A expectativa de vida dos brasileiros deu um grande salto nas últimas duas décadas. De acordo com dados do IBGE de 2016, essa expectativa chegou a 75,8 anos. Isso significa dizer que, em 2039, teremos mais pessoas com mais de 60 anos do que adolescentes de 15 anos.
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Essa revolução da longevidade foi o ponto de partida para a pesquisadora Flavia Morizono desenvolver uma pesquisa mergulhasse na complexidade do comportamento desse consumidor com mais de 60 anos que, muitas vezes, não encontra produtos e serviços que contemplem sua prateleira de desejos.
A Consumidor Moderno conversou com a autora sobre os principais insights da pesquisa, os principais gargalos desse mercado e como essa tendência deverá entrar definitivamente no radar das marcas pelos próximos anos. Confira:
Consumidor Moderno – Flávia, o termo “revolução da longevidade” é constantemente ventilado, mas geralmente as menções ainda são muito vagas. O mercado e as marcas estão, de fato, se preocupando com esse público?
Flavia Mozono – O mercado realmente começou a se preocupar, começando pelo segmento de beleza que já mostra essa representatividade. Por exemplo, os anti-idades, a parte de estética, maquiagem estão na frente. Pela nossa pesquisa, percebemos que existe essa representatividade, então, no catálogo de produtos de determinadas marcas já tem uma pessoa com mais de 60 anos. Outro mercado que percebemos que já iniciou uma movimentação é o mercado de moda. Pela nossa pesquisa, as marcas mais citadas são Fast Fashion. E se você parar pra pensar, nenhuma marca desse segmento tem uma modelo que represente esse mercado com mais de 60 anos. Na Europa, a Viviane Westwood já desfilou com 75 anos para mostrar que ela consegue vender roupa para essas pessoas. Então, não existe mais essa segmentação de “roupas para pessoas com mais de 60 anos”. O grande lance é começar a introduzir os 60+ na publicidade e ações promocionais.
CM – Neste ano o Conarec pautou o conceito de pós-consumidor, que é um mindset que abrange a várias faixas de idade. Você percebe que esse novo comportamento também contempla o público abordado na sua pesquisa?
FM – Com certeza, sim. Acredito que hoje a transparência é a coisa mais importante da marca com o consumidor e, na minha pesquisa, a maioria das pessoas responderam – tanto presencialmente quanto online -, que elas não se sentem representadas. Elas não enxergam nem produtos e nem serviços feitos para elas. Marcas, sapatos, vestuários, esporte, ações a esse público ainda são escassas. A gente percebeu que os dois públicos que a gente acredita, tanto o conservador quanto o contemporâneo, gostam de vestuário esportivo e, se você parar pra pensar, quem é que faz a ação para o vestuário esportivo hoje para 60+? Ninguém faz. Na corrida de rua, por exemplo, há muitas pessoas 60+, mas não existe um serviço da organização que agregue algo para esse público.
CM – Quais foram os principais insights da pesquisa?
FM – Uma coisa que me deixou muito admirada foi a questão da mobilidade. Então, os 60+ guardam dinheiro de forma organizada para trocar de carro todos os anos. Se a gente parar pra pensar, quem é que troca de carro todo ano? Dificilmente isso acontece. Então você percebe que essas pessoas, mesmo com filho saindo de casa e essa sobra de dinheiro, acabam se permitindo a esses pequenos luxos. Ocorre que ninguém no mercado se preocupa com os pequenos luxos desse público. Acho que foi muito interessante mostrar (no estudo) que essas pessoas que estão na faixa de 60, 70 e até 80 fazem questão de dirigir o seu próprio carro, não citam preço em momento nenhum, mas citam conforto, segurança e design. Percebo que as marcas ainda não se preocupam muito com isso, então esses pequenos luxos talvez sejam uma abertura muito grande pro mercado nos próximos anos.