gamificação e aprendizagem adaptativa já fazem parte da realidade do cotidiano escolar e vêm ganhando mais destaque na forma de aprendizagem”, comenta a profissional.
Com isso, Écia explica que é possível romper com a metodologia meramente transmissiva, onde o aluno reproduz o que o professor disse, e introduzir este novo formato de ensino com o auxílio da tecnologia: “o jovem ‘moldado’ no modelo de ensino tradicional, muito provavelmente, ao ingressar no mercado de trabalho terá dificuldades em realizar suas funções, principalmente se exercer cargos de gestão de liderança, vez que não terá tido a oportunidade de, no âmbito escolar, ter vivenciado experiências de mediação, de colocar suas hipóteses em xeque e, talvez o mais delicado, ter sido tolhido da interação com o outro, vez que somente vivenciando é que conseguimos desenvolver a empatia e com isso pensar no coletivo”, aponta a especialista pedagógica.
Ainda com relação aos meios de aprendizagem com o surgimento de instrumentos tecnológicos, o co-ceo e co-founder da Park Education, Paulo Arruda, afirma que “o ambiente de aprendizagem se tornou onipresente desde o início da pandemia. Conseguimos testar muitas soluções e entender o potencial do ensino a distância nos seus diversos formatos síncronos, assíncronos, online e híbrido, por exemplo.
Há muitas competências que podem ser desenvolvidas de forma efetiva à distância e precisamos ampliar a aplicação. Por outro lado, as organizações educacionais estão começando a entender que é necessário estabelecer relações de colaboração tanto entre os membros da própria organização quanto entre as diversas organizações para que possamos oferecer aos jovens uma diversidade de conteúdo e aulas de elevada qualidade de forma abrangente”
Para além das questões tecnológicas, o professor e coordenador dos cursos de Administração e Gestão Financeira da Faculdade FIPECAFI, Luiz Guilherme Rodrigues Antunes, afirma que a educação, de forma geral, necessita de uma adaptação sistêmica. “Conhecendo o sistema educacional e a proposta o qual foi desenvolvida, acho que ela tem aspectos bem interessantes e necessários para sociedade como um todo. Entretanto, a adaptação da educação precisa ser repensada sob vários aspectos, o qual acho essencial. Primeiro pela necessidade de políticas públicas e legislação que embase a transformação digital. Essa mesma política pública e legislação precisa garantir os investimentos educacionais básicos e a compra de equipamentos tecnológicos”, inicia o professor da FIPECAFI.
“Segundo, precisamos pensar na capacitação de professores e dirigentes, a fim de estabelecermos métodos (aqui entram as metodologias de ensino-aprendizagem mediadas pela tecnologia), processos e cultura digital. Por fim, precisamos pensar no nosso público. Pela extensão territorial, termos povos diversos, com diferentes juventudes. Por exemplo, na educação básica pública observamos a falta de infraestrutura básica, o que impossibilita a inserção tecnológica digital, uma vez que, em localidades socialmente vulneráveis, ainda temos estudantes que vão à escola em busca de alimento. De nada adiantaria, portanto, a digitalização nestes casos, visto que estudos relatam que o potencial de aprendizagem destes indivíduos é reduzido drasticamente, mesmo com metodologias ativas”, finaliza Luiz Guilherme Rodrigues Antunes.
E como fica o metaverso no ambiente educacional?
Finalmente, quando questionados sobre a influência do metaverso na educação, os profissionais da educação apresentam pontos de vista similares quanto aos rumos deste novo universo nas salas de aula: “a possibilidade de criar realidades virtuais para simular ambientes diversos e coabitar esse mundo paralelo por meio de avatares será muito enriquecedora para nossos estudantes”, aponta Écia Maria Rubini Sales.
Luiz Guilherme Rodrigues Antunes, por sua vez, lembra que algumas práticas já associam o metaverso ao campo da educação, como é o caso da criação de jogos virtuais com enfoque em objetivos pedagógicos. “Alguns resultados de pesquisa têm sido promissores nesta vinculação. Por exemplo, já se observou que o nativo digital tem maior tendência de interação em ambientes virtuais como Second Life. Também já foi verificado que os laboratórios e ambientes virtuais e de interação proporcionaram aprendizagens semelhantes às reais, bem como incentivaram a colaboração e comunicação entre os alunos”, enfatiza.
Já o professor de economia do bem-estar e desenvolvimento Infantil da Universidade de Zurique e sócio-fundador da Movva, Guilherme Lichand, ressalta que a inserção de óculos de realidade aumentada no ambiente escolar aumentam as interações dos alunos com ambientes distantes a eles e auxiliam no processo de ruptura das bolhas culturais, sociais e econômicas: “a tecnologia pode contribuir para processos pedagógicos inclusivos, que coloquem o aluno como protagonista”, explica. Apesar disso, o acadêmico deixa bem claro que tais tecnologias, normalmente restritas aos alunos de escolas particulares, podem aumentar ainda mais as desigualdades entre as instituições públicas e privadas.
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