Desde diagnósticos mais precisos até a personalização de tratamentos e a gestão hospitalar, a Inteligência Artificial definiu novos paradigmas para a experiência de médicos e pacientes. Mas quais são os desafios e perspectivas dessa tecnologia no setor? Para responder a essa e outras questões, a Consumidor Moderno conversou com o Dr. Victor Gadelha, diretor médico de Ensino, Pesquisa e Inovação da DASA.
Para Victor Gadelha uma das principais contribuições da IA é o aumento da eficiência clínica. “A Inteligência Artificial vai ajudar a escalar o atendimento à saúde, permitindo que mais pessoas tenham acesso a um cuidado de qualidade sem elevar drasticamente os custos do setor”, explica.
A IA também está impactando a personalização dos tratamentos. Gadelha destaca que a tecnologia pode analisar um volume massivo de dados em milissegundos, identificando padrões ocultos que escapam ao olhar humano. “Por exemplo, em um eletrocardiograma, conseguimos interpretar ondas, mas a IA consegue ver a microlinha para tirar insights”, explica. “Numa área específica, de padrões ocultos, consegue ver o que o humano não é capaz. Dentro desse cenário da personalização, conseguimos nos aprofundar um nível a mais”.
Essa capacidade está permitindo uma transição da medicina baseada em evidências para a medicina personalizada, ou de precisão. Além disso, Gadelha explica que a IA tem sido usada para analisar grandes bases de dados genéticos e históricos médicos, auxiliando na personalização de tratamentos. Na oncologia, por exemplo, algoritmos de Machine Learning ajudam a identificar padrões em tumores e a prever quais terapias têm maior probabilidade de sucesso para cada paciente.
IA e o impacto nos consultórios e hospitais
De acordo com uma pesquisa do Medscape, realizada com mais de 3 mil médicos na Argentina, Brasil e México, a maioria dos profissionais reconhece o potencial da Inteligência Artificial. No Brasil, 71% dos entrevistados consideram a tecnologia útil para interpretar exames de imagem, enquanto 79% acreditam que ela pode revolucionar a gestão de prontuários médicos.
Apesar do avanço tecnológico, a integração da IA na prática clínica ainda enfrenta desafios. “Além da evolução dos algoritmos e da estruturação dos bancos de dados, existe um desafio humano: a adaptação dos profissionais”, afirma Gadelha. “Médicos, laboratórios e hospitais precisam desenvolver uma cultura que favoreça a adoção dessas tecnologias de forma escalável”.
IA na prática
A DASA desenvolveu um algoritmo que acelera exames de ressonância magnética, reduzindo em 30% a 40% o tempo de realização de um exame neurológico. Normalmente, esse tipo de ressonância pode levar um tempo considerável, o que torna a experiência desconfortável, especialmente para pacientes com claustrofobia. “Ficar 30 ou 40 minutos dentro da máquina pode ser difícil. Com a redução de 12 a 13 minutos, conseguimos melhorar significativamente a experiência do paciente”, explica.
Além do impacto positivo na jornada do paciente, a tecnologia também traz benefícios operacionais. Máquinas de ressonância representam investimentos milionários, e torná-las mais eficientes significa aumentar sua rentabilidade. Nesse sentido, com exames mais rápidos, é possível encaixar mais atendimentos na agenda médica, otimizando o fluxo e garantindo que mais pessoas sejam atendidas.
Outro desafio na experiência do paciente é o acompanhamento dos diagnósticos. A DASA identificou que entre 15% e 20% dos pacientes — em algumas regiões, até mais — não retiram seus exames, o que pode ter consequências graves. Há casos em que um exame revela um tumor, mas o paciente só acessa o resultado meses depois, quando a doença já está em estágio avançado, dificultando o tratamento.
Para evitar essas situações, a DASA utiliza algoritmos de processamento de linguagem natural que analisam automaticamente laudos de exames como ressonâncias, tomografias e ecocardiogramas, identificando achados clínicos relevantes. “Se encontramos algo crítico, como um nódulo na mama, pâncreas ou fígado, agilizamos a jornada de cuidado do paciente”, explica.
No entanto, a companhia não entra em contato diretamente com o paciente. Em vez disso, notifica o médico solicitante, garantindo que a conduta siga os protocolos clínicos. “Doutor, seu paciente apresenta esta lesão. Antecipe a consulta, acelere a investigação”, exemplifica. Esse processo é comum em especialidades como a cardiologia, quando um exame de mama sinaliza a necessidade de uma análise adicional que normalmente não faz parte da rotina do cardiologista. Nesses casos, a equipe pergunta se deseja auxílio na condução do caso, e a resposta costuma ser positiva: “Por favor, agilize, já preciso solicitar uma biópsia.”
Esse tipo de iniciativa tem um impacto direto na saúde dos pacientes. “Conseguimos aumentar em quase 20% a taxa de retorno para a linha de cuidado, o que é essencial. Se o paciente não retorna, pode haver consequências graves, como a progressão de uma doença não tratada”, destaca.
O futuro: Inteligência Artificial multimodal
Gadelha aponta que a próxima grande revolução será a IA multimodal. “Essa tecnologia permite combinar diferentes tipos de dados — imagens de exames, resultados laboratoriais, prontuários eletrônicos, registros de áudio e informações genéticas — para gerar diagnósticos mais precisos e personalizados”.
Com esse avanço, a medicina entra em uma nova era na qual a IA se torna um aliado essencial para a tomada de decisões médicas. No entanto, Gadelha alerta que profissionais que resistirem a essa tendência podem perder relevância no mercado. “A cada dia, a tecnologia se torna mais indispensável. Quem não se adaptar pode acabar perdendo vantagem competitiva”.