Logo após a apresentação de abertura feita por Jacques Meir, diretor-executivo de Conhecimento do Grupo Padrão, acontece um debate entre três empresas que entendem a forma de pensamento dos Millennials: Natura, Unilever e Chilli Beans. Logo no início da conversa, Maria Paula Fonseca, diretora da Unidade Global de Cosmética da Natura, conta que a empresa é fã dos Millennials. “Essa é uma geração que provoca e que reconhece o quão saudável é a aceitação do erro, da tentativa”, diz.
Nesse sentido, ela conta que uma equipe de Millennials fez uma transformação de marcas da Natura, tendo como base a própria experiência: não foi preciso P&D. “Eles aprendem fazendo”, diz. “A forma como estamos lidando com isso é investindo em um ambiente fértil, onde as transformações acontecem”.
Ricardo Fonseca, vice-presidente de Food Solutions da Unilever, por sua vez, destaca a diversidade como um fator no qual a empresa aposta. “Dá mais resultado, há mais inovação”, argumenta. Além disso, ele afirma que o desafio é enfrentar a questão do “nós contra eles”. E explica: ao contrário do que costumam dizer, hoje, de fato, somos todos Millennials – simplesmente porque algumas ideias são melhores, como Uber e Airbnb, e todas as gerações de adaptaram a elas.
Vamos aprender com eles?
“Se eu posso impactar uma organização de forma mais rápida do que costumávamos fazer no passado, eu quero fazer isso”, diz.”Mas, se o Millennial chega na empresa e você diz que ele tem que se dedicar por 15 anos por um cargo, ele vai dizer não”.
Porém, como ele ressalta, no futuro todos poderemos trabalhar por mais tempo – não por causa da reforma da previdência, mas porque viveremos mais – e, por isso, poderemos querer trabalhar em lugares e carreiras diferentes. Como exemplo, Ricardo conta sobre um general americano que se aposentou e estudou medicina. Formado, foi trabalhar no Iraque como médico. “Vejo o outro lado do que fiz”, contou o militar.
Roberto Meir, CEO do Grupo Padrão e mediador do painel, questiona, então, sobre a cultura da Chilli Beans – uma empresa que começou do nada e se tornou uma marca amada por clientes e colaboradores. Caito Maia, fundador da marca, lembra que a empresa foi a primeira a acolher e admirar pessoas que escolhem sua identidade de gênero, usam tatuagens, que antes eram marginalizadas.
Contudo, ele aponta que a atitude Millennial não tem “cauda longa” – não se interessa por origens, por descobrir quem criou uma música, não sabe qual é o estilista que desenvolveu um produto, mas se importa com o que está no Instagram. “Temos que encher o lado vazio dessas pessoas”, diz. “Elas estão experimentando tudo cedo demais e depois vão ficar sem ter o que viver”.
Como dar bronca em um Millennial?
A dificuldade em lidar com críticas é dos pontos mais complexos em relação ao comportamento Millennial. Por isso, a questão “bronca” foi abordada nesse painel. Nesse sentido, Maria Paula comenta que a primeira conversa que se tem com um colaborador jovem dentro da Natura consiste em explicar que, lá, ele terá “conversas de adulto”. Mas, mesmo assim, sabe que essa geração é mais sensível.
Nesse sentido, Jacques Meir, diretor-executivo de Conhecimento, destaca o aumento de números relacionados à depressão. Para Maria Paula, essa é uma representação de que o desconhecido traz ansiedade e os Millennials não enxergam no chefe o que eles querem ser – o que é angustiante. “Eles valorizam o cume, mas dão mais importância para o caminho”, diz. “Todos os dias quando acordam precisam ver o sentido no trajeto”.
Ricardo, por sua vez, ressalta que teve todo tipo de chefes, mas que os melhores foram os que deram explicações que iam além da bronca. “Não podemos ser reféns das pessoas, temos que ter o compromisso de sermos transparentes e diretos. O trabalho que não está bem feito tem que ter um motivo para não estar. Vejo que o gestor tem medo de falar porque por medo do funcionário, que pode pedir demissão. Temos que criar um ambiente em que as pessoas possam ficar bem em qualquer período de tempo”, diz.
O que realmente importa
Além disso, ele argumenta que teve muito mais problemas com pessoas da própria geração do que com Millennials. “Não encontrei nenhum Millennial que tratasse mal as pessoas, mas encontrei pessoas mais velhas que eram autoritárias”.
Maia, por sua vez, conta que não faz questão de ter um propósito fixo mas, mesmo assim, por muito tempo não teve como conquistar as pessoas pelo salário. “Tive que conquistar pelo sonho”, explica. “Na minha vida, aprendi que reconhecer o funcionário e abraçá-lo às vezes é mais importante que um salário”.