A última década tem sido turbulenta para livrarias, editoras, escritores e agentes literários no Brasil. Com grandes livrarias brasileiras em recuperação judicial, somado ao fechamento do comércio na pandemia de coronavírus, o mercado editorial sofre grande ameaça.
Para piorar, há uma tentativa do atual Ministro da Economia Paulo Guedes de finalizar a lei que garante isenção de impostos para livros, jornais e impressos ― fazendo com que a alíquota suba de zero para 12%. Do outro lado da corda, o Senador Randolfe Rodrigues propõe uma PEC para impedir essa tributação sobre a cultura.
Por todos essas intempéries algumas livrarias e editoras têm tentado recorrer a métodos alternativos nos negócios para recuperação de suas vendas. Muitas delas estão de olho nas novas tendências de mercado para conquistar leitores e se manterem relevantes nos negócios.
De acordo com o book advisor Eduardo Villela, a tecnologia estimulou tendências que estão moldando os negócios e a indústria literária em todo o mundo ― e o Brasil deverá seguir a maré.
Confira as tendências do mercado editorial no Brasil segundo Eduardo Villela e Bruno Zolotar, diretor de marketing e vendas da Editora Rocco.
Fim das megastores
O modelo de megastores de livros está com os dias contados, segundo Eduardo Villela. Ele conta que esse fenômeno já está acontecendo em grandes capitais mundiais, como Londres e Nova Iorque, e já começou a esboçar os primeiros passos por aqui ― a crise na Cultura e na Saraiva corroboram com essa tendência.
Segundo o book advisor, o custo de manter espaços gigantescos em shopping centers, com grande número de funcionários e estoque enorme tem um custo de operação astronômico em comparação às lojas digitais. E assim como tem ocorrido com a redução de hipermercados, e a maior aderência dos consumidores aos negócios de bairro, as pequenas livrarias terão um diferencial na experiência dos clientes, que estarão perto de casa e receberão atendimento mais caloroso e dirigido do que a frieza apresentada nas grandes lojas.
Audiolivros
Mais vendidos que os ebooks nos Estados Unidos ― o maior mercado de livros do mundo ― os audiobooks ainda representam apenas 1% das vendas de livros no Brasil. Mas isso tende a mudar com a chegada dos maiores players de livros audíveis por aqui: Audible, da Amazon, e a Apple Store. “Como os podcasts ganharam maior prestígio, o formato de áudio atinge um público que muitas vezes não quer ler, mas ouvir um conteúdo. Acreditamos que no médio prazo ele comece a decolar, assim como aconteceu com o livro digital”, conta Bruno Zolotar, Diretor de marketing e vendas da Editora Rocco.
Os audiobooks também ganham mais força com o crescente acesso da população aos smartphones e à internet 4G.
Clubes de assinaturas
De três anos pra cá os clubes de assinatura começaram a surgir e se expandiram rapidamente. Há clubes de assinatura de praticamente tudo, e os livros não ficaram para trás.
De acordo com Villela, essa não é uma coisa nova para o mercado editorial: a prática já existe desde a década de 70, mas tem ganhado força entre leitores. Segundo o especialista, além da conveniência de receber os livros casa, os clubes têm como vantagem as curadorias, que muitas vezes são baseadas em parcerias com grandes escritores. E os leitores gostam da ideia de que autores consagrados façam sugestão de leituras todos os meses. “É uma praticidade que encanta; uma tendência do passado que está voltando.”
Crowdfunding
Muitas das livrarias e editoras independentes estão tendo que recorrer ao crowdfunding (ou ou financiamento coletivo, em português) para sobreviver. Villela conta que as campanhas de financiamento funcionam como uma pré-venda, em que os autores mobilizam fãs e pessoas interessadas em seus projetos, e assim captam o dinheiro necessário para a publicação de seus originais.
Recentemente a plataforma de crowdfunding Catarse lançou a campanha +Livros para levantar fundos para a comunidade editorial independente. Quase R$ 500 mil foram arrecadados e direcionados para 90 beneficiários, com brindes para os apoiadores.
Programações virtuais
Outra coisa que mudou com a pandemia foram as tradicionais sessões de autógrafos de livros e feiras e eventos literários. Agora, essas atividades foram totalmente substituídas por bate-papos online e lives de autores – mesma tendência seguida por artistas de outras áreas, como músicos. “Os leitores sentem falta do contato com seus autores favoritos, então o engajamento tem sido alto e essa tendência deve permanecer.”
O que as pessoas estão lendo na pandemia?
Um aspecto que nos chamou a atenção da Editora Rocco nesses meses de pandemia foi a procura consistente dos leitores por livros mais antigos e mais clássicos.
Bruno Zolotar conta que, por exemplo, o Mulheres que Correm com Lobos (livro lançado há mais de duas décadas pela Rocco) teve vendas altíssimas e durante as últimas semanas, chegando a ser o livro mais vendido do país, segundo a Nielsen – que audita o mercado.
O diretor de marketing e vendas da editora também comenta que, apesar de toda a polêmica envolvendo a autora J. K. Rowling, houve um novo boom de vendas de Harry Potter durante os últimos meses. “Um novo público “maratonou” a série de livros e tivemos vários da série de volta às listas dos mais vendidos, o que não acontecia há anos”, pontua.
+ Notícias
Pandemia tem efeito catastrófico em livrarias do Brasil, apontam especialistas
Top 5: Livros essenciais para construir um ambiente de trabalho antirracista
CEOs de grandes empresas revelam seus livros favoritos