Questionamento como “e o lixo gerado pela indústria da moda, o que fazer com ele?”, “Que impactos o consumo excessivo de plástico tem sobre as mulheres, principalmente?” e “É possível produzir e neutralizar as emissões de carbono que afetam o clima?” ganham mais espaço no interesse tanto de leitores comuns quanto de empresas e – mais uma vez, a pandemia de Covid-19 que varre o mundo tem sua parcela de ação diante dessa mudança de comportamento.
As perguntas acima podem ter respostas na plataforma Modefica – veículo online e presente nas redes sociais (no Instagram principalmente, no qual já tem quase 90 mil seguidores). Muito antes da pandemia de Covid-19 avançar e mudar comportamentos, esses temas já eram abordados no canal, cuja visão crítica trata de sustentabilidade, moda, alterações climáticas, além de como andam as relações no mercado de trabalho – principalmente relacionadas às mulheres.
Lançado em 2014, o Modefica focava sua atenção mais no universo fashion, já que sua criadora, a designer de moda Marina Colerato, tem intimidade com o tema. Mas um assunto mostrou estar intimamente ligado a outro e, assim, os temas foram se sobrepondo: “A gente tinha um perfil mais de comportamento e serviço, mas fomos migrando com o tempo e conforme a pauta sustentabilidade foi se fortalecendo e se transformando em um debate que envolvia ecologia, gênero e questões sociais mais amplas”, conta Marina Colerato.
O interesse diante da sustentabilidade segue aumentando, até porque, segundo a criadora do Modefica, muitas empresas ainda não sabem como abordá-lo: “As empresas têm nos procurado principalmente para dialogar de uma forma melhor com o seu próprio público acerca do tema da sustentabilidade”, diz Marina. “Em geral, elas têm muito receio do assunto, e acho que é importante ter esse cuidado porque ele desenvolve um certo respeito pelo tema – e não o banaliza. Ainda é bastante incipiente o debate no mercado. Quero dizer que ele acontece, mas as ações concretas são tímidas. Há poucos exemplos de empresas que abraçaram essa transformação da sustentabilidade de fato”, explica.
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O “antes” e “depois” do sustentável
Essa atenção toda que o tema da sustentabilidade anda tendo – e que aumentou consideravelmente com a pandemia de Covid-19 – é sentida pela equipe do Modefica. “O interesse do público mudou sim. Se a gente for pensar há seis anos isso era bastante incipiente”, explica Marina. “Tínhamos organizações não-governamentais e pessoas fazendo um trabalho interessante dentro do segmento específico do guarda-chuva da sustentabilidade. Havia gente muito boa olhando para questões de trabalho, ou ambientais – como desmatamento, uso de terra e agrotóxicos, por exemplo. Isso sempre existiu”, enfatiza.
“O que a gente tem agora, em se tratando do tema da sustentabilidade especificamente, é que esse conteúdo chega a mais pessoas, e de formas diversas. O interesse vai se ampliando, o assunto vira mais comum, midiático, mainstream. Há mais pessoas interessadas”, reforça. No entanto, para Marina, é difícil debater, com seriedade, a sustentabilidade no Brasil: “Se a gente fala de crise do clima, então, isso é algo super desafiador. Temos bastante para percorrer. Há um cenário ainda de negacionismo climático e científico, porém, é fato que o interesse tem aumentado”, afirma.
Covid-19 e mudanças
Quem acompanha a cobertura relacionada à Covid-19 está mais do que por dentro do fato de que ela acelerou a adoção de certos comportamentos e colocou no foco, no centro da discussão, diversos assuntos – entre eles a preocupação com o ecossistema, a sustentabilidade como um todo, e a alteração em como os países pensam o desenvolvimento no presente e no futuro.
“A pandemia revelou a insustentabilidade do sistema em muitas perspectivas: cultural, econômica, social e ambiental. Isso tudo ficou bastante claro”, defende a criadora do Modefica. “A partir do momento em que o vírus surge de uma aproximação equivocada entre ser humano e natureza, você quebra barreiras importantes e possibilita o surgimento desta pandemia – que já tinha sido prevista, inclusive, por especialistas lá em 2012”, afirma.
Ela ressalta também que, por mais que já houvesse a ideia de que um evento como esse, de contaminação em massa por um vírus, pudesse acontecer na realidade, nenhuma nação se preparou para a possibilidade: “Acho que isso revela duas coisas: a insustentabilidade nas nossas relações com o meio em que a gente vive; e a falta de vontade política e econômica de tomar ações quando elas são necessárias”, diz Marina.
Nos piores meses da pandemia de 2020, inclusive, houve essa percepção de que setores que trabalhavam com o que era considerado supérfluo naquele momento sofreram mais: “A gente viu a fragilidade de vários segmentos que vivem à base do excesso, de vender aquilo que as pessoas não precisam. E as pessoas que, de alguma forma, estão empregadas nestes setores sofreram muitíssimo”, diz.
Ao rumar por esse caminho – de como viver novas formas de consumo e de uma vida sustentável – não é possível esquecer que, enquanto diversos setores lidavam com a insustentabilidade econômica de um sistema que, nas palavras de Marina “não consegue ficar 15 dias parado”, big techs e poucas outras empresas experimentaram lucros astronômicos. “A pandemia deixou claro que uma porcentagem muito pequena de pessoas concentra uma renda ‘pornográfica’. Revelou também que há outras formas de viver e habitar o mundo. E isso é importante. Esse apoio apareceu nas comunidades, que precisaram se fortalecer entre si porque foram abandonadas pelo sistema como um todo. Muitas pessoas precisaram recorrer ao seu vizinho, a amigos, a esquemas coletivos para poder viver nessa crise”, finaliza ela.