A Abecs – Associação Brasil das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços anunciou nesta quarta-feira (27) o lançamento da opção de crediário por meio do cartão de crédito do consumidor. Segundo o presidente da Abecs, Pedro Coutinho, a nova opção de financiamento permite parcelamentos mais longos ao consumidor – até 36 vezes – e, ao mesmo tempo, faz o repasse do valor da venda ao lojista em até cinco dias. O cliente vai simular a transação na própria máquina de cartão antes de contratar.
O papel da Abecs, explicou o executivo, foi formatar e padronizar o novo produto. Isso significa que tanto o limite disponível para cada cliente, assim como a taxa de juros praticada serão definidos por cada instituição financeira, que terá seus critérios próprios de avaliação. Um grupo de trabalho formado na Associação foi responsável por estabelecer a padronização operacional da nova modalidade.
“Nosso trabalho foi o de garantir que essa experiência seja padronizada para todas as partes. Qualquer que seja a máquina no balcão, ter o mesmo tipo de experiência, respeitando o mesmo passo a passo, garantindo a escala, a capacidade que o cliente [varejista] possa trocar de fornecedor sem nenhum tipo de interrupção e a capacidade de informar o consumidor final, sem que ele tenha que voltar na loja pra entender’, detalha Vinicius Favarão, diretor do Bradesco Cartões.
Com a padronização, os diferentes terminais apresentam as mesmas etapas e mensagens sobre o processo de parcelamento. Na simulação, o usuário visualiza as informações das opções de parcelamento oferecidas pelo emissor do seu cartão, como a quantidade e o valor das parcelas, a taxa de juros e o custo efetivo total (CET) do financiamento.
Para o varejista, Pedro Coutinho destaca as vantagens de ter maior volume em caixa e maior capital de giro, o recebimento em até cinco dias (quando muitos pagamentos são feitos com prazo de 30), mais uma condição de pagamento para oferecer ao cliente e, com isso, o potencial de aumento de vendas e aumento de competitividade. “Tudo isso deve favorecer no futuro o cadastro positivo”, ressalta. Outro ponto importante: a diferenciação de preço, diz. “Uma vez que a loja recebe em até cinco dias, deveria praticar a diferenciação de preço, beneficiando o consumidor com maior competitividade pro mercado”, completou.
“O objetivo final é o de ampliar participação dos cartões no consumo das famílias, com soluções alternativas e adicionais. Certamente uma das alavancas mais importante para deslanchar o produto nos próximos meses”, afirmou Rodrigo Carneiro, diretor de produtos Rede. Esta semana a Abecs divulgou projeção de que os pagamentos realizados com cartões de crédito, débito e pré-pagos devem crescer em torno de 16% em 2019, chegando ao patamar de R$ 1,8 trilhão. Com isso, as compras com cartões devem registrar, no 4º trimestre de 2019, uma participação recorde de 40% em relação ao volume do consumo das famílias brasileiras. O objetivo do setor é alcançar o patamar de 60% de representatividade no consumo das famílias até 2022.
Como funciona para o varejista
Apesar de ser uma compra parcelada, com o crediário a loja recebe o valor da venda de forma antecipada, em até cinco dias. Essa alternativa reduz custos e amplia a competitividade do varejista, especialmente do pequeno estabelecimento comercial, que geralmente não conta com capital de giro para financiar suas vendas.
“É segurança e praticidade total, muito similar ao que se tem hoje numa operação de cartão de crédito, seja no parcelado ou à vista. É muito prático para o cliente, com a simulação. É uma transação transparente, sem atrito e simples de o cliente entender e ele acompanha na fatura. E é fácil de ofertar pelo lado do estabelecimento”, avalia Rodrigo Carneiro, da Rede.
Outra vantagem é que uma vez que a loja recebe à vista, o consumidor pode ser beneficiado com descontos em relação ao preço a prazo. A prática é válida desde junho de 2017, a partir da edição da Lei 13.455, que autoriza o comércio a cobrar preços diferentes pelo mesmo produto ou serviço em função da forma de pagamento (à vista ou parcelado).
Como funciona para o consumidor
O emissor do cartão deve apresentar ao cliente até três opções de parcelamento, bem como os custos envolvidos na operação. Essas informações são definidas de acordo com a estratégia comercial de cada empresa, além do perfil de risco e relacionamento do cliente. Após escolher a opção que melhor se encaixa em seu orçamento, o consumidor digita a senha, a mesma do cartão, e conclui a transação. “A política de precificação e crédito vai ser de cada participante”, explica Vinícius.
As parcelas do crediário são lançadas nas próximas faturas, conforme a opção contratada. A concessão dessa modalidade está atrelada ao limite de crédito do cartão, que é reestabelecido à medida que as prestações do crediário são quitadas, mas, de acordo com os executivos da Abecs, fica a critério da instituição financeira se ela disponibilizará limites diferenciados para o cartão de crédito e para o crediário, mas, a princípio, estarão atrelados. “É mais uma opção para empoderar o cliente, mas que seja com consciência para que não tenha inadimplência”, destaca Favarão.
As parcelas devem ter um valor mínimo de R$ 10. Por enquanto, é preciso digitar a senha do cartão, não funciona na função contactless. A modalidade já está em operação, mas os executivos lembram que ainda há um período para a adoção por parte dos lojistas, uma vez que envolve tanto mudança de cultura como atualização do terminal POS. O produto está disponível nas bandeiras Visa, Mastercard, Elo e Hipercard e previsto para entrar na Amex em novembro deste ano. Entre as credenciadoras, está em fase de roll out na Cielo, GetNet e Rede e outras em processo de avaliação e implementação, como a Global Payments, que implementará a partir de 2020. Entre os bancos emissoras, o crediário já foi adotado por Bradesco e Itaú; se incia no Banco do Brasil, Santander, Banco Votorantim, Caixa e Carrefour agora em abril e no Porto Seguro em novembro.