Desde 2020, o Brasil enfrenta uma crise hídrica desencadeada pela pior seca em 91 anos que reduziu a níveis críticos os reservatórios das hidrelétricas. O assunto veio à tona durante o painel “O consumidor no centro da estratégia ESG” durante o Conarec 2021.
Com 40 anos de experiência no setor elétrico, Vilmar Abreu, diretor-executivo de Excelência ao Cliente da EDP, sinalizou a transformação do setor. “Não adianta ter lucro a qualquer preço. Evoluímos muito e ainda temos preocupações. Temos uma crise hídrica. O que vamos fazer para mudar esse cenário? Isso precisa estar dentro do debate ESG”.
Player do setor de energia, a EDP atua como distribuidora em dois estados – São Paulo, com uma área de concessão que abrange 28 municípios, e Espírito Santo, onde está presente em 70 municípios.
Segundo Abreu, a empresa de energia elétrica tem buscado orientar o cliente a como economizar energia. “Para nós, a energia mais cara é aquela desperdiçada. Por isso, temos uma série de ações de comunicação com os nossos clientes para que eles possam usar a energia de forma mais eficiente e racional. Isso trará benefício na conta, redução do custo e bônus que o governo pagará a partir de janeiro de 2022”, explica.
Abreu cita que a empresa atua em outras ações, que é construir micro e minigeração distribuída para poder ter mais geração e alavancar a geração fotovoltaica para poder depender menos da matriz hídrica.
“O problema da crise hídrica pode ser visto de várias maneiras. Mas é interessante ver como as marcas estão evoluindo para entender que não dá mais para comprar um espaço para falar de si mesmo. Tem muita organização capitalizada, relevante e influente e muito problema social e ambiental. Só precisamos promover os matchs e garantir que as empresas entendam que não é só sobre ‘fazer o bem’ é sobre preservar o próprio negócio. É um investimento no próprio negócio uma EDP trabalhar com a questão da crise hídrica”, pontua Victor Cremasco, sócio e co-CEO da Mandalah.
Match entre empresas e causas sociais e ambientais
Segundo Cremasco, as organizações têm que atuar entendendo qual é o propósito, de forma a conseguir tangibilizar em causas e intenções socioambientais. “São muitas, como fome, empreendedorismo, renda, crise hídrica e saneamento básico. Poderia falar de 50 questões que estão aí, são necessidades que nós temos e são bolas quicando. As empresas têm as suas temáticas e precisam estar predispostas a descobrir que temática é essa e investir com legitimidade. Não faz sentido uma empresa de um setor completamente diferente protagonizar a crise hídrica. Uma empresa como a EDP tem que protagonizar. As peças precisam estar nos lugares certos”.
Energias renováveis
A EDP tem participado forte principalmente na questão da energia renovável através da energia eólica e micro e minigeração solar. “A EDP tem em seu portfólio uma meta de estar 100% com energias renováveis até o ano de 2030”.
A empresa tem um cuidado especial com os colaboradores, as empresas, os prestadores, clientes, acionistas, comunidades onde está inserida. Está prevista a troca de dois caminhões elétricos para fazer a manutenção pesada, mudar a matriz energética para energias renováveis e também dotar o cliente de canais cômodos para que ele resolva tudo sem sair de casa. “Estamos buscando a digitalização e descentralização”, destaca o diretor.
ESG: marketing ou consciência
Desde os anos 90, as empresas veem sendo provocadas a pensar mais sobre as questões ambientais e sociais. No tocante à governança, é algo que ganhou mais destaque recentemente, por conta dos meios de comunicação mais abertos e transparência. “Ficou mais urgente que as empresas também estejam mais estruturadas internamente para que isso reverbere para fora”.
Para Cremasco, o ESG é mais uma onda desse movimento que já teve vários nomes, como sustentabilidade e o conceito de propósito. Tudo reflete o mesmo objetivo, que é a necessidade de as organizações atuarem de maneira mais protagonistas na sociedade e no planeta para preservar a própria existência e gerar valor para as pessoas. “As empresas ainda ficam muito presas à necessidade de comunicar o seu trabalho e por isso, às vezes, soam marqueteiras. Ao mesmo tempo, comunicar o que é feito e bem-feito é necessário. É um mérito”.
Hoje, as pessoas conseguem identificar rapidamente o que é puro marketing, porque elas enxergam o que tem robustez, histórico e respaldo. Em caso positivo, enfatiza Cremasco, é simplesmente a busca pela organização de estabelecer um elo.
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