O turismo é um dos setores da economia que mais vem sofrendo com a pandemia. Para conter o ritmo acentuado de contágio pelo novo coronavírus, fronteiras foram fechadas, muita gente optou por adiar e até mesmo desmarcar viagens programadas e destinos que antes concentravam uma grande quantidade de pessoas ficaram desertos. O turismo rodoviário também sentiu o baque.
O setor, que até 2020 movimentava cerca de 160 milhões de passageiros por ano – aproximadamente o dobro do aéreo doméstico – precisou reduzir frotas, otimizar rotas e adotar medidas capazes de proporcionar mais segurança e confiança para quem precisa viajar de ônibus.
Para o futuro pós-pandemia, Fernando Prado, CEO da ClickBus, plataforma líder em venda online de passagens rodoviárias, prevê consolidação do comportamento digital, atenção especial às normas de higienização das frotas e preferência por viagens para destinos próximos.
Comportamento digital também no turismo rodoviário
Rodoviárias lotadas, uma grande quantidade de pessoas circulando entre um guichê e outro, cotando preços de tickets e checando horários de ônibus em diferentes viações, além de longas filas de espera para comprar passagens. A cena, que até março de 2020 era comum na maioria das cidades do país que contam com transporte rodoviário, atualmente, parece ser coisa do passado.
A pandemia do novo coronavírus afugentou turistas e viajantes e estabeleceu uma crise no setor. O “Relatório Impacto Econômico do Covid-19 – Propostas para o Turismo Brasileiro”, publicado pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV) em abril de 2020, estima que o prejuízo para o setor turístico brasileiro será de R$ 116,7 bilhões no biênio 2020-2021. Considerando que o transporte rodoviário responde por 17,37% deste mercado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível ter dimensão do tamanho do impacto.
Fernando Prado, CEO da ClickBus, aponta que o ano de 2020 foi uma surpresa e apresentou grandes desafios ao provocar mudanças profundas no comportamento do consumidor. Segundo ele, antes as pessoas planejavam suas viagens como forma de turismo; atualmente, viajam somente em caso de necessidade. Além disso, as medidas de restrição de circulação forçaram a adequação do mercado ao comportamento digital.
“Quando lançamos a ClickBus, em 2013, apenas 1% dos bilhetes eram vendidos online. Em épocas pré-pandêmicas, a compra de passagens online respondia por 10% das vendas do setor. Atualmente, a penetração online é de mais de 20%. E um dos cenários que impulsionou a digitalização foi, sem dúvida, a pandemia. As pessoas estão em busca de mais comodidade e segurança na hora de adquirir as suas passagens, pois assim conseguem embarcar mais rapidamente”, explica o executivo.
Estabelecer o comportamento digital no setor, aliás, foi uma das principais dificuldades enfrentadas pela ClickBus quando iniciou suas atividades. “A primeira ‘barreira de confiança’ foi junto das empresas de ônibus, para convencê-las a topar entrar no mundo digital. E isso não foi algo que aconteceu somente no Brasil”, pontua Fernando Prado. Atualmente, a ClickBus oferece cerca de 4.6 mil destinos no Brasil e tem parceria com cerca de 150 viações.
“Podemos perceber que esse é um mercado que está começando a migrar para o mundo online, assim como o aéreo”, diz Prado. Com a compra online, além da possibilidade de comparar preços e escolher destinos sem ter contato com outras pessoas, o passageiro consegue embarque mais rápido por meio do bilhete eletrônico. Para Fernando Prado, o comportamento digital do setor é um dos hábitos que deve se manter – e crescer – no pós-pandemia.
“É difícil antever algo para o futuro pós-covid, mas diante do cenário de flexibilização e retomada das atividades, a tendência é que o aumento na venda de passagens online cresça ao longo dos próximos meses e se mantenha. Acreditamos que os passageiros que descobriram as facilidades da compra de passagens rodoviárias online não devem retroceder e voltar a adquirir os tickets do modo tradicional. Com isso, a expectativa é que as vendas online continuem aumentando mesmo após a pandemia”, avalia.
Apesar do momento de grande dificuldade, o turismo rodoviário deve se restabelecer aos poucos, à medida em que a vacinação da população avança e mais flexibilizações são permitidas. Isso porque o ônibus tem um papel muito relevante no transporte brasileiro, sendo capaz de conectar o Brasil em larga escala.
“Nossa maior preocupação, desde o início da pandemia, foi oferecer todas as informações necessárias aos viajantes. Também entendemos que o mais importante é que as pessoas façam as viagens somente quando for seguro e, para isso, tivemos algumas ações, como oferecer créditos e bônus para que os nossos clientes marcassem suas viagens em um momento mais oportuno”, pontua o CEO da ClickBus.
Turismo doméstico deve ganhar espaço no pós-pandemia
Além da forma de comprar passagens, a pandemia do novo coronavírus transformou também o comportamento do consumidor, que, atualmente, viaja apenas em caso de necessidade. Para o futuro, especialistas apontam valorização de destinos domésticos com destaque para o turismo rural, de natureza, de aventura e gastronômico – o que já começou a ser visto, inclusive.
“Percebemos que, antes da pandemia, as pessoas costumavam planejar e realizar viagens mais longas, para outros estados mais distantes, por exemplo. Agora, vemos que cada vez mais os viajantes devem priorizar o turismo doméstico, optando por pontos turísticos do próprio estado e visitas a familiares que residem mais próximos”, avalia Fernando Prado.
O CEO da ClickBus destaca ainda que a retomada do setor deve aumentar de acordo com o avanço da vacinação e com a volta da população brasileira às ruas, condição que deve levar algum tempo para acontecer.
“Agora, as viagens que estão acontecendo têm um significado diferente, são viagens que não podem ser adiadas”, pondera.
Medidas de prevenção fazem parte da rotina
Apesar da queda na procura, da redução das frotas e dos impactos nas rotas, o turismo rodoviário segue operando e com o objetivo de atender especialmente àqueles passageiros que não podem adiar a viagem. Para isso, a adoção de protocolos de higiene e segurança passou a fazer parte da rotina de empresas do setor.
“Seguimos incentivando que as viagens sejam evitadas nesse período de pandemia de coronavírus, mas para as pessoas que realmente precisam viajar oferecemos um transporte que coloca a segurança em primeiro lugar. Desde o ano passado, em conjunto com as viações parceiras, estamos fortalecendo ainda mais os protocolos de segurança e higiene em todas as etapas de viagem com base nas recomendações de órgãos competentes como Ministério do Turismo, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)”, explica Fernando Prado.
Entre as medidas que agora fazem parte da rotina das viações estão procedimentos de higiene, desinfecção dos veículos, jornada com menos contato (que inclui o uso de máscaras, embarque com e-ticket e fornecimento de álcool gel) e orientações efetivas aos passageiros sobre as medidas adotadas pelas empresas do setor de transporte rodoviário no país. E isso é outra coisa que não deve mudar no pós-pandemia.
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