Imagine um país onde as conversas do café da manhã ecoam nos grupos do WhatsApp, as risadas da hora do almoço são capturadas em vídeos curtos no Instagram. Já o final do dia é embalado por memes no X. Esse é o Brasil: um lugar onde as redes sociais não apenas conectam, mas moldam histórias e opiniões. Segundo o relatório “Digital 2024”, da We Are Social, os brasileiros ocupam o segundo lugar em tempo diário online. Os internautas do país gastam uma média de 9 horas e 13 minutos por dia usando a internet. Diante disso, a questão é: como o brasileiro se sente com relação a isso?
Atualmente, as redes sociais se consolidaram como parte essencial da rotina do brasileiro. Seja para informar, divertir ou interagir com amigos e familiares, essas plataformas dominam o cotidiano de milhões de pessoas. De acordo com um estudo do Instituto Locomotiva, redes como Instagram, YouTube e Facebook não apenas conectam, mas também refletem as complexidades emocionais e sociais da vida moderna no Brasil.
O estudo revela que 75% dos brasileiros acreditam que as redes sociais mais ajudam do que atrapalham quando se sentem sozinhos. Essa percepção é ainda mais comum entre pessoas com baixa escolaridade e idosos, que veem nas plataformas digitais uma forma de se conectar com o mundo. Instagram e YouTube são os espaços preferidos para momentos de descontração, sendo mencionados por 69% dos entrevistados.
Toxicidade e polarização
No entanto, nem todos compartilham a mesma experiência positiva. Conforme dados do Instituto Locomotiva, cerca de 25% das pessoas afirmaram que as redes sociais mais atrapalham do que ajudam em momentos de solidão. Dentro desse grupo, 56% das pessoas apresentam elevado grau de solidão. Isso destaca um paradoxo: quanto mais se busca nas redes um refúgio contra o isolamento, maior pode ser a sensação de vazio para quem já enfrenta dificuldades emocionais.
Embora as redes sociais sejam valorizadas por muitos como espaços de interação e entretenimento, elas também são fonte de pressão e angústia. Além disso, o levantamento separou em dois grupos os conteúdos potencialmente tóxicos: um explora o medo, a raiva e outros sentimentos diretamente negativos; outro, pinta realidades pretensamente utópicas, despertando a inveja ou a crítica da inautenticidade.
O estudo revela que 30% dos brasileiros consideram postagens positivas — como demonstrações de felicidade ou conquistas idealizadas — mais prejudiciais do que conteúdos explicitamente negativos. Ao mesmo tempo, 70% dos usuários de redes sociais se sentem negativamente afetados por conteúdos negativos, como falas raivosas e bullying.
Essa percepção reflete um efeito psicológico nocivo causado por padrões inalcançáveis ou por comparações constantes com realidades fabricadas. Plataformas como Instagram e Facebook foram apontadas como as que mais geram pressão social. Para 41% dos brasileiros, o uso dessas redes resulta em mais desconforto do que descontração, evidenciando o impacto do design algorítmico na experiência dos usuários.
Sensibilidade e exposição a estímulos negativos
Ainda de acordo com os dados do Instituto Locomotiva, homens e mulheres são igualmente afetados por estímulos negativos nas redes sociais. Porém, os homens (56%) são particularmente vulneráveis à toxicidade dos conteúdos considerados positivos, enquanto mulheres (44%) são mais impactadas por publicações explicitamente negativas, como discursos de ódio e cyberbullying.
O estudo simulou ainda a exposição à violência, tanto em ambientes físicos quanto no digital, para medir o grau de sensibilidade das pessoas e o impacto diferencial dos dois tipos de ambientes. Diante disso, o resultado mostrou que 80% dos entrevistados relataram forte aversão a estímulos negativos, como imagens de acidentes e situações violentas.
No entanto, o comportamento prático contradiz essa exclusão inicial. Durante os experimentos, 63% dos participantes presumiram que, ao presenciarem um acidente, sentiriam o impulso de observar o ocorrido. No ambiente digital, essa curiosidade é ainda mais evidente: 88% das pessoas que participaram do estudo optaram por abrir imagens de conteúdo sensível, mesmo tendo a opção de evitar o material.
O Brasil no contexto global
No cenário internacional, o Brasil é destaque pelo tempo médio gasto nas redes sociais. Essa intensidade de uso reflete tanto a popularidade das plataformas quanto a conexão intrínseca dos brasileiros com o ambiente digital.
O relatório global da We Are Social aponta que, em 2024, 60,5% da população mundial esteve presente em redes sociais, o que equivale a 5 bilhões de usuários. Embora o consumo global seja distribuído de maneira desigual, países emergentes, como o Brasil, lideram em engajamento e uso per capita. Esse contexto posiciona o país como um laboratório para compreender as dinâmicas e tendências do comportamento digital.
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