Não é novidade dizer que a pandemia foi causadora de muitas mudanças nos hábitos do consumidor brasileiro. É de se notar, por exemplo, que o consumo ficou muito mais voltado para o digital — consequência direta do isolamento — e de forma ágil, dada a exigência desse novo cliente criado durante a quarentena. Mas o que impressiona em todo esse processo, além da modernização e adaptação às plataformas online de compras e vendas, é a importância que o consumidor passou a dar para sustentabilidade e a responsabilidade social envolvida em seu consumo.
Essa exigência latente de saber a procedência de toda a cadeira de produção e dos processos internos de quem fornece o produto ou serviço fez com que as empresas se atentassem ainda mais à agenda ESG (Environment, Social and Governance – Meio Ambiente, Sociedade e Governança), com foco em uma verdadeira transformação, é verdade, mas também com olhos atentos às preferências das pessoas.
O foco na estratégia sustentável e na responsabilidade foi tema do painel “A agenda ESG na visão de quem realmente importa: o consumidor”, do Conarec 2021, que ocorre nos dias 10 e 11 de novembro. O debate contou com a presença de João Zeni, diretor de Sustentabilidade na Electrolux para a América Latina, e Hélio Muniz, CCO & ESG da Via, e teve mediação de Felipe Mendes, gerente geral para a América Latina da GfK.
Mais do que nunca, empresas de todos os portes percebem a necessidade de se atentar aos brasileiros, uma vez que são eles, diante do resto do mundo, um dos países que mais apresentam taxas elevadas de economia sustentável. “No Brasil, 81% dos consumidores declararam economizar água dentro de casa, sendo que a média global é de 69%. Quando falamos de economizar energia, 82% dos brasileiros o fazem contra 71% na média global. A combinação da possibilidade de economia com a sustentabilidade acaba sendo muito grande”, explica Felipe Mendes.
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Mais do que a mudar a cadeia de produção: é preciso transformar a cultura
Para as empresas, o ESG hoje já transgrede a fase do mero aviso de reciclagem. Mais do que nunca, os consumidores seguem atentos às ações das corporações como um todo: seu impacto no meio ambiente e na sociedade, seus esforços para contribuir para o planeta, seus processos internos de produção, suas escolhas para composição do quadro de funcionários. É um momento delicado que demanda um planejamento bem embasado.
No fim, o consumidor já tem em mente que apenas uma ação em prol do planeta não é o suficiente. É necessário transformar toda a cadeia e as empresas já notam isso. “O ESG vai muito além da pegada de carbono, proteger a Amazônia ou mesmo doar dinheiro, é realmente um pensamento completo, uma estratégia”, aponta Felipe Mendes.
Ainda que as empresas se esforcem para manter a sustentabilidade dentro de seus ambientes, é necessário ir além do que tocam os olhos. Para João Zeni, mais do que pensar dentro da corporação, é preciso pensar na forma como o consumidor vê o consumo sustentável e como as marcas se relacionam com isso. “Algo que pensamos é que essa estratégia sustentável não pode parar só dentro da empresa, não é só uma questão de ser eco na Electrolux, mas sim de reduzir o consumo de energia inclusive com os nossos aparelhos, por meio do uso dos consumidores. Temos um projeto de reduzir em 25% as emissões de CO2 do uso dos nossos produtos, é um dos compromissos públicos da companhia”, comenta o executivo.
Essa necessidade de ir além também está muito relacionada a todos os processos que envolvem os produtos, desde sua chegada ao mercado até o destino final, na casa do consumidor. Para além de repensar apenas a cadeia de produção, é necessário também pensar no transporte, algo que a Via já tem feito ao longo dos últimos anos. “Por aqui, algumas distribuições não são mais feitas por caminhão, o que reduz a pegada de carbono, uma vez que não tem queima de diesel. A depender da entrega e do produto, temos buscado alternativas mais sustentáveis, como a bicicleta, entre outros, o que também contribui com a mobilidade urbana”, ressalta Hélio Muniz.
Todas essas ações deixam, assim, muito evidentes para o consumidor o que diferencia as empresas de fato sustentáveis e aquelas que usam a sustentabilidade por status. “Começamos a ver as empresas trazerem de maneira muito mais forte o ESG como modelo de negócio. Esse é um ponto muito relevante. A gente trabalha a partir desse princípio: não queremos ter uma estratégia de sustentabilidade, queremos ter uma estratégia sustentável”, pontua Zeni.
A tecnologia e a inovação como aliadas da sustentabilidade
Outro ponto de destaque no debate correu a respeito do uso da tecnologia como facilitadora das estratégias sustentáveis. À primeira vista, é compreensível pensar na tecnologia não como aliada, mas como inimiga da ecologia — muito com base na tecnologia aplicada à indústria, que causou uma série de danos ao meio ambiente durante a Revolução Industrial.
Contudo, sem ela, seria basicamente impossível traçar metade das estratégias aplicadas hoje em prol da sustentabilidade. “A grande questão é que o ESG é centrado na inovação e na tecnologia. A briga pela sustentabilidade e toda a estratégia envolve essas duas e sem elas fica difícil de mudar as coisas”, comenta Muniz.
Para além da estratégia, é muitas vezes a inovação e a tecnologia que permitem que ações sustentáveis ocorram. A ver pelos painéis solares, carros elétricos, filtros e embalagens. “Tudo hoje está ligado na relação que eu tenho com a sociedade, na relação que eu tenho com o ambiente em que eu vivo. E a tecnologia é essencial para essa convivência, é muito importante para a agenda ESG”, conclui o executivo.
No fim, trabalhar a inovação por meio da sustentabilidade tem sido a principal estratégia de diversas startups e cada vez mais empresas se aliam a elas para promover a transformação cultural necessária à agenda ESG. Para o momento, é essencial que as corporações trabalhem seus processos baseados nessa estratégia, posto que, segundo estudo da GfK, dos 57 valores na vida do consumidor, a sustentabilidade já ocupa o 16º lugar — em 2016, o conceito estava posicionado no 27º.
“O que percebemos é que a sustentabilidade saiu da mesa da diretoria das empresas e chegou à mesa de jantar mundo afora. Antes, era um assunto que víamos mais focados dentro das salas executivas, debates entre diretores e destores. Mas isso, agora, já está na boca e preocupação da população geral”, finaliza Mendes.
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