Diante de um cenário externo adverso e de incertezas crescentes tanto no plano internacional quanto doméstico, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25%, alcançando 15% ao ano. A decisão reflete a necessidade de conter a inflação, que segue acima da meta. Além disso, o objetivo é enfrentar um ambiente marcado por expectativas desancoradas, atividade econômica resiliente e pressão no mercado de trabalho.
O comunicado do Copom destaca que o cenário internacional continua particularmente incerto, com destaque para os desdobramentos da política econômica dos Estados Unidos. A condução da política fiscal e comercial do país norte-americano tem afetado significativamente a volatilidade de ativos e as condições financeiras globais. Para os países emergentes, o momento exige cautela, principalmente em meio ao acirramento das tensões geopolíticas.
No plano doméstico, o Comitê reconhece algum dinamismo na atividade econômica e no mercado de trabalho, mas aponta sinais de moderação no crescimento. Ainda assim, a inflação continua resistente: tanto o índice cheio quanto às medidas subjacentes seguem acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo o Boletim Focus, as expectativas de inflação para 2025 e 2026 estão em 5,2% e 4,5%, respectivamente. Ou seja, ambas estão acima da meta de 3%. A projeção do próprio Copom para 2026, considerado o horizonte relevante da política monetária, é de 3,6%.
Riscos para todos os lados
O Comitê reconhece que os riscos para o cenário inflacionário continuam elevados e distribuem-se entre pressões altistas e baixistas. Entre os riscos de alta, está a desancoragem prolongada das expectativas de inflação. Ainda pode haver uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo. Espera-se ainda uma conjunção de políticas econômicas internas e externas com efeitos inflacionários inesperados, como uma taxa de câmbio mais depreciada de forma persistente.
Por outro lado, diante dos riscos de baixa, o Copom observa as chances de uma eventual desaceleração mais acentuada da atividade doméstica, o que pode resultar em um impacto inflacionário maior do que o esperado. Há chances também de um choque de comércio internacional e incerteza global com efeitos recessivos mais profundos. Ainda, entre os riscos de baixa, ressalta-se a redução nos preços das commodities, com reflexo desinflacionário.
Política monetária contracionista
O Comitê afirma que manterá a atenção sobre os desdobramentos da política fiscal e seus reflexos sobre a condução da política monetária e o comportamento dos ativos financeiros. “O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, informa o Copom em nota. “Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, acrescenta.
Além disso, segundo o Copom, a decisão de elevar a taxa básica de juros é compatível com a estratégia de convergência da inflação ao redor da meta ao longo do horizonte relevante. Essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O comunicado também trouxe sinais de que o ciclo de aperto monetário pode estar perto de uma pausa. Segundo o Comitê, caso o cenário atual se confirme, a tendência é de interrupção nos próximos encontros, para que sejam avaliados os efeitos defasados das elevações já implementadas.
“Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirma.
Vigilância da taxa de juros
Apesar do possível compasso de espera, o Copom afirma permanecer vigilante e que está preparado para retomar os aumentos, caso considere necessário. “Os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, destaca.
A próxima reunião do Copom está prevista para agosto. Até lá, o mercado seguirá atento à evolução dos dados fiscais, às expectativas inflacionárias e à atividade econômica. A decisão de aumentar os juros foi unânime. Votaram a favor: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.