Se alguém fizesse uma lista do que mudou com impacto da pandemia de Covid-19 no mundo, tenha certeza: não sobraria uma área imune a essa onda de transformações. O setor de recursos humanos é um deles. Por sua própria natureza de lidar com a gestão de pessoas, ele foi um dos mais atingidos por conta das restrições de mobilidade que mudaram a dinâmica de funcionamento das empresas, bem como as novas formas de atuar – para muitos, o home office agora é uma realidade sem data para acabar. Por isso mesmo, ações de contratação que já saiam do tradicional envio de currículo e entrevista pessoalmente e que vinham sendo testadas de modo beta por algumas empresas dentro e fora do Brasil (mais no exterior, na verdade) ganham destaque por estarem afinadas com os atuais tempos em que vivemos.
Um exemplo disso é o Open Hiring. “Trata-se de um modelo de recrutamento que tem como objetivo possibilitar contratações que não levam em consideração o histórico dos candidatos que estão sendo entrevistados”, explica Bruno Souza, Gerente de Recrutamento da Robert Half, uma das empresas líderes no mundo em recrutamento especializado e eleita, em 2020 para estar na lista da revista “Fortune” das Empresas Mais Admiradas do Mundo.
“O recrutamento remoto ampliou o leque geográfico de opções de candidatos, tornou o processo mais ágil, permitiu entrevistas mais profissionais para cada processo e ainda facilitou a redução de etapas”, acrescenta Bruno. Empresas como a gigante de cosméticos The Body Shop, que pertence agora à Natura, já praticam esse tipo de seleção.
Quer saber mais sobre esse atual momento no campo dos recursos humanos e como fazer para adotar o Open Hiring? Acompanhe:
Mas afinal, o que é o Open Hiring?
A principal característica desse modelo de contratação é não levar em consideração o histórico dos candidatos que estão sendo entrevistados. “Dessa forma, candidatos que em um modelo tradicional poderiam ser excluídos do processo seletivo por falta de experiências profissionais, por exemplo, ganham novas oportunidades”, explica Bruno Souza.
“Além disso, por não impor barreiras ou filtros sobre formação ou histórico profissional, acaba ampliando os possíveis candidatos, tornando o processo por si só mais diverso, especialmente para posições de entrada em que o profissional pode ser treinado para a função.” Ou seja, desta maneira, a finalidade da contratação está muito mais antenada com o que pede os novos tempos: inclusão, diversidade, criatividade e experiências diferentes para se somarem ao todo das empresas.
Mudanças trazidas pela pandemia
Para o expert, que comandou uma pesquisa justamente falando sobre meios de contratação em plena pandemia, o cenário que temos agora – de adaptação e busca de outros formatos – veio para ficar. “Durante o mês de novembro de 2020, realizamos uma sondagem com base na percepção de 1.161 profissionais brasileiros para a elaboração da 14ª edição do Índice de Confiança feito pela Robert Half. Identificamos que, para 90% dos recrutadores entrevistados, a pandemia representou uma quebra no modelo tradicional de recrutamento e seleção e por conta da necessidade de distanciamento social, o recrutamento remoto tornou-se realidade”, ressalta ele.
“Aliás, na percepção de 92% dos profissionais, com o fim da pandemia, os processos se manterão de forma híbrida, mesclando etapas presenciais e virtuais.” A hora de apostar e testar é agora.
Busca por diversidade e inclusão
Usar o Open Hiring ou a Seleção às cegas são maneiras de quebrar um pouco um ciclo de contratações que, no Brasil, principalmente, acaba privilegiando o mesmo tipo de candidato – pessoas brancas, que têm condição financeira de razoável à muito boa, que estudaram em faculdades de renome, etc. E isso é tudo que o momento pede, como explica o Bruno Souza.
“Com esses processos, o principal objetivo é manter o foco nas competências do candidato, eliminando julgamentos precipitados no momento da avaliação”, destaca ele. “É importante ter em mente que nem sempre o candidato mais competente em termos técnicos, com certificações e experiência de trabalho, é o candidato ideal para determinada vaga. Afinal, critérios comportamentais, como habilidade de comunicação, facilidade de trabalhar em equipe, sinergia com a cultura da empresa, etc, também precisam ser avaliados. Dessa forma, as empresas serão capazes de formar times mais diversos e talentosos”, enfatiza.
Valorização das soft skills
Muitos especialistas têm reforçado a importância das visões diferentes vindas de experiências de vida diversas, bem como de fatores mais “subjetivos” na hora da contratação, como habilidade de comunicação ou criatividade.
Se você ainda duvidava desses elementos como necessários no atual momento pós-chegada da pandemia, Bruno Souza reforça essa ideia: “A pandemia acelerou um processo que já estava em andamento há alguns anos, que é o de valorização das habilidades comportamentais, ou ‘soft skills’. Esse conjunto de habilidades, que vão além dos fatores técnicos, será cada vez mais demandado no mercado de trabalho, inclusive no período pós-pandemia”, diz ele. “As ‘soft skills’ mais valorizadas no momento são pensamento estratégico, comunicação, agilidade, inovação e adaptabilidade”, acrescenta.
Como adotar o Open Hiring?
Você tem uma empresa (não importa muito o tamanho) e quer saber por onde começar? Bruno indica um caminho: “Essa forma de seleção pretende reduzir a desigualdade, mas também traz outras vantagens às empresas. O mais importante, no entanto, é que as organizações que pretendem implementar esse tipo de modelo de contratação estejam maduras com relação ao tema. Não basta apenas a área de Recrutamento e Seleção estar engajada no processo, é fundamental que a cultura da empresa e os líderes estejam preparados para lidar com este tipo de recrutamento”. Sem um incentivo e um entendimento que seja de cima para baixo, não há forma de implementar esse tipo de contratação.
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